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A IGREJA ROMANA COMO SINAL DO FIM

Imagem de PIRO por Pixabay

Parte 1

A Igreja Católica Apostólica Romana é, inegavelmente, a maior das organizações religiosas do planeta. Dos cerca de 2,1 bilhões de cristãos em todo o mundo, cerca de 1,3 bilhões pertenceriam a esta organização.

Verdade é que boa parte deste número é formada dos chamados “católicos não praticantes”, ou seja, pessoas que, embora, assim que nascidas, na maior parte dos casos, tenham sido batizadas e se tornado membros daquela organização, não têm a sua vida relacionada às práticas religiosas romanistas.

No Brasil, por exemplo, o número de católicos praticantes seria de por volta de 5% da população, enquanto que os que se dizem católicos no país representariam 49,9% dos brasileiros.

Embora a Igreja Romana se diga fundada por Jesus Cristo, temos que se trata de uma organização religiosa que se originou no seio da Igreja fundada por Nosso Senhor.

O próprio Credo Niceno-Constantinopolitano, que é recitado em todas as missas católicas, diz que a Igreja fundada pelo Senhor Jesus é “uma só”, “santa, católica e apostólica”[1].

Assim, por primeiro, temos que a Igreja é um só organismo, pois as Escrituras dizem ser ela “o corpo de Cristo” (I Co.12:27), onde “há um só corpo e um só Espírito, com chamados em uma só esperança de vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos” (Ef.4:4-6).

Em sendo assim, sendo um corpo, é um organismo, pois, como se sabe, “organismo é qualquer corpo constituído por órgãos, organelas ou outras estruturas que interagem fisiologicamente, executando os diversos processos necessários à vida.”.

O que caracteriza, pois, um organismo é a existência de órgãos vivos, que, interagindo, demonstram ter vida, mediante o crescimento. É exatamente este o caso da Igreja fundada por Jesus Cristo que, como afirma o apóstolo Paulo, tem “todo o corpo bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Ef.4:16).

Diferente coisa é a organização, que é “composição, estrutura regular das partes que constituem um ser vivo”, ou seja, algo que é composto, que dá sustentáculo a um organismo.

A Igreja, surgida como um organismo, logo teve de também se tornar uma organização, para que pudesse executar as suas tarefas, como fica claro, por exemplo, quando os apóstolos criaram o diaconato para que se pudesse atender a ação social (Cf. At.6:1-6).

Embora o organismo fosse único, o fato é que pode haver várias organizações e isto não retira a unidade da Igreja.

Os próprios católicos romanos dizem que a Igreja é “santa”, ou seja, separada do pecado, de modo que os seus integrantes não vivem na prática do pecado, embora, por serem humanos, pequem.

O apóstolo João disse que “quem pratica o pecado é do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio (…). Qualquer que é nascido de Deus não vive na prática do pecado, porque a sua semente permanece nele e não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (I Jo.3:8,9).

Assim, para pertencer ao organismo que é a Igreja, não se pode viver na prática do pecado, nem se defender tal prática.

São eles também que dizem que a Igreja é “católica”, ou seja, “universal”, formada por pessoas de toda tribo, língua, povo e nação, que têm em comum o fato de terem sido comprados por Jesus para Deus (Ap.5:9).

E, por fim, afirmam que é “apostólica”, porque é uma Igreja que têm como fundamentos os apóstolos e sua doutrina, tendo como principal pedra de esquina Jesus Cristo (At.2:42; Ef.2:20).

No entanto, esta mesma Igreja diz ser “romana”, o que a distingue, portanto, da própria Igreja que seus seguidores declaram no mencionado Credo.

Os católicos dizem-se romanos porque estariam sob o comando do “Romano Pontífice”, do “Bispo de Roma”, que seria o “Sucessor de Pedro”, o “Vigário de Cristo”, o “Pastor Universal da Igreja”.

Segundo o romanismo, Jesus teria constituído o apóstolo Pedro como “cabeça visível da Igreja”, como Seu “vigário” sobre a face da Terra. Seria ele, então, o “Papa” e não há possibilidade de se pertencer à Igreja, corpo de Cristo, se não se estiver em comunhão com este homem.

Ainda segundo os romanistas, quando Pedro morreu, estava ele na direção da igreja de Roma, era o bispo de Roma, de modo que os seus sucessores nesta igreja também recebem a qualidade de “Papa”.

Dizem os romanistas que, quando Jesus instituiu a Igreja, pôs a Pedro como “a pedra” sobre a qual a Igreja seria edificada, baseando-se, para tanto, em Mt.16:18, bem como dizendo que a Pedro foi dada a tarefa de “confirmar os seus irmãos”, com base em Lc.22:32, como também o poder de ligar e desligar as coisas com os céus, com base em Mt.16:19.

Entretanto, a pedra em que a Igreja está edificada é o próprio Jesus. Em Mt.16:18, Jesus Se refere a Si mesmo como a pedra, como se verifica do uso do pronome “esta” e nos revela o próprio Pedro, ao Se dirigir a Cristo como “a pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa” (I Pe.2:4).

Não há qualquer passagem bíblica que indique uma submissão dos apóstolos ou dos cristãos a Pedro, a quem, indubitavelmente, por ter sido aquele a quem o Pai revelou que Cristo era o Filho do Deus vivo, foi dada a graça de abrir a porta do Evangelho tanto a judeus, no dia de Pentecostes (At.2:11-41), quanto aos gentios na casa de Cornélio (At.10).

A alegação que se atribuiu a Pedro, com exclusividade, a “confirmação dos irmãos”, com base em Lc.22:32, não tem qualquer respaldo.

A afirmação de Jesus está relacionada ao aviso que deu a Pedro de que ele o negaria três vezes antes que o galo cantasse (Lc.22:34). Pedro era o mais enfático dos apóstolos a contrariar Jesus quando Este disse que seria abandonado pelos discípulos.

Ora, ao dizer que Pedro ainda precisava se converter, Jesus disse que, quando ele o fizesse, deveria confirmar os irmãos, ou seja, tendo tido a experiência de fracasso espiritual, deveria sempre trabalhar para que os irmãos tivessem firmeza espiritual.

O próprio Jesus disse que havia orado por Pedro para que Satanás não o cirandasse como trigo (Lc.22:31,32) e, portanto, esta tarefa que mandava o apóstolo fazer não lhe era exclusiva, mas algo que deveriam fazer todos os que deveriam apascentar o rebanho do Senhor.

Tanto assim é que Pedro, ao se dirigir aos presbíteros, em sua primeira epístola, deveriam cuidar do rebanho do Senhor, servindo-lhes de exemplo (I Pe.5:2,3).

É uma tarefa cometida a todo ministro, tanto que o Senhor Jesus manda o pastor de Sardes igualmente confirmar “o restante que estava para morrer” (Ap.3:2), algo que, por meio do profeta Ezequiel, Deus já exigira dos pastores de Israel, a Quem censurou precisamente porque não tinham apascentado as Suas ovelhas, não fortalecendo a fraca, não curando a doente, não ligando a quebrada, não tornando a trazer a desgarrada nem buscando a perdida (Ez.34:3,4).

Trata-se, portanto, de indevida inferência a respeito de uma superioridade dada a Pedro sobre os demais apóstolos. Aliás, esta suposta superioridade parece desmentida tanto quando a igreja de Jerusalém exige explicações de Pedro pelo fato de ter pregado o Evangelho na casa de Cornélio (At.11-18), tanto quando, no concílio de Jerusalém, onde as circunstâncias indicam que não foi Pedro quem presidiu a reunião (At.15).

Não há, também, qualquer evidência bíblica de que Pedro tenha estado em Roma, muito menos dirigido aquela igreja, mas, bem ao contrário, existem indicadores que isto não se deu, seja porque Paulo não menciona Pedro na longa lista de saudações que fez ao escrever a carta aos romanos (Rm.16), seja porque Pedro diz estar em Babilônia quando escreveu uma de suas cartas (I Pe.5:13).

Por fim, pelo fato de Paulo ter afirmado que o chamado de Pedro era para evangelizar os judeus, enquanto ele, Paulo, era chamado aos gentios, tem-se que também não há indicador nas Escrituras de que o ministério de Pedro teria um caráter “universal” de liderança, que daria a Pedro a suposta qualidade de Papa (Gl.2:7,8).

Ao se declarar “romana”, portanto, esta organização já se distingue da Igreja e, portanto, não podemos considerar que se trate da mesma instituição criada por Cristo, mas uma organização surgida entre os cristãos e que quer justificar a sua condição de portadora do organismo que é a Igreja fundada por Jesus numa suposta liderança que teria sido dada a Pedro, supostamente bispo de Roma.

De pronto, pois, já vemos que esta organização não se confunde com a Igreja fundada por Jesus.

Mas, se assim é, porque tem ela relevância bíblica? É o que veremos na sequência deste artigo.


[1] “… Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica.…”

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo