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A importância da cultura no processo de evangelização

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O trabalho missionário da igreja de Cristo é regado a muitos desafios e superações. A igreja enfrenta, desde seu surgimento, perseguições, censura e forte oposição; mas isso nunca a parou e, como promessa, nunca a destruirá.

Ao falarmos de missões transculturais, já acrescentamos o termo cultura; assim é de suma importância que tenhamos um melhor entendimento do significado da palavra e sua apropriação social.

Epistemologicamente, a concepção de cultura passa por transformação de seu significado. O conceito de que nos “envolvemos” diretamente é a apresentação de um conjunto de atitudes (regras, ações) e costumes que determinado grupo cria em uma unidade (que determina a identidade ou identificação de um grupo).

Tal concepção de cultura tem um papel importante na construção das identidades coletivas. E aqui começam os desafios para o campo missionário, não somente pela distância geográfica, mas pela formação cultural e o senso de unidade que cada povo possui.

Há costumes e conceitos locais de quaisquer grupos ou sociedade existente no mundo que são um dos maiores desafios a serem superados no processo de evangelização. A graça divina, estratégia e persistência são fatores determinantes no trabalho missionário. Perceba que devemos nos preocupar com o mensageiro, mas orar pelo receptor da mensagem.

A fim de suprir as novas demandas que surgem nas ramificações religiosas e culturais, estudos seculares apontam que essa é uma etapa do processo de constante transformação das sociedades e novamente… Cultura.

Há barreiras linguísticas, monetárias e políticas, mas nenhuma dessas pode transcender a vontade de Deus que usa seus filhos para pregar sua Palavra. Como não nos lembrarmos do eunuco etíope que Filipe lhe pregou a Palavra e naquele momento foi salvo?

E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus (At 8.34,35).

É bem verdade que a popularização das redes sociais e internet pode ser um agente no trabalho missionário, mas dentro das diversas culturas ainda há grupos que não acessam essas ferramentas com facilidade, o que torna ainda mais necessária a inclusão desses povos em nossas orações e no plano de evangelização.

Ainda sobre o missionário e a cultura do local que ele foi enviado, podemos exemplificar os povos andinos, que possuem uma raiz indígena; porém, com o processo de colonização espanhola, acabam inserindo também os elementos do catolicismo em sua cultura.

Há movimentos de preservação da origem dos povos e sua religião que apresenta o planeta Terra como “Pachamama” e demais contos e ritos para fortalecimento cultural e religioso. Entenda que o desafio aqui não é somente o religioso, mas no cotidiano e das práticas das comunidades que receberem o missionário.

E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estoicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição (At 17.16-18).

Os bolivianos possuem uma lenda antiga sobre Tupaete e Aguara-tumpa, que retrata o bem e o mal, a criação e a destruição. Essa lenda retrata a força que a cultura e a conexão possuem com a Natureza. É preciso muito cuidado ao atravessar os caminhos da cultura e do cotidiano para evangelização, algo tão ligado ao imaginário e até mesmo ao estilo de vida das pessoas, que requer oração e estratégia do alto.

Estes povos não veem com facilidade a “ocidentalidade” como uma “coisa” única; há uma mistura entre a santa, que recebe um cortejo anual, e a pachamama (termo quéchua, idioma originário dos povos andinos) a “mãe terra”, uma divindade que traz consigo o conceito de fertilidade, vida e harmonia, revelando uma cultura híbrida, que Bauman descreve como:

[…] A cultura híbrida é uma manifestação onívora – não-comprometida, não-exigente, não-preconceituosa, pronta e ávida por saborear qualquer coisa que esteja sendo oferecida e a ingerir e digerir a comida de todas as cozinhas. (Bauman 2007, p.46)

A cultura dos povos não é um impeditivo para a evangelização, mas um elemento que precisa ser estudado e compreendido; assim, a Palavra de Deus será pregada, o plano de salvação do Senhor se cumprirá, não importa a diferença cultural.

Cabe a nós nos prepararmos e auxiliarmos nossos missionários para as adversidades que o mundo apresenta, mas estejamos convictos que o Evangelho será anunciado e o nome do Senhor será glorificado em todas as nações.

Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor, e glorificarão o teu nome (Sl 86.9).

Naline Thâmara

Naline Thâmara é Licenciada e Bacharel em Geografia pela PUC- SP. Mestre em Ciência e Tecnologia Nuclear na USP e Escritora. Membro da Assembléia de Deus, min. Belém-Setor 34 Pinheiros/SP, casada com Pb. Jefté Filho, e colaboradora da Escola Bíblica Dominical como professora da classe das irmãs.