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A Venezuela E A Pandemia

“A pandemia pelo covid-19 caiu como um anel no dedo do governo; ele precisa do povo tranquilo, quieto”.

Se existe país na América do Sul que não precisava de mais uma crise, esse país é a Venezuela. Desde quando Hugo Chaves ascendeu ao poder em 1999 a nação entrou por caminhos turvos. Após ficar gravemente doente em 2012, sua ideologia de governo permaneceu mesmo quando foi substituído por Nicolás Maduro, atual presidente. Nos últimos 10 anos a crise política e econômica tornou-se acentuada, e o país entrou em forte recessão. Considerada ex-potência petrolífera o país ainda dispõe de muito petróleo, mas seu povo não tem gasolina, gás, falta energia elétrica, trabalho e informação. Antes da pandemia de covid-19, a população já sofria surtos de doenças erradicadas. Outro problema são os alimentos de procedência duvidosa.

Sem gasolina, o transporte público foi obrigado a parar. O transporte alternativo, como taxi e motoristas de aplicativo mantem seus veículos na garagem. Para exercer o direito de ir e vir venezuelanos que dispõe de cavalos, tem usado seus animais como meio de transporte. As usinas petrolíferas estão sucateadas e não produzem mais em grande escala para atender a demanda que o país necessita. Trata-se de um país petroleiro que não consegue suprir a si próprio.

Um homem, missionário que atua no oeste do país, informou que no dia 13 de março o país estava prestes a explodir em protestos devido a falta de combustível e ao preço inflacionado do produto que custava entre US$ 2 e US$ 3 dólares. Estrategicamente, o governo decretou quarentena em sete estados e após 48 horas, a medida foi adotada para todo o país.

Doenças como chagas, sarampo, difteria, coqueluche, tuberculose, escabiose (sarna), malária, entre outras que haviam sido erradicadas ou controladas voltaram a flagelar a população. Esse cenário já estava consolidado antes do início da pandemia de covid-19. Há algum tempo o sistema de saúde venezuelano vem sofrendo com a falta de medicamentos básicos como antibióticos e vacinas. O número de contaminados pela covid-19 no país é incerto. O jornal El Nacional, até 17 de abril, informava 204 casos de infecção e 9 óbitos. A oposição e a comunidade internacional contestam.

De acordo com a informações do portal Estado de Minas fornecidas por Carrie Filipetti, subsecretária de Estado para Cuba e Venezuela no Bureau de Assuntos do Hemisfério Ocidental, o sistema de saúde venezuelano está colapsado. “O país possui apenas 84 leitos em unidades de terapia intensiva para uma população de cerca de 30 milhões de pessoas. Isso significa que, no minuto em que a Venezuela chegar a mais de 1.500 casos, não terá capacidade para lidar com essa crise. Além disso, 44% dos hospitais não têm eletricidade de maneira contínua, 66% não têm água corrente 24 horas, 64% não possuem equipamento de raio-X e 90% não possuem protocolos para tratamento respiratório contra vírus”, ressaltou.

A médica brasileira Daise informou que o governo censura o trabalho de notificação das doenças. “O que preocupa é a não informação do número de contaminados no país. As doenças precisam ser notificadas, informadas e aqui na Venezuela não existe essa notificação obrigatória, porque ao governo não convém atualizá-las, afinal muitas doenças que a muito tempo haviam sido erradicadas voltaram e estão devastando a população, no caso as doenças infecciosas. A situação é muito preocupante,” afirmou Daise que mora no país há 19 anos.

Outro problema que cresce na Venezuela é o aumento de produtos falsificados. Sabão em pó, suco solúvel, produtos de higiene pessoal como shampoo, creme dental e sabonetes. “O sabão em pó da marca Ariel, que é o mais conhecido, ele vem na mesma embalagem, mas o produto não é o mesmo; o suco Tang, vem na embalagem, com a descrição devidamente certa, mas não é o mesmo produto, o sabor não é o mesmo; no caso do sabão, não tem a mesma eficácia. As embalagens são idênticas, mas os produtos são falsificados.” Relata Daise.

A crise desencadeada pelo coronavírus beneficia o governo. “Esta situação da covid-19 caiu como um anel no dedo do governo. Porque ele precisa do povo tranquilo e quieto e a falta da gasolina tem mantido as pessoas em casa, para ele isso é magnífico. O pessoal fica trancado, com seus carros na garagem, inclusive por aqui está tão forte a quarentena que as autoridades fecharam até as fronteiras dos estados e em alguns lugares, o governo proibiu atravessar a pé. Estamos em uma situação delicada se precisarmos sair do país às pressas, não temos como sair em hipótese alguma, então é desafiador, entendeu?” Afirmou a brasileira.