AD Belém SP Colunistas

Abominações na casa do senhor – parte 1

O profeta Ezequiel foi levado para a Babilônia, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, em 16 de março de 598 a.C., na terceira deportação, onde foram levados 10.000 cativos, incluindo o rei de Judá, Joaquim (II Rs.24:10-15; II Cr.36:10).

Ezequiel era de linhagem sacerdotal (Ez.1:3) e começou a ter visões proféticas quando tinha trinta anos de idade, no quinto ano do cativeiro, o que mostra que foi levado cativo quando tinha 25 anos de idade, precisamente a idade em que poderia iniciar o seu ofício sacerdotal.

Treinado para exercer o sacerdócio, Ezequiel era alguém que conhecia muito bem o templo em Jerusalém, havia sido preparado para ali servir ao Senhor, e, portanto, quando lhe foram reveladas abominações naquele lugar sagrado, como vemos no capítulo 8 de seu livro, no sexto ano do seu cativeiro, ele pôde aquilatar bem o desagrado divino para com o povo judaíta e, deste modo, observar como era justa a determinação para a destruição tanto do templo quanto de Jerusalém.

Vivia-se um tempo de apostasia generalizada do povo de Judá e de início da execução do juízo que o Senhor tinha dito iria efetuar desde o término do reinado de Manassés, num período de cerca de 40 anos, conclamando o povo ao arrependimento, mas sem êxito.

Por isso, este período é de singular exemplo para nós, que também estamos a viver um tempo de apostasia espiritual e de início da execução do juízo que o Senhor tem determinado sobre o mundo por ter rejeitado Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o chamado “princípio das dores” (Mt.24:8).

E, como “não há nada novo debaixo do sol” (Cf. Ec.1:9), temos que, infelizmente, estas mesmas abominações se encontram em nossos dias e, por isso, vamos fazer uma breve reflexão para que não venhamos a ser destes que estão a cometê-las, até porque o resultado desta prática, como vemos no capítulo 9 do livro do profeta Ezequiel, é o extermínio, a morte daqueles que tiveram tais atitudes. Que Deus nos guarde!

Ezequiel estava assentado em sua casa juntamente com os anciãos de Judá. De repente, veio sobre o profeta  uma semelhança como aparência de fogo, sendo que, dos lombos para baixo era fogo e dos lombos para baixo aspecto de resplendor, como cor de âmbar. (Ez.8:1,2).

Ezequiel, então, viu como uma mão que tomou pelos cabeços da sua cabeça e lhe levou até Jerusalém em visões de Deus até a entrada da porta do pátio de dentro, que olha para o norte (Ez.8:3).

Ezequiel estava sentado com os anciãos, mas só ele viu a glória de Deus, só a ele veio o Senhor, só ele foi transportado em visões de Deus.

Também, só os que nascem de novo ao crer em Jesus veem o reino de Deus (Jo.3:3), só os que servem a Deus podem ser transportados para Jerusalém, e não a Jerusalém terrestre, para onde foi levado em visão o profeta, mas a Jerusalém celestial, onde para sempre habitaremos com o Senhor.

E, a qualquer instante, temos acesso aos céus, onde o Senhor nos abriu um novo e vivo caminho, podendo chegar à presença do Senhor, ao trono da graça (Hb.4:14-16; 10:19-23).

O profeta foi transportado até a entrada do pátio do templo, do lado de dentro, e, para sua surpresa, a primeira coisa que ali viu foi uma imagem dos ciúmes, que provoca o ciúme de Deus (Ez.8:3).

O local onde o profeta se achou era frequentado por todos os israelitas, era a entrada do templo, onde todos se dirigiam para levarem seus sacrifícios e ofertas ao Senhor, sendo recepcionados pelos sacerdotes a fim de que houvesse os sacrifícios no altar que ficava logo adiante.

Entrava-se no templo com o objetivo de se apresentar diante de Deus, seja por meio da expressão do arrependimento em sacrifício pelos pecados, seja por meio de louvor e gratidão ao Senhor por meio das ofertas e sacrifícios pacíficos.

Para surpresa do profeta, porém, ali foi vista uma “imagem dos ciúmes”, ou seja, um ídolo que estava concorrendo com a adoração ao Senhor, um “concorrente de Deus” (Ez.8:5).

Não se sabe que imagem seria esta exatamente. O rei Manassés cometeu esta desatino (II Rs.21:7; II Cr.33:7), mas não era aquela mesma imagem, pois ela fora destruída por Josias, seu neto (II Rs.23:6), mas alguém repetira esta mesma infâmia, a mostrar que, com razão, o Senhor resolvera desterrar os judaítas, pois eles se mantinham nos mesmos erros aprendidos com Manassés (II Rs.21:9-16; Jr.15:4)

O primeiro mandamento proferido pelo Senhor no monte Sinai foi “Não terás outros deuses diante de Mim” (Ex.20:3; Dt.5:7), um desdobramento do primeiro grande mandamento da lei que é “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mt.22:37).

A presença de uma imagem que provocava o ciúme de Deus era, nas palavras do próprio Senhor, uma abominação. Mas o que é uma “abominação”? É uma coisa detestável, que causa repugnância, que é ofensivo.

Esta imagem ofendia a Deus, pois era uma manifestação nítida e clara de idolatria, e provocava o Seu ciúme, ou seja, a execução por Deus de um juízo.

Ezequiel teve a visita do Senhor e foi levado em visões a Jerusalém, mas, em nossos dias, o Espírito Santo habita conosco, está em nós (Jo.14:17), de tal forma que nós mesmos somos templo do Espírito Santo (I Co.6:19: Ef.2:21,22).

Mas, será que não temos alguma “imagem de ciúmes” em nós? Temos adorado única e exclusivamente ao Senhor ou temos em nós algum “concorrente” em relação ao Senhor?

Amamos realmente a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso pensamento, ou procuramos dividir os nossos interesses, a nossa vida, entre Deus e outras coisas?

Não nos esqueçamos de que esta “imagem de ciúmes” pode ser nós mesmos, o nosso “eu”, que pode, muitas vezes, querer prevalecer em lugar de Deus.

Se não damos exclusividade ao Senhor, se temos uma “imagem de ciúme”, estamos causando a repugnância de Deus, estamos a cometer abominação e, deste modo, estamos chamando para nós mesmos o juízo divino, estamos abrindo mão de nossa salvação. Pensemos nisto!

Ao dizer ao profeta que aquela “imagem de ciúme” era uma abominação, o Senhor ainda disse a Ezequiel que esta atitude fazia com que Deus Se afastasse do Seu santuário (Ez.8:6).

Quando passamos a querer dividir o lugar de Deus, que deve ser exclusivo, com outras coisas, estamos afastando Deus do Seu santuário que, em nossos dias, somos nós mesmos, pois, quando cremos em Jesus como Senhor e Salvador, tornamo-nos casa do Senhor (Hb.3:6).

Entretanto, se a casa deixar de ser casa de Deus para ser casa de outros deuses, não estaremos mais a conservar firme e a glória da esperança até o fim, como diz o escritor aos hebreus, e, por isso mesmo, o Senhor Se afastará de nós, deixando, portanto, a casa “desocupada, varrida e adornada” (Cf.Mt.12:44).

E o que acontece com esta “casa desocupada”?  O Senhor Jesus nos diz que será ela ocupada pelo diabo e seus anjos e o antigo servo de Deus será ainda mais escravizado pelo maligno, praticando atos piores que os que cometia antes de ter um dia alcançado a salvação (Mt.12:43-45; Lc.11:24-26).  Que Deus nos guarde!

* Pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP e colaborador do Portal Escola Dominical (portalebd.org.br).                                                          

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo