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ABOMINAÇÕES NA CASA DO SENHOR – PARTE 2

                        Prosseguindo na análise da visão que teve o profeta Ezequiel do templo de Jerusalém, conforme relato do capítulo 8 do seu livro, dando continuidade ao texto anteriormente publicado, vemos que, depois de ser mostrada ao profeta a imagem de ciúme que fazia com que o Senhor decidisse se afastar do santuário, o Senhor chama o profeta para ver maiores abominações além daquela imagem que havia sido posta na entrada do templo.

                        O Senhor, então, levou o profeta até a porta do átrio e ali havia um buraco na parede (Ez 8.7). Aquele local deveria ser bem conhecido do profeta, pois Ezequiel era sacerdote e sabia que aquela parede era a divisão entre o átrio do templo, acessível a todos os israelitas, e o local onde haviam sido construídos quartos para os sacerdotes.

                        Aquela parede fazia a separação entre o espaço público do templo e uma área que havia se tornado privada dos sacerdotes, onde eles podiam desfrutar da sua intimidade, em que não se encontravam aos olhos do povo.

                        Aquela parede lembra-nos que podemos ter um espaço de intimidade em nossas vidas, particularidades desconhecidas de todos, e é normal que isto exista e o Senhor Jesus, inclusive, faz questão que o tenhamos, tanto que é neste espaço reservado, neste momento em que estamos sós (pois alguém já disse que a intimidade é o instante e local de se ficar só) que devemos nos dedicar a buscar ao Senhor e a construir com Ele uma intimidade (Cf. Mt 6.6).

                        Entretanto, naquela parede havia um buraco e isto mostra que nada se pode esconder de Deus nem tampouco que o que se esconde será sempre mantido oculto aos olhos dos homens. O próprio Cristo disse, certa feita, que “nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se” (Mt 10.26), de modo que, por primeiro, nada é oculto diante de Deus, pois Ele é Onipresente e Onisciente; por segundo, quando o Senhor desejar, revela tudo o que está oculto, notadamente quando isto está relacionado com o Seu povo, com o Seu nome.

                        Há sempre um buraco, nunca o homem poderá ocultar o que faz de Deus nem tampouco dos homens, pois, quando for necessário, o Senhor tratará de mostrar aos Seus o “buraco na parede”, fazendo, assim, com que se descubra o que está oculto, em especial quando isto envolve a hipocrisia daqueles que dizem servi-l’O, como era o caso da visão dada a Ezequiel.

                        Tendo sido mostrado ao profeta o buraco na parede, o Senhor mandou que Ezequiel cavasse nela e o profeta o fez com as próprias mãos, pois não estava com ferramenta alguma, a nos mostrar como é fácil ao Senhor desvelar tudo quanto se mantém escondido.

                        Ao cavar na parede, o profeta encontrou uma porta e o Senhor mandou que fosse ela aberta e já disse a Ezequiel que era para ele entrar e ver as malignas abominações que eles faziam ali (Ez 8.9).

                        Quando o profeta entrou, olhou toda a forma de répteis, animais abomináveis e todos os ídolos da casa de Israel pintados na parede em todo o redor e setenta homens dos anciãos de Israel com Jazanias, filho de Safã, que se achava no meio deles e que, em pé, estavam diante daquelas pinturas com incensário nas mãos e adorando aquelas figuras (Ez 8.10,11).

                         A liderança religiosa de Judá estava completamente comprometida com a idolatria. Adoravam toda a espécie de ídolos, haviam resolvido se dedicar à criatura em vez do Criador, agindo exatamente como os gentios que haviam se rebelado contra Deus (Cf. Rm 1.18-25).

                        As pessoas que haviam sido escolhidas para oferecer sacrifícios a Deus, para serem os intermediadores entre Deus e o Seu povo, estavam, vergonhosamente, às escondidas, adorando pinturas na parede do templo, oferecendo incenso, ou seja, orando a estas divindades que eram fruto da imaginação humana, eram vaidades, coisas inexistentes, mas, ao fazê-lo, estavam, na verdade, invocando demônios, como bem explica o apóstolo Paulo (Cf. 1 Co 10.14-21).

                        Esta circunstância, infelizmente, é existente em nossos dias. Não são poucos os líderes que se encontram comprometidos com os demônios na atualidade. Paulo, mesmo, disse que, nos últimos tempos, apostatariam alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a própria consciência (1 Tm 4.2), tempo em que não sofreriam a sã doutrina, mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas (2 Tm 4.3).

                        Pedro, também, alertou-nos que se introduziriam encobertamente heresias de perdição por falsos mestres e muitos seguiriam as suas dissoluções pelos quais seria blasfemado o caminho da verdade e, por avareza, fariam de nós negócios com palavras fingidas (2 Pe 2.1,2).

                        Judas, por fim, diz que haveria aqueles que seriam manchas em nossas festas de fraternidade, nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outras partes, árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas e desarraigadas (Jd 12).

                        São pessoas que, ocultamente, estão envolvidas com doutrinas espúrias, com a idolatria, com a mentalidade contrária à Palavra de Deus, participando de sociedades secretas, de organizações que estão a adotar princípios e preceitos contrários às Escrituras e ao Cristianismo, que estão, verdadeiramente, a preparar o caminho para o Anticristo, cujo governo é iminente.

                        Aqueles sacerdotes, que eram os mais proeminentes do povo, estavam todos envolvidos com estas abominações, o que deve ter sido uma grande decepção para Ezequiel. Entre eles, o profeta pôde distinguir Jazanias, filho de Safã. As Escrituras não nos dizem quem era este homem, mas, certamente, deveria ser alguém notável na classe sacerdotal e cuja presença ali deve ter decepcionado muito o profeta.

                        Interessante, aliás, ver que “Jazanias” significa “o Senhor ouve”, ou seja, embora os setenta dos anciãos de Israel estivessem ali às escondidas, o Senhor ouvia tudo o que eles diziam, toda a sua invocação àqueles ídolos, uma vez mais a demonstrar a Sua Onipresença e Onisciência. Tanto Deus ouvia e Se desagradava com o que era falado, que tudo estava a revelar ao profeta Ezequiel, “em tempo real”.

                        E o que o Senhor ouvia? O Senhor estava ouvindo a suprema arrogância daqueles homens que diziam: “O Senhor não nos vê, o Senhor abandonou a terra” (Ez 8.12).

                        Esta afirmação daqueles homens revelava a sua incredulidade e a sua cegueira espiritual. Por primeiro, dizer que o Senhor não nos vê era negar a Onipresença divina, era descrer tudo quanto as Escrituras diziam a respeito de Deus.

                        Por segundo, dizer que o Senhor havia abandonado o Seu povo era desconsiderar todas as mensagens que os profetas estavam a dar ao povo, para que eles se arrependessem, em especial, o profeta Jeremias, que, há décadas, estava a trazer mensagens da parte do Senhor.

                        Deus tudo via e não havia abandonado o seu povo. Os sacerdotes idólatras é que estavam cegos espiritualmente e da pior cegueira, pois, como disse Jesus, pior cego é aquele que não quer ver, razão pela qual o pecado nele permanece e acaba se perdendo eternamente (Jo 9.40,41), bem como haviam abandonado a Deus, de forma deliberada, razão pela qual não alcançariam a misericórdia divina.

                        Parecia que era o fim, mas ainda não o era, o Senhor haveria de mostrar ainda mais abominações ao profeta, como haveremos de ver no próximo artigo.

* Pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP e colaborador do Portal Escola Dominical (portalebd.org.br)

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo