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Abominações na casa do Senhor – parte 3

            Prosseguindo o estudo dos capítulos 8 e 9 do livro de Ezequiel em que o Senhor dá ao profeta a visão das abominações que ocorriam no templo em Jerusalém no período final antes da sua destruição, inclusive para justificar o castigo iminente sobre o povo judaísta, o Senhor levou o profeta até a entrada da porta da casa do Senhor, que está da banda do norte.

            Ali, na entrada da casa, onde já se mostrara a imagem dos ciúmes (Ez 8.3), o Senhor mostrou a Ezequiel mulheres assentadas que choravam por Tamuz (Ez 8.14).

            Como se pode verificar, de pronto, as abominações não se limitavam aos sacerdotes, que formavam, podemos assim dizer, a elite religiosa do país e que deveriam fazer a intercessão diante de Deus pelo povo.

            As mulheres, que não tinham qualquer função sacerdotal, também estavam alheias às coisas de Deus, também tinham apostatado da fé.

            Na porta da casa de Deus, indiferentes ao culto, mantinham-se assentadas, ou seja, numa posição confortável, sem intenção de locomoção, de costas para a parte coberta do templo (pois estavam viradas para o norte), chorando por Tamuz.

            Quem era Tamuz? Tamuz era um ídolo babilônico, provavelmente um dos primeiros ídolos a terem surgido em Babilônia, que era o deus da fertilidade e um pastor, que, segundo a lenda, morria e ressuscitava todos os anos, sendo uma figura muito próxima a Baal.

            As mulheres estarem a chorar por Tamuz, ou seja, a provavelmente “lamentar a sua morte” e desejar a sua ressurreição era a mais profunda demonstração de idolatria e isto dentro da casa do Senhor, lembrando que tais cultos da fertilidade muitas vezes eram associados a práticas de orgias sexuais e à prostituição, sendo, pois, elucidativo, que as mulheres ali estivessem.

            Temos aqui uma situação similar a que se encontrava o tabernáculo em Siló, pouco antes de sua destruição, nos dias de Eli, onde também havia farta prostituição promovida pelos próprios filhos do sumo sacerdote, Ofni e Fineias (Cf. 1 Sm 2.22).

            Uma das características da apostasia espiritual é o aumento da prostituição e dos pecados contra o próprio corpo, porquanto a imoralidade sexual é um caminho a mais na depravação da humanidade (Cf. Rm 1.24).

            Não é diferente em nossos dias. Vivemos dias terríveis, em que a imoralidade sexual campeia e domina, inclusive entre os que cristãos se dizem ser. As estatísticas, inclusive, têm demonstrado como a pornografia, por exemplo, tem invadido a vida de muitos servos de Deus, inclusive pastores.

            Tamuz tem encontrado guarida dentro da casa do Senhor e, lamentavelmente, já são muitos os que dão as costas para o Senhor e para a Sua Palavra, preferindo servir à prostituição. Que Deus nos guarde!

            Mas, como se isto fosse pouco, o Senhor ainda disse ao profeta que ele veria ainda maiores abominações e o levou até o átrio interior da casa do Senhor, ou seja, ao local entre o altar de sacrifícios e a parte coberta do templo, “entre o pórtico e o altar”, lugar somente acessível aos sacerdotes (e não nos esqueçamos que Ezequiel era um sacerdote – Ez 1.3), onde então pôde Ezequiel contemplar vinte e cinco homens que, de costas para o templo do Senhor e com o rosto para o oriente, adoravam o sol, voltados para o oriente (Ez 8.16).

            Assim como as mulheres, eles estavam dando as costas para o templo, voltavam-se para o oriente, ou seja, para a entrada do templo, mas estavam adorando o sol.

            Enquanto as mulheres choravam por Tamuz, estes sacerdotes adoravam o sol, em mais uma manifestação de idolatria, deixando de cultuar ao Criador para cultuar uma criatura, revelando, assim, sua completa insensatez espiritual (Cf. Rm 1.23).

            Este culto ao sol e aos astros em geral, diz a tradição judaica, teria sido um dos primeiros fatores que teria levado Abrão a abandonar a idolatria de seus conterrâneos. Abrão teria dito, segundo um midrash (ensinamento baseado nas Escrituras por meio de histórias e interpretações não literais dos doutores da lei): “…digo que o sol é mais venerável do que a terra, porque ilumina o mundo todo com seus raios.

Porém o sol também não chamo de deus, porque sua luz é obscurecida quando chega a escuridão. A lua e as estrelas não chamo ainda de deuses, porque sua luz também se extingue quando passa sua hora de brilhar. Mas ouça o que vou lhe dizer, meu pai, Tera: o Deus que criou todas as coisas, ele é o verdadeiro Deus. Ele tingiu os céus e dourou o sol, e deu esplendor à lua e às estrelas; secou a terra de entre as muitas águas, e colocou o senhor sobre a terra e, quanto a mim, buscou-me a despeito da confusão dos meus pensamentos.…” (OLIVEIRA, Marcello de. Um midrash de Abrão e Terá. Disponível em: http://davarelohim.com.br/web/um-midrash-de-abraao-e-tera/ Acesso em 20 dez. 2021).

            Como se verifica, portanto, aqueles sacerdotes estavam renegando o próprio Abrão, “o primeiro judeu”, renegando a sua própria condição de propriedade peculiar de Deus entre os povos (Cf. Êx 19.5).

            Esse voltar para o oriente e esta adoração ao sol, aliás, também nos faz lembrar de algo que poucos têm falado, mas que é uma triste e dura realidade em nossos dias, que é a infiltração maçônica. Os maçons costumam denominar o lugar onde se reúnem de “Grande Oriente”, que é também o nome que recebem federações e confederações de lojas maçônicas.

            A Maçonaria tem se infiltrado em meio às igrejas cristãs e tal infiltração é uma verdadeira abominação. São os que dão as costas ao templo do Senhor e passaram a se “voltar para o oriente”. Os maçons não adoram o sol, mas, bem ao contrário, adoram o homem, que entendem ser capaz de, sozinho, alcançar a perfeição, repetindo a crença na mentira satânica de que se pode ser igual a Deus, sabendo o bem e o mal, independentemente da ação divina.

            Adorar a criatura em vez do Criador, dar as costas para o Senhor e a Sua Palavra, trocar as promessas divinas pelas imaginações humanas, eis o que faziam aqueles vinte e cinco homens, eis o que fazem muitas lideranças em nossos dias, trazendo filosofias e doutrinas de homens (Is 29.13; Mc 7.7; Tt 1.14) e de demônios (1 Tm 4.1) para por elas se guiar.

            A infiltração maçônica está umbilicalmente relacionada com o predomínio do espírito do Anticristo em meio à chamada Cristandade (Cf. 1 Jo 2.18; 4.3; 2 Jo.7) e é um fato decisivo para o surgimento da religião mundial que dará amparo à adoração ao Anticristo e ao diabo na Grande Tribulação e cujo princípio já estamos contemplando claramente.

            Esta, aliás, é a última e, pelo contexto, a maior de todas as abominações, porque é a que corrompe o próprio culto a Deus, que impede que se adore ao Senhor, pondo em lugar do Criador a criatura, impedindo que as pessoas pudessem ter acesso ao Senhor, como obstáculos que eram aqueles homens entre o pórtico e o altar.

            Depois de terem enchido a terra de violência, o povo judaísta tornava a irritar ao Senhor com as abominações na Sua casa e, ao fazerem isso, numa expressão um tanto quanto enigmática, eles teriam de “chegar o ramo ao seu nariz” (Ez 8.17)

            Matthew Henry, o grande comentarista bíblico, assim explica esta expressão: “…uma expressão proverbial que talvez denote a sua intenção de escarnecer a Deus e o seu menosprezo contra Ele. Eles suspiravam nas cerimônias dele, como os homens fazem quando colocam um ramo em seus narizes. Ou talvez este fosse algum costume usado pelos idólatras em honra aos ídolos a que serviam.…” (Comentário bíblico edição completa – Antigo Testamento: livros proféticos – Isaías até Malaquias. Trad. de Valdemar Kroker, Haroldo Jansen e Degmar Ribas Júnior, p.653).

            Tais abominações, entretanto, não ficaram sem punição e é a punição de tudo isto que o Senhor passará a mostrar ao profeta.

* Pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo e colaborador do Portal Escola Dominical (portalebd.org.br).

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo