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Abominações na casa do senhor – parte 4

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Concluindo esta nossa meditação sobre os capítulos 8 e 9 do livro do profeta Ezequiel, analisando agora propriamente o capítulo 9, vemos que, depois que o Senhor mostrou ao profeta todas as abominações que ocorriam no templo em Jerusalém, revelando tudo o que era feito, inclusive aquilo que ocorria às ocultas, o Senhor, então, revelou a Ezequiel que, em virtude de todas aquelas atitudes, viria o juízo sobre o povo judaísta.

Deus não apenas mostrou ao profeta que via tudo quanto se passava, pois Ele é o Senhor que tudo vê (Gn 16.13,14; Sl 138.11,12; Mt 6.6,18), que tudo observa, como também haveria de tomar providências diante de tal impenitência, pois é Ele, também, o Deus que julga o homem, o Justo Juiz (Gn 18.25; Jr 11.20; 2 Tm 4.8).

Muitos, em nossos dias, acham que podem esconder de Deus o que fazem, a vida hipócrita que estão a viver, esquecendo-se de que nada se pode ocultar do Senhor e que, a Seu tempo, tudo que estiver oculto será devidamente revelado (Mt 10.26; Mc 4.22; Lc 12.2), bem como todos terão de prestar contas diante do Senhor (Hb 4.13), a começar pela casa de Deus (1 Pe 4.17,18).

Por isso, o Senhor gritou com grande voz na presença de Ezequiel, mandando fazer chegar os intendentes da cidade, cada um com as suas armas destruidoras na mão (Ez 9.10).

O Senhor demonstra toda a Sua soberania, pois a Sua condição de juiz decorre de Seu senhorio sobre todas as coisas. Todas as coisas lhe pertencem (Sl 24.1) e, por isso mesmo, temos de prestar contas a Ele de tudo que nos confiou, pois nada é nosso, tudo é d’Ele (1 Cr 29.11-14).

Assim, ante a impenitência do povo judaísta, que, a começar dos superiores até os mais simples do povo se recusavam a obedecer a Deus e cometiam abominações na própria casa do Senhor, chegara o momento do juízo, da aplicação do castigo, da destruição mesma do povo.

Observemos que Deus é bom e d’Ele só vem o bem (Tg 1.17) mas também d’Ele vem o castigo, como reação ao pecado do homem e à recusa em se arrepender (o que é a impenitência).

O Senhor, então, haveria de aplicar o máximo castigo previsto no pacto estabelecido com os israelitas quando eles entraram na Terra Prometida, que seria a perda da Terra e a destruição dos impenitentes (Lv 26.27-32; Dt 28.61-63).

Vieram, então, seis homens a caminho da porta alta, que olha para o norte, cada um com as suas armas destruidoras na mão e, entre eles, um homem vestido de linho, com um tinteiro de escrivão à cinta (Ez 9.2).

Os homens que fariam a destruição eram seis, e sabemos que, na numerologia bíblica, o número seis representa o homem. O castigo divino, as assolações sofridas são decorrentes da ação humana, jamais da ação divina. Deus reage à impenitência humana, o mal advindo da justiça divina tem origem no pecado, na desobediência da humanidade.

Estes homens estavam se dirigindo para uma das portas da cidade de Jerusalém, ou seja, atingiriam toda a cidade, porque Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; 2 Cr 19.7; Jó 34.19; At 10.34).

Entretanto, como dissemos, o castigo é decorrência da impenitência e, portanto, entre aqueles homens que trariam a destruição, apareceu um homem vestido de linho, e o linho é o símbolo da justiça dos santos (Ap 19.8), a fim de que fossem assinalados os que se mantiveram fiéis a Deus mesmo em meio a tantas abominações, o remanescente fiel, pois, como disse o próprio Senhor a Seu amigo Abraão quando este intercedia pelas cidades da planície (Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim), Deus não trata igualmente o justo e o ímpio (Gn 18.25).

Este homem vestido de linho foi convocado para que assinalasse as testas dos homens que suspiravam e gemiam por causa de todas as abominações que se cometiam no meio da cidade (Ez 9.4).

Vemos, assim, que uma característica dos justos, do remanescente fiel que seria poupado da destruição, era que eles suspiravam e gemiam por causa das abominações que eram cometidas.

Temos aqui uma oportunidade de fazermos um autoexame e verificarmos se pertencemos, ou não, ao remanescente fiel do povo de Deus.

Qual é a nossa reação diante das abominações que vemos sendo cometidas no meio da casa de Deus nos dias hodiernos?

Consentimos com tais abominações, seja participando delas, seja nos omitindo e permitindo que elas sejam impunemente cometidas? E aqui impossível não nos lembrarmos da célebre afirmação do pastor batista norte-americano Marthin Luther King Jr. (1929-1968): “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons”.

O apóstolo já nos adverte de que são tão dignos de morte os que cometem os pecados como os que consentem que eles sejam cometidos (Rm 1.32).

Os justos são aqueles que suspiram e gemem ao ver as abominações serem cometidas. Muito provavelmente, não tinham qualquer condição de impedir que elas fossem cometidas, até porque, consoante já tivemos oportunidade de verificar ao analisar as revelações dadas ao profeta, aqueles que deveriam zelar pela observância da lei eram os primeiros a praticar as abominações.

No entanto, mesmo na sua impotência, na sua pouca força social, política e econômica, aquele remanescente fiel não deixava de suspirar e gemer por causa da prática do pecado, de pedir a Deus que agisse e que fizesse cessar aquele estado de coisas.

Assim são os justos deste período de princípio de dores, como nos mostra o próprio Senhor Jesus ao descrever a igreja de Filadélfia, tipo da igreja que será arrebatada, ao afirmar que se trata de uma igreja que tem pouca força, mas que, mesmo assim, guardou e não negou a Sua Palavra (Ap 3.8).

Jamais concordemos com a apostasia espiritual de nossos dias, jamais pratiquemos ou consintamos com a prática das abominações que se estão a fazer na casa do Senhor. Continuemos a confiar em Deus e a suspirar e gemer, e o Espírito Santo estará conosco também nesta atitude (Rm 8.26), pedindo que o Senhor venha fazer cessar este lamentável estado de coisas.

Os seis homens com as armas destruidoras somente poderiam agir depois que os fiéis tivessem suas testas assinaladas, em mais uma demonstração de que a Igreja não passará pela Grande Tribulação, pois Deus não mistura o justo com o ímpio quando aplica um juízo.

Depois que os fiéis foram assinalados, a ordem divina é peremptória: todos os demais deveriam ser exterminados, ninguém deveria ser poupado e toda a cidade foi destruída, todos os impenitentes, mortos (Ez 9.5-7).

Somente o profeta ficou, depois do extermínio, e, sendo, como era, um homem de Deus, Ezequiel não se alegrou com aquela situação, passando ele, então, a interceder pelo povo de Israel, temeroso de que a nação que estava em Canaã fosse completamente destruída (Ez .9.8).

Entretanto, o Senhor respondeu ao profeta de que a maldade tinha sido grandíssima, que a terra havia se enchido de sangue e de perversidade e que o povo, na sua impenitência, tinha dito que o Senhor havia deixado a terra e nada mais estava a ver.

Notamos, portanto, que o povo não mais cria em Deus, não fazia questão de Sua presença e o resultado disto, a consequência disto foi a sua completa destruição. Não haveria compaixão (Ez 9.9,10).

É interessante observar, também, que, além de nada ser feito antes que fossem poupados os fiéis, a glória do Senhor também foi retirada da Sua casa (Ez 9.3).

No momento do juízo, a glória do Senhor sai do templo, que, sem a presença de Deus, nada mais era que um simples edifício.

Assim será a Terra após o arrebatamento da Igreja: um lugar onde haverá o juízo divino, sem a manifestação da glória divina nem tampouco a presença daqueles que são “o sal da terra e a luz do mundo”.

Por isso, amados irmãos, preparemo-nos para que, no momento do Arrebatamento, encontremo-nos com o Senhor nos ares, pois, se está sendo muito difícil viver neste mundo, em meio a tantas abominações, que nos faz suspirar e gemer, que será vivermos num lugar onde o juízo de Deus estará presente e a Sua glória ausente? Onde a destruição será ampla por determinação do Senhor? Que Deus nos guarde!

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo