Entrevistas Missões

Ceifeiros entrevista: Pastor David Botelho

Pastor David Botelho, diretor da Missões Horizontes

Com 68 anos, pastor, missionário, estrategista de missões, editor, idealizador de vários projetos e escritor, David Botelho conta um pouco sobre o campo missionário na pandemia do COVID-19

Para quem ainda não o conhece, gostaria que o senhor desse um resumo de sua trajetória no mundo cristão, seu currículo e sua atuação no campo missionário, e de sua família.

Minha conversão deu-se aos 14 anos de idade e batizei-me aos 16. Fiz o Seminário IBAD (Instituto Bíblico das Assembleias de Deus) em Pindamonhangaba/SP, onde me formei em 1979. Depois de um período de quatro anos em Monte Verde (MG) fui para a Bolívia, onde trabalhei com os índios ayoreos e fundei algumas igrejas e um colégio batista em Puerto Suares. Retornei ao Brasil em 1991 e, em 92, estive no País de Gales para me preparar, a fim de recrutar missionários para serem enviados aos povos menos alcançados e introduzi no Brasil o conceito da janela 10/40, além da Missão Horizontes que já enviou milhares de missionários ao campo e uma editora com mais de 40 títulos publicados, como, por exemplo, o aclamado Intercessão Mundial. Sou casado com Cleonice, tenho três filhos e oito netos.

Pr. David Botelho e sua esposa Cleonice

O senhor tem uma atuação há tempo em missão transcultural. Como a pandemia atingiu os missionários no mundo todo? Houve diferença em cada região do mundo ou no regime de cada país em relação ao COVID-19?

A pandemia afetou tremendamente o número de obreiros no campo missionário, pois muitos voltaram, ao aproveitarem a questão dos voos gratuitos do governo. Nós vemos hoje uma grande influência no envio de obreiros “tradicionais” (não cultuarizados) e muitos dos países muçulmanos e hindus não aceitam, a não ser que sejam engajados na área do empreendorismo, esporte e outros. Precisamos mais do que nunca de obreiros empreendedores; esse é o grande desafio.

Como as finanças foram afetadas? E o que as agências tiveram que fazer para contornar essa situação?

Hoje vemos que, com o aumento excessivo do dólar, ficou mais difícil manter um missionário no campo. Imagine um obreiro na Nova Zelândia, por exemplo, onde o custo mensal é de no mínimo U$ 2.000, o equivalente a quase R$ 12.000,00 por pessoa. Como trabalhamos com parceria, conseguimos uma parte do pagamento das despesas e buscamos outras alternativas para sustentar o obreiro no campo.

Como os missionários estão tratando as relações pessoais (importantes na evangelização) nesses países com o advento do distanciamento social?

Hoje, nesses lugares, o relacionamento faz uma grande diferença, mas a questão do distanciamento social afeta todos os lugares. Um exemplo disso, nós temos regiões mais fechadas que hoje não entram nem os que já ali moravam, e este é um grande desafio que nos é imposto neste momento de pandemia.

Em algum país houve fechamento obrigatório de igrejas, impossibilitando ainda mais a evangelização?

Fechamento de igrejas nós tivemos em diversos lugares, mas a grande evidência é a China, que está fechando muitas igrejas e aumentou a perseguição, porque há receio das autoridades, por conta do grande crescimento da igreja, principalmente não institucional, naquele país.

Como o senhor acha que vai ser a evangelização e a missão no mundo pós-pandemia?

O que a gente vê na evangelização no mundo pós-pandemia é a área de criatividade e inovação, volto a dizer, principalmente na área de empreendedorismo.

Que palavra o senhor deixa para os missionários de campo que estão vivendo sérias restrições devido à pandemia e a falta de recursos?

O que nós informamos aos obreiros no campo, é que eles devem fazer laços de amizade, fator preponderante, pois os amigos é que vão investir cuidado, tempo e até dinheiro, mas que busque também oportunidades, ao morar no país, ou seja, trabalho e ocupação, para que sejam acolhidos de forma mais sustentável.