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Ceifeiros entrevista: Pr. Flauzilino Araujo dos Santos

Nesta entrevista o pastor Flauzilino de Araujo dos Santos responde questões pertinentes a evangelização dos mais ricos e dos mais pobres em nosso país, os quais estão inseridos entre os oito segmentos menos evangelizados no Brasil.

Flauzilino Araujo dos Santos é pastor da Igreja Assembleia de Deus Setor 4 – Santana, Ministério do Belém; é membro do Conselho Diretor da SAT7 Brasil, entidade comprometida com a pregação do Evangelho ao Oriente Médio por meio da TV. É presidente do Operador Nacional do Sistema de Registro de Imóveis Eletrônicos (ONR); foi vice-presidente da Assembleia de Deus Ministério do Belém em Campinas. Pr. Flauzilino é casado com Maria do Carmo Medeiros  Souza e pai de Flauzilino Junior, vice-presidente do Conselho de Educação e Cultura da CGADB.

Ricos e pobres estão entre os oito segmentos menos evangelizados no Brasil. Existe uma estatística a qual revela que há três vezes menos evangélicos entre os mais ricos e os mais pobres do que nos demais segmentos socioeconômicos. Por que as Boas Novas não penetram no coração dos ricos e pobres em nossa sociedade? Há algum motivo especial?

Tive a oportunidade de abordar esse tema na última EBO – Escola Bíblica de Obreiros, realizada pelo Ministério do Belém. Trouxe uma palavra a respeito de relacionamentos saudáveis da igreja com pessoas deficientes, vulneráveis e minorias, as quais, além de indígenas, estrangeiros, notadamente aqueles que foram perseguidos politicamente em seus países e pediram asilo político no Brasil; falei sobre estrangeiros em situação de rua  e da  população de baixa renda que vive abaixo da linha da pobreza e, nesse contexto socioeconômico, são pessoas pouco evangelizadas e precisam ser alcançadas com a mensagem do Evangelho. Conhecer o Evangelho é para todos os povos de todas as raças, tribos e nações; para isso, a igreja foi chamada. Considero muito o que está escrito em Romanos 10.14, onde se lê: “Como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue?” Sabemos que a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus; e parece-me que pelo poder do Evangelho é impossível alguém ouvir e persistir em ouvir e não alcançar a fé suficiente para crer na Palavra de Deus. Sou responsável para levar esse Evangelho a Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da Terra. Então, temos que rever nossos preceitos e métodos, por que como ouvirão se não há quem pregue? Penso que para a gente começar essa nossa conversa, o motivo especial pelo qual as Boas Novas não penetram nos corações dos ricos e dos pobres, em nossa sociedade, é porque não há quem pregue; é o que penso.

A Teologia da Prosperidade, iniciada no Brasil nos anos 1970, tem algo a ver com o cenário que temos hoje, onde ricos e pobres igualmente representam um desafio para a Igreja?

A Teologia da Prosperidade, assim como várias outras doutrinas, em que algumas são mais agressivas, pode ser denominada de doutrina de demônios. Eles não vão definir se as pessoas crerão ou não no Evangelho. A Igreja prega a verdade; então, a mentira ou a pseudoverdade, que já é uma mentira, ela não prevalece contra a verdade; então, penso que a Igreja deve priorizar a evangelização, a pregação do Evangelho. Penso que a Teologia da Libertação, da Prosperidade e tantas outras “logias” que são pseudo teologias, não influenciam, porque a Igreja foi chamada para ser o sal da terra e luz do mundo; por onde ela passar, vai espalhar o bom perfume de Cristo; então, acho que o problema mesmo é a prioridade na evangelização, porque onde Cristo for anunciado, ali as pessoas crerão no Evangelho; então, com todo o respeito, penso que a Teologia da Libertação é apenas uma opinião sujeita a correções pelos mais doutos, mais experientes. Penso que assim como várias outras pseudo doutrinas, que já existiam desde o tempo dos apóstolos, não vão influenciar as pessoas a crerem ou não no Evangelho. É óbvio que, depois de as pessoas ficarem um tempo na militância, atrás desses pregadores da Teologia da Libertação, é claro que isso vai fazer com que fiquem mais ariscas a ouvir o Evangelho; mas quando vejo globalmente, segundo minha ótica em termos gerais, penso que isso não acontece.


Quando falamos de miseráveis, vai além da pobreza. Estamos falando de pessoas que não conseguem comprar alimento para sua sobrevivência, sem moradia fixa e longe dos programas assistenciais do governo, por não possuírem documentos. Levar Jesus é suficiente, ou precisamos agregar algo mais?

A Palavra de Deus orienta-nos a abençoar as pessoas; mas apenas abençoá-las com uma palavra e despedi-las de mãos vazias, isso está na contramão do Evangelho. Tiago foi muito claro nisso no capítulo 2.15, onde descreve que se um irmão ou irmã estiver necessitado de roupa ou passar pela privação de alimento e qualquer dentre nós lhes disser: “Ide em paz”; porém, não lhe der uma ajuda concreta, isso de nada adianta; pelo contrário, isso vai coincidir com o que Jesus falou em Mateus, capítulo 25, quando alguém necessitava de roupa, alimento, remédio, assistência jurídica, um apoio, e, de alguma forma, foi despedido de mãos vazias. Tiago afirma, no capítulo 2.14, de que adianta proclamarmos a fé, se não tivermos obras; acaso essa fé pode salvar? Jesus deu a entender que se alguém tiver duas camisas, deve dar uma para quem não possui uma; se você tem um quilo de arroz para comer, dê a metade para quem nada tem. Este é o verdadeiro cristianismo, o verdadeiro Evangelho ou evangelismo; aquele evangelismo de “olha eu vou orar por você”, isso aí não é o evangelismo que Jesus deixou no Novo Testamento.

Ricos, no Brasil, são aqueles que a soma de todos os membros da família chega a mais ou menos 50 salários-mínimos mensais. Moram condomínios fechados, deslocam-se sempre de carro, e frequentam lugares bem específicos e distantes da massa. Como alcançar esse seleto grupo com a pregação genuína do Evangelho?

Bom, precisamos ter um Evangelho, ou melhor, um evangelismo criativo. Temos de estudar os métodos e as estratégias pelos quais alcançaremos diversas classes de pessoas que não é nada mais nada menos do que levar o Evangelho aonde os pecadores estão perdidos; evidentemente, não estamos minimizando nem propondo a anulação na ação do Espírito Santo, porque seja rico ou pobre, em qualquer época, é o Espírito Santo que vai convencê-lo do seu pecado, justiça e do juízo de Deus; então, esta é a ação da Terceira Pessoa da Trindade; porém, cabe a nós, a nossas igrejas, ao nosso ministério, estudar métodos e estratégias para a evangelização; então, não vamos copiar os métodos das empresas, não devemos usar as estratégias de marketing, mas estudar e utilizar métodos de estratégia obviamente alinhadas com a soberania do Espírito Santo. Mas, para métodos e estratégias que funcionam além da revelação do Espírito Santo, existe ciência a esse respeito; então, vamos desenvolver um planejamento, uma estratégia para alcançar essas pessoas obviamente dentro do agir de Deus; mas, de maneira tal, que tenhamos o mesmo desempenho que teve a Igreja primitiva, que a cada dia crescia em número e aqueles que aceitavam a fé, e muitos sacerdotes, deixavam o Judaísmo para se converterem ao Cristianismo; então, se nós, sinceramente, olharmos para os métodos que Jesus nos deixou, baseados em investimento nas pessoas, seremos bem-sucedidos; não eram estratégias baseadas em rendimentos e em negócios. Seu Método de Evangelismo era focado nas pessoas. Propus à sede do Setor 04, AD Ministério do Belém em Santana, São Paulo, SP, que fizéssemos uma viagem ao túnel do tempo e ficássemos sete dias como a Igreja primitiva; estágio apenas de sete dias;  obviamente, não é fácil viver como a Igreja primitiva, mas sete dias dá para a gente suportar; então, se nós voltarmos aos primórdios, ao modelo que Jesus e os apóstolos praticaram, sem dúvida alguma, tal qual eles, que em um curto espaço de tempo, revolucionaram o mundo, na concepção dos seus críticos de cabeça para baixo, também vamos ter um grande resultado na pregação do Evangelho.

Do seu ponto de vista, como mudar este cenário de modo que o Evangelho chegue ao rico e ao pobre?

Penso no termo investimento em oração, jejum e estratégias financeiras. Acho que a igreja deveria tirar, sei lá, o máximo do seu orçamento para investir no mínimo. Obviamente, temos pastores e missionários para sustentar, templos para construir; mas, no que tange ao investimento financeiro, imagino que precisamos destinar uma relevante quantia de toda a arrecadação da igreja para a evangelização.