Jornal Ceifeiros - Maio 2021

7 VIDAS MARCANTES SBB E xistem muitas maneiras de encarar a Bíblia. Alguns pensam que, assim como outras religiões têm os seus escritos considerados sagrados, a Bíblia seria o livro sagrado dos cristãos. Ou seja, a Bíblia não seria um livro com ensinamentos para todas as pessoas, mas apenas para aquelas que professam a fé cristã. Lembro de um episódio que aconteceu comigo, não faz tanto tempo. Um país da América do Sul estava discutindo a questão do aborto e aprovou em suas leis essa prática. Manifestei, na ocasião, minha desaprovação em relação a essa lei. Um amigo, de outro país, me disse que os cristãos não estavam obrigados a praticar o aborto apenas porque a lei do país o permitia. De certa forma, o que estava dizendo o meu amigo era que o ensinamento da Bíblia valia para os cristãos e não para todas as pessoas. Aquela manifestação me deixou pensativo. O que a Bíblia ensina para a sociedade em geral, além do ensinamento que ela tem para a Igreja? Essa é uma pergunta muito atual. É evidente que, se uma lei permite o que a Palavra de Deus proíbe, os cristãos não irão cumprir aquele dispositivo legal. Mas será que a Bíblia não tem algum ensinamento que deveria ser da humanidade? Quando estudamos a Bíblia, aprendemos que há três tipos de leis ao longo do texto bíblico: a lei civil, no Antigo Testamento, que valia para o povo de Israel; a lei cerimonial, que Deus deu, apontando para a vinda do Messias, Jesus Cristo; e a lei moral, que vale para todas as pessoas em todos os tempos. A lei moral é uma espécie de ensinamento social da Bíblia Sagrada. A lei moral da vida social está resumida na segunda tábua dos Dez Mandamentos. O mandamento de honrar pai e mãe, que tem uma promessa – longa vida sobre a Terra –, estabelece os fundamentos da sociedade. Ninguém pediu para nascer ou determinou seu próprio nascimento. Se estamos no mundo é porque temos pai e mãe. E se não soubermos honrar pai e mãe, que nos geraram, como vamos viver em sociedade? Percebe- se como este mandamento tem um cunho social forte. Aprendemos a viver em sociedade a partir desse princípio bem simples. Assim também, o mandamento “Não matarás” nos ensina a respeitar a vida desde antes do nascimento. É possível pensar uma sociedade de outra maneira, mas não sem consequências práticas. A lei moral estabelece os princípios de uma boa sociedade. Ela não é válida apenas por questões de fé. Por isso, cristãos defendem que os mandamentos bíblicos são válidos para a humanidade. E há muitos não cristãos que concordam com esses princípios a partir de princípios puramente racionais. A Bíblia é um livro que ultrapassa os limites da fé cristã. Não é por acaso que muitos, inclusive não cristãos, a consideram um patrimônio da humanidade. Restringir qualquer ensinamento bíblico como apenas válido para cristãos pode ter efeitos complicados para a vida social das pessoas. Por isso, é bom que, ao ler a Bíblia, além dos ensinamentos de fé, vejamos os ensinamentos que ela nos traz para a vida em sociedade. Alguns assuntos que estão na pauta diária dos noticiários já eram assuntos tratados na Bíblia. Família, aborto, saúde, economia, justiça, governo, ecologia, todos esses temas, e muitos outros, são tratados também na Bíblia. Precisamos aprender a lidar com eles na arena social com desenvoltura, de tal maneira que as pessoas percebam o valor desses ensinamentos para a vida e conheçam a razão da fé que há J ohn Nelson Darby nasceu como filho mais novo de uma família aristocrática irlandesa famosa em 18 de novembro de 1800, na cidade de Londres. Seu pai, Lord John Darby of Leap Castle, era descendente de uma antiga família normanda; sua mãe, que ele já perdeu enquanto ainda bem novo, descendia da conhecida família Vaughan, do País de Gales. O fato de que o famoso general de marinha, Lord Nelson, foi padrinho do pequeno João a pedido dos pais, mostra como essa família era de renome. Enquanto rapaz, John Nelson Darby estudou em Westminster School e, a desejo de seu pai, a partir de 1815, fez faculdade em Trinity College, Dublin, Irlanda. A primeira parte de seus estudos terminou em 1819. Não sabemos algo certo referente aos seus estudos nos anos 1822 a 1825, senão que se ocupava com o pensamento de optar por uma carreira eclesiástica. Seu pai ficou tão indignado com isso a ponto de deserdar o filho. Um tio, porém, deixou-lhe de herança uma considerável fortuna, de sorte que ele durante toda sua vida era independente. Seu alvo foi anunciar novamente o Evangelho em sua simplicidade, pureza e plenitude originais. A sua obra mais conhecida e talvez a mais preciosa foi a “Sinopse dos livros da Bíblia”, na qual John Nelson Darby dá uma panorâmica de toda a Bíblia. Ele igualmente é conhecido como poeta. São muito conhecidos os seus “spirituals songs” (“Hinos Espirituais”) e os muitos hinos no hinário inglês. No ano 1881, no dia 15 de dezembro, escreveu o prefácio para a Bíblia francesa que foi publicada em 1882. No final de janeiro, sua constituição física lhe permitiu cumprir apenas a metade de suas tarefas diárias. Nas últimas semanas, foi recebido e cuidado na casa do irmão Hammond, em Bournemouth. Foi ali que faleceu no dia 29 de abril de 1882. Em uma lápide simples e branca do cemitério de Bournemouth se lê as palavras: “Como um desconhecido e bem-conhecido”. Descansou no Senhor em 29 de abril de 1882 aos 81 anos. Muito tem sido dito sobre Darby, que foi maçom e ocultista, mas tudo isso foi desmentido por estudos feitos sobre sua vida. Através de seus comentários bíblicos, foi popularizado nos Estados Unidos o dispensacionalismo, também contribuído pela Bíblia de referência Scofield (1909), que defende um esquema interpretativo que a história bíblica se define em sete dispensações: Inocência, Consciência, Governo Civil, John Nelson Darby (1800-1882) A Bíblia é um livro apenas para os cristãos? Promessa, Lei, Graça e Reino (Milênio). O dispensacionalismo também faz uma nítida distinção entre Israel e a Igreja, que representam essencialmente dois povos de Deus. Tem um forte apelo na escatologia bíblica. Esses ensinamentos foram amplamente difundidos por Charles Fox Parham, líder do Movimento Pentecostal em Topeka- Kansas, em 1901, e na Rua Azusa, entre 1906-1909. As Assembleias de Deus americanas comprometeram-se com o pré- milenialismo, mas não necessariamente como dispensacionalismo.AsAssembleias de Deus no Brasil, em sua maioria, contêm traços do dispensacionalismo, como vemos na obra editada pela CPAD do autor Nels Lawrence Olson, “O Plano Divino Através dos Séculos”, lançado pela primeira vez em 1943 e publicado até hoje já somando 14 edições. Ele foi fundador da AD em Lavras/MG e inaugurou o programa radiofõnico “Voz das Assembleias de Deus”, no Rio de Janeiro. Ele divide assim as dispensações em seu livro: Inocência, Consciência, Governo Humano, Patriarcal, Lei, Igreja (nova aliança) e Milênio. Bibliografia: ARAÚJO, Isael. Dicionário doMovimento Pentecostal. CPAD, Rio de Janeiro/RJ, 2007. DARBY, John Nelson. Comentário Bíblico do Novo Testamento – Mateus a Apocalipse. Editora DLC – Depósito de Literatura Cristã. São Paulo/SP, 2019. SCOFIELD, C. H. Bíblia de Referência Scofield. Sociedade Bíblica do Brasil. Barueri/SP, 1986. https://www.respondi.com.br/2017/05/ darby-era-macom.html Geisel de Paula em nós. Estudar a Bíblia é algo que precisamos fazer com ânimo renovado, para permanecermos firmes na fé em Jesus Cristo – e, ao mesmo tempo, termos condições de mostrar ao mundo como o Criador dos Céus e da Terra planejou a vida em sociedade. Erní Walter Seibert Diretor Executivo da Sociedade Bíblica do Brasil A SBB Desde 1948, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) tem a missão de “semear a Palavra que transforma vidas”. Trata-se de uma organização beneficente, sem fins lucrativos, assistencial, educativa e cultural. Sua finalidade é divulgar a Bíblia e a sua mensagem, tornando-a relevante para todas as pessoas. Para isso, traduz, produz e distribui a Bíblia — além de incentivar sua leitura e estudo — e desenvolve programas sociais que atendem a populações em situação de risco e vulnerabilidade social.

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