Jornal Ceifeiros - Outubro 2020

7 VIDAS MARCANTES N asceu no dia 08 de outubro de 1901, em São Paulo. Seus pais eram de origem italiana. Era solteiro, pois nunca quis se casar. O primeiro contato de Emílio com o Evangelho foi na Congregação Cristã no Brasil, fundada por italianos. Ali, o futuro escritor evangélico das Assembleias de Deus creu em Jesus Cristo e tornou-se membro da igreja, no dia 22 de abril de 1919; em seguida, foi batizado com o Espírito Santo. Em 1923, quando Gunnar Vingren, em sua primeira viagem missionária a Santa Catarina, passou por São Paulo e pregou no templo da Igreja Congregação Cristã, Emílio e Gunnar tornaram-se amigos. Anos mais tarde, ao transferir-se para a cidade do Rio de Janeiro, passou a frequentar a Assembleia de Deus, na Rua Figueira de Melo, 232, bairro de São Cristóvão, pastoreada pelo missionário Samuel Nystrӧm. Entusiasmado com o calor espiritual dos que ali se reuniam para cultuar a Deus, Emílio Conde transferiu-se de sua denominação e tornou- se membro dessa igreja. Em sua vida acadêmica, principiou- se pelo conhecimento de sua língua, e depois de dominá-la satisfatoriamente, passou ao aprendizado de outras. Aprendeu o inglês e o francês, o que SBB U ma palavra muito difícil de entender na Bíblia é a palavra conhecer. Por causa da influência do pensamento grego clássico em nossa cultura, conhecer significa simplesmente saber, ter consciência de algo. As pessoas aprendem a tabuada e aí dizem que conhecem a tabuada. Quando as pesso-as apren- dem história ou geografia, elas conhecem aqueles conteúdos. Pois na Bíblia a palavra conhecer tem um sentido diferente, mais amplo. Isso se dá porque a Bíblia foi escrita dentro da cultura hebraica onde conhecer tem sentido mais facilitou seu acesso à literatura desses idiomas, tão ricos em livros de inspiração evangélica. Leu boas obras ainda não traduzidas para o português. Foi um perfeito autodidata. Sua curiosidade abrangia vários ramos da cultura humana. “Era amigável ouvi-lo”, disse um de seus admiradores acerca de seu testemunho, “pois ele somava a unção espiritual e ao profundo conhecimento bíblico, uma vasta cultura secular”. Em 1937, o missionário Nils Katberg encontrou-o atuante como intérprete em um restaurante do Rio de Janeiro. A Casa Publicadora das Assembleias de Deus começava a surgir nesse ano. “Irmão Conde, necessitamos de alguém para atender ao expediente da redação de nosso periódico, o Mensageiro da Paz. Sabemos que o irmão reúne em si todas as qualificações necessárias para tal cargo. O irmão aceita ser nosso redator”? Era o amanhecer do ministério do apóstolo da imprensa evangélica pentecostal no Brasil. Daí por diante, por mais de trinta anos, Emílio Conde dedicaria à CPAD seu talento e cultura, sua impressionante capacidadede trabalho, sua mente clara e fecunda. Seu trabalho na imprensa evangélica não foi profissão, mas um sacerdócio. Entre 1946 a 1958, representou oficialmente as Assembleias de Deus do amplo do que o grego clássico. Conhecer no Antigo e no Novo Testamentos Em vários textos bíbli- cos, conhecer não é apenas saber, mas ter a experiência. Assim, em Isaías 47.8, quando o profeta diz: “Não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos”, ele não se refere a um conhecimento intelectual, mas à expe- riência de perder os filhos. Em Gênesis 4.1 diz que Adão conheceu sua mulher Eva e eles tiveram um filho. Conhecer ali é ter uma experiência de marido e mulher, coabitar. Por isso traduções mais modernas em português explicitam isso, porque o termo conhecer da cultura hebraica não é entendido na cultura brasileira como era entendido na cultura hebraica. O sentido de conhecer na língua hebraica tem uma consequência muito impor-tante quando se fala do conhecimento de Deus. Conhecer a Deus não é ter uma experiência intelectual ou uma discussão sobre se Deus existe ou não. Conhecer a Deus é mais do que saber que Deus existe. É aceitar sua aliança, reco- nhecer seus grandes feitos, dar-lhe honra e glória, obedecer aos seus mandamentos. Vemos isso claramente em textos como Salmos 9.11 onde diz “Ó Senhor, aqueles que te conhecem confiam em ti, pois não abandonas os que procuram a tua ajuda”. Conhecer a Deus significa confiar nele e ter uma rela- ção de vida com ele. O mesmo pode ser observado em Salmos 36.11, onde se lê “Estende a tua misericórdia aos que te conhecem, e a tua justiça, aos retos de coração”. Conhecer aqui tem o sentido hebraico de ter um relacionamento de confian- ça e vida. No Novo Testamento este sentido da palavra conhecimento repete-se, porque oNovoTestamento, embora escrito em grego, tem como pano de fundo o pensamento hebraico. A diferença é que, no Novo Testamento, o Messias prometido já estava revelado em Jesus Cristo. Vemos isso em textos como o de Gálatas 4.9, onde diz: “Mas agora que vocês conhecem a Deus, ou melhor, agora que vocês são conhecidos por Deus, como é que estão voltando outra vez aos rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo querem servir como escravos?” Ser conhecidos por Deus é ter recebido a graça salvadora de Deus em Cristo Jesus, ter esse relacionamento com Deus. E conhecer a Deus é estar em relação de fé e obediência com Ele. Não é apenas uma experiência teórica da área do saber, mas uma experiência de vida. Quem conhece a Bíblia? Quero convidar os leitores para, a partir do que vimos até aqui, fazer uma reflexão a respeito do que significa conhecer a Bíblia Sagrada. Uma pessoa pode saber centenas de versículos bíblicos de cor, pode ter profundo conhecimento das línguas originais, pode citar textos bíblicos em muitas ocasiões e, de fato, não conhecer a Bíblia. Saber sem crer e envolver-se com o texto, é a mesma coisa que saber que Deus existe, dizer isso a todos, mas não crer nele e não seguir os seus ensinamentos. Conhecer a Bíblia Sagrada significa estar em relação de vida com ela, fazer dela a base para a nossa existência. Não é um simples saber intelectual. É muito mais que isso. Sem dúvidas, esse conhecimento da Bíblia passa por muito estudo, mas desemboca em fé e vida. Esse conhecimento da Bíblia na vida diária não abandona sua leitura e todo o esforço intelectual no entendimento do texto. Mas ele não para aí. Ele vai adiante para a aplicação do conhecimento adquirido numa vida engajada na fé e no serviço a Deus. Bíblias de Estudo são excelentes ferramentas para aprofundarmos o nosso conhecimento bíbli- co. Mas a nossa oração deve ser sempre no sentido de que Deus nos ensine a não apenas saber o que está escrito, mas a viver de acordo com o que aprendemos. Aí teremos um conhecimento pleno de Deus em nossas vidas. Erní Walter Seibert EMI L IO CONDE ( 1 901 - 1 97 1 ) Brasil nas Conferências Mundiais Pentecostais,quandoesteveemEstocolmo, Londres e Toronto. Foi também durante muitos anos, representante das Assembleias de Deus, não só na diretoria, mas também em comissões da Sociedade Bíblica do Brasil. Empenhou- se a fundo em obter dados para o Movimento Pentecostal no Brasil e no mundo, e como resultado escreveu nove livros e foi comentarista das lições bíblicas dominicais durante três anos. Compôs oito hinos da Harpa Cristã e quatorze versões solos ou em parceria. Participou do coral como cantor, além de organista acordeonista. Em janeiro de 1971, acometido de uma já antiga doença, oriunda de complicações pós-operatórias, internou- se no Hospital Evangélico na Tijuca, Rio de Janeiro. Às 13 horas do dia 05 de janeiro de 1971, Emílio Conde partiu para estar com o Senhor. As rádios Nacional, Tupi e Globo noticiaram, com detalhes, seu falecimento. Em 10 de outubro de 2001, a CPAD fundou a Casa de Letras Emílio Condeemhomenagemaoseumaiorescritor. Fonte: Dicionário do Movimento Pentecostal – Israel de Araújo QUEM DE FATO CONHECE A BÍBLIA? Jornalista, escritor, historiador, compositor, músico, diretor e comentarista da Escola Bíblica Dominical

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