Entrevistas

Entrevista com Dr. Nelson P. da Costa

Entrevista com Dr. Nelson Pereira da Costa, médico pediatra alergo-imunologista, formado pela FMUSP, Mestre em Pediatria e Doutor em Medicina pela UNIFESP.

A pandemia Covid-19, novo coronavírus, infelizmente chegou ao Brasil. O que o senhor tem a dizer inicialmente para que o paulistano mantenha a tranquilidade em meio a este caos?

Sim, chegou ao Brasil e em mais de 160 países do mundo, segundo a OMS, em um período extremamente curto de apenas três meses. Essa informação inicial demonstra que o vírus tem uma enorme capacidade de disseminação humana. A doença é causada por um vírus “o novo coronavírus” que surgiu na cidade de Wuhan na China no final de 2019 e causa sintomas principalmente respiratórios que podem ser na maioria dos casos leves (80%), moderados ou graves no outro restante. Os sintomas principais são febre, tosse persistente e pode causar insuficiência respiratória aguda grave, o que exige tratamento em unidades de terapia intensiva. É difícil manter a tranquilidade diante de tão grande problema de saúde pública. Mas, a possibilidade de diminuir o contágio entre as pessoas, é adotarem-se medidas preventivas de contensão da disseminação do vírus, através do “distanciamento social”; isso é extremamente importante. Neste momento, ficar em casa, a fim de evitar o contato entre as pessoas, ajuda de modo significativo a diminuir a quantidade de infectados ao mesmo tempo; com isso, a epidemia em cada cidade ou comunidade será menor, e isso permite uma melhor assistência aos casos mais graves. A nova etiqueta de cuidados gerais inclui não cumprimentar as pessoas com aperto de mãos, não beijar, não tocar uns nos outros, usar lenço de papel, lavar as mãos com água e sabão com frequência ou usar álcool em gel; tudo isso é muito importante.

Uma vez infectado, o que o paciente deve fazer?

Manter-se em isolamento domiciliar, sob a orientação médica especializada, por um período de 14 dias, e tomar todos os cuidados para evitar o contágio dos demais membros da família. A maioria dos casos evolui bem, mas se o paciente vier a apresentar sintomas respiratórios como falta de ar e dificuldade respiratória, deve procurar atendimento médico de urgência em um dos hospitais de referência em sua cidade.

Como se processa o tratamento para a pessoa infectada?

O tratamento deve ser através de medidas gerais, isto é, garantir uma boa alimentação, ótima hidratação e cuidados de higiene pessoal. O suporte medicamentoso será conforme a necessidade de cada caso; em geral são usados antitérmicos, inalações e suporte hospitalar apenas para os casos mais graves. Ainda não existe disponível um medicamento antiviral específico e eficaz para o novo coronavírus, embora muitas drogas tenham sido testadas e outras ainda estão em processo de avaliação. É um desafio para a medicina moderna, mas se espera em um futuro breve uma nova vacina que seja eficaz e segura.

Desde que os primeiros casos foram confirmados, notícias falsas passaram a circular de forma veloz nas redes sociais. Como, por exemplo, afirmaram que o uso do vinagre pode substituir o álcool em gel. Isso é verdade?

Não é verdade que o vinagre substitua o álcool em gel. As medidas seguras e confiáveis são aquelas emitidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde brasileiro, a Sociedade Brasileira de Infectologia, médicos epidemiologistas e comunidade científica como um todo.

O anti-inflamatório Ibuprofeno é de fato um medicamento que o seu uso pode acelerar a ação do vírus no organismo?

A OMS chegou a recomendar o não uso do Ibuprofeno por suspeita de piora de alguns pacientes com o Convid-19, mas logo depois veio a negar essa correlação. Porém, o Ministério da Saúde brasileiro orienta que este medicamento, por precaução, seja substituído por outro analgésico ou antitérmico. Os anti-inflamatórios de um modo geral devem ser evitados principalmente em pessoas idosas pelo risco de danos renais que eles representam, independentemente da questão do Covid-19.

As máscaras faciais são de fato eficazes?

Sim, as máscaras cirúrgicas faciais são eficazes. No entanto, a pessoa doente é quem deve usá-las para evitar a propagação do vírus. Os profissionais da saúde que estão em contato direto com esses pacientes, também devem utilizá-las, além de óculos e aventais protetores.

Animais de estimação como cães e gatos podem ser potenciais transmissores do vírus?

Não. No entanto, devem-se manter os mesmos cuidados entre humanos no contato com os animais, para que eles não sejam infectados. Deixar os ambientes de convívio com os animais sempre limpos. Por outro lado, ao considerar que o Covid-19 é um vírus novo e que não sabemos como será o seu comportamento no futuro, convém evitar que esses animais lambam o rosto de crianças e pessoas em geral. Este vírus, o COVID-19, apresenta uma capacidade de contagiosidade e disseminação menor que o sarampo e o H1N1. No entanto, por tratar-se de um novo vírus, significa que a população, em geral, não tem anticorpos que confiram a devida imunidade contra ele. Na medida em que muitas pessoas têm as primeiras experiências de contato com o vírus, elas se tornam imunes a eles. Além disso, quando estiver disponível uma vacina específica, eficaz e segura, a população, ainda não imune, poderá se beneficiar disso. Neste momento, é importante que as pessoas em geral sejam imunizadas contra a “gripe” para evitar superposição dos quadros, que são muito semelhantes no início dos sintomas, dificuldade de diagnóstico e alívio aos serviços médicos de urgência tanto para crianças como para a população adulta.

Ceifeiros

Órgão de conscientização missionária e de comunicação da Confradesp.

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