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Guaranis da aldeia Krukutu em São Paulo pedem socorro

Após o terceiro mês da quarentena, as doações ficaram escassas e a aldeia precisa de apoio


Situada em Parelheiros, extremos sul de São Paulo, a aldeia Krukutu foi fortemente afetada pela pandemia do novo coronavírus. Olívio Jekupe, 54, morador da aldeia, relata como tem sido a rotina após o governo decretar quarentena em todo o estado. “A primeira coisa que fizemos aqui foi fechar a escola do estado que temos na aldeia. Também sempre recebíamos turistas e visitas de outras escolas aqui na aldeia. Conversamos entre as comunidades para não saírem muito das aldeias, só em caso necessário quando temos que ir à cidade fazer comprar. Ficamos muito preocupados de como iriamos sobreviver, porque alguns trabalham e outros dependem do turismo e do artesanato”, explicou.

O artesanato é fonte de renda para a aldeia


Com o isolamento da aldeia, o turismo e a venda dos produtos artesanais afetaram a economia das famílias. Jekupe conta como os índios da aldeia Krukutu estão sobrevivendo. “No primeiro mês foi muito complicado, ficamos com medo em relação aos alimentos, mas muitas pessoas entraram em contato e fizeram muitas doações. Do terceiro mês em diante a
coisa começou ficar mais apertada teve uma diminuição das doações, então ficamos preocupados, precisamos de um pouquinho mais de apoio, pois a pandemia não para né, não parou até agora então temos que continuar na luta. Temos famílias aqui que não trabalha, que não tem como sobreviver”.

Jekupe é escritor de literatura nativa


Além de sofrerem com a escassez das doações, tem, é claro, a pandemia. De acordo com o líder da aldeia Krukutu, Olivio Jekupe, metade da aldeia foi contaminada, inclusive ele. “Muita gente pegou o coronavírus. Eu peguei, minha mulher pegou, meus filhos e netos também. Acho que metade da aldeia pegou o coronavírus. Eu fiquei internado aqui mesmo na aldeia”. Na aldeia Krukutu existe uma UBS, e o efetivo foi reforçado. Mas de acordo com Jekupe essa não é a realidade da população indígena no Brasil. “A gente sabe que no Brasil a saúde é precária. Muitas aldeias no Brasil não têm assistência,
não tem remédio, tem muitos indígenas que estão sofrendo muito, inclusive houve várias mortes de lideranças indígenas conhecidas no Brasil que pegaram o coronavirus, morreram. É triste agente ver que os nossos parentes estão morrendo. Além de termos perdido as nossas terras pela invasão dos portugueses em 1.500, a gente ainda sofre por questão da doença, né?” Protesta Jekupe, que é professor de história formado pela Universidade de São Paulo, escritor de literatura nativa e presidente da Associação Guarani Nhe’ E Porã.