Ceifeiros Geisel de Paula

Não olhe para cima – uma perspectiva escatológica

Estreou nos últimos dias de 2021 o filme “Não olhe para cima” (Don’t Look Up), com classificação de 16 anos, que mistura comédia com ficção científica e um pouco de drama, estrelado por um elenco de peso, como Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Jonah Hill, Cate Blanchett, Chris Evans, Ariana Grande e outros.

O longa conta a história de dois cientistas que descobrem que um cometa está prestes a colidir com a Terra. Apesar do tamanho da ameaça, ninguém parece se importar de fato com isso. A presidente dos EUA está mais preocupada com a reeleição e assume um tom negacionista mesmo em meio a fartas evidências científicas. Depois eles partem para a mídia, que leva o assunto em um tom jocoso e leve, mesmo com a séria ameaça de extinção humana no planeta. O próprio público em geral parece mais preocupado com as redes sociais do que com as próprias vidas. O filme faz na verdade uma sátira contra os negacionistas da pandemia e da vacinação, e daqueles que desdenham contra a crise ambiental e o aquecimento global, negando os fatos científicos já demonstrados amplamente. É uma crítica contra a sociedade pós-moderna que vivemos neste século XXI.

Quando assisti o filme acabei com um insight diferente. Algo bíblico e escatológico. Explico: A igreja está no mundo há cerca de dois mil anos com uma mensagem que não muda. A salvação em Cristo Jesus e o retorno dele em glória nos céus. O iminente arrebatamento dos salvos! Acreditamos que isso de fato acontecerá em uma data incerta, mas está mais perto do que nunca para acontecer. Jesus voltará! Os apóstolos advertiram e pregaram o seu retorno. Os pais da igreja nos primeiros séculos também atentaram para o fato. Durante toda a história do Cristianismo, homens e mulheres pregaram a plenos pulmões: Jesus em breve vem! O Pentecostalismo moderno reascendeu essa chama no início do século XX com a sua mensagem quadrangular: Jesus Cristo salva, cura, batiza com o Espírito Santo e em breve voltará! Nossos avós dormiram no Senhor nesta esperança; nossos pais nos ensinaram desde pequenos, e parece que essa mensagem tem perdido força em nosso meio.

Para a sociedade em que vivemos, o retorno de Cristo é completa utopia. Estão mais preocupados em saber se existe vida fora da Terra à crer que a Bíblia esteja se cumprindo. Estão, como no filme, preocupados com suas vidas, com suas mediocridades, com selfies de almoço em restaurantes, com os likes recebidos e com o photoshop da última foto do que com o destino eterno de suas almas. Vivem como se Deus não existisse, seguindo sem rumo com suas vidas mesmo com o Apocalipse às portas. Os acontecimentos e o curso do mundo caminham de acordo com que os profetas predisseram, mas eles não percebem. Parte da culpa é minha e sua. É da igreja.

Se os de fora estão cegos caminhando para a beira do abismo, os de dentro que conseguem ver segundo a luz das Escrituras, seguem anestesiados e inertes com tudo o que está acontecendo. Deixa-me perguntar: quando foi a última vez que você escutou um sermão/pregação sobre o arrebatamento da igreja? Temos muitos pregadores motivacionais, de autoajuda, coaching, especialistas em neurolinguística, mas onde estão os pregadores de arrependimento? Onde estão aqueles que na Bíblia, apontam o pecado? A igreja, ou parte dela, parece que não quer que o noivo venha. Ela está entretida demais com as “coisas” da vida. “Rico sou, e estou enriquecido e de nada tenho falta” (Ap.3:17). Uma igreja que deixou Jesus do lado de fora! Uma igreja, pelo menos aqui no mundo ocidental e nos grandes centros urbanos, que já não olha para cima. Em um momento do filme, há um pedido, um engajamento nas redes com o lema: “Don’t look up”! (Não olhe para cima), e o cometa lá. Essa é a estratégia do inimigo. Preocupe-se com essa vida, vou te encher de coisas inúteis para fazer, para que você fique bem ocupado em ninharias e assim esqueça o que é mais importante. Jesus vem! Essa sempre foi a esperança da igreja e parece que esse sentimento está se perdendo.             A igreja precisa se lembrar da advertência do próprio Jesus a respeito do dia de seu retorno em (Mt.24:36-39) – “…e como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem”. Que o mundo esteja “ocupado” demais para pensar na sua salvação é, em parte, culpa da igreja que tem “dourado a pílula”. A Bíblia precisa ser pregada como ela é; ela toda, e não a parte que nos apetece apenas. Agora que a igreja esteja preocupada com coisas passageiras e não eternas, com conchavos políticos e não com o Reino, com construções terrenas e não com as mansões celestiais, é uma grande e terrível tragédia. Sem querer dar spoiler sobre o filme, o final será o mesmo. Quem viver (para essa terra) verá (IIPd.3:13). Maranata!

Geisel de Paula

Geisel de Paula é repórter do site e jornal Ceifeiros em Chamas, bacharel em teologia pela Faesp.