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O CRISTÃO E O “POLITICAMENTE CORRETO”

Imagem de Karolina Grabowska por Pixabay

                        Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral publicou uma “cartilha” em que aconselha e orienta a não utilização de algumas palavras, com o intuito de retirar o “racismo estrutural” da linguagem. Entre as palavras consideradas de proibidas está, por exemplo, o verbo “esclarecer”, que teria uma conotação racista, na medida em que consideraria que o “claro” seria superior ao “escuro”, o que significaria uma ideia de supremacia dos brancos em relação aos pretos ou negros.

                        Tem-se, pois, com este episódio, a demonstração clarividente de como se tem introduzido em nossa sociedade o chamado “politicamente correto”, que nada mais é que uma tentativa de se instituir uma linguagem sem preconceitos, igualitária, que suprima as “desigualdades sociais”, a “injustiça social”, enfim, uma linguagem que procure instituir a “sociedade perfeita” defendida pelos igualitaristas, por aqueles que querem uma “sociedade sem classes”, enfim, o “comunismo”, que seria este estágio final de absoluta igualdade entre todos os seres humanos.

                        Este pensamento contém alguns erros fundamentais, que devem ser enfrentados por aqueles que “andam na verdade” (2 Jo 4; 3 Jo 3), que “praticam a verdade” (Jo 3.21).

                        O primeiro erro é o de acreditar que “a linguagem gera a realidade”, ou seja, que as mudanças devem se dar no campo da linguagem, que, no mundo das palavras, podemos alterar as coisas.

                        Esta ideia embute um pressuposto, qual seja, o de que o homem quer ser igual a Deus, precisamente a mentira satânica contada ao primeiro casal (Gn 3.5), porquanto dá a ilusão ao homem de que ele, a exemplo do Criador, pode criar algo a partir da palavra.

                        As Escrituras mostram-nos de que o Senhor criou todas as coisas, com exceção do homem, pelo poder da Sua Palavra (Hb 11.3), Palavra que sustenta tudo até os dias de hoje (Hb 1.3).

                        Deus deu ao homem a linguagem como nota peculiar e, por meio da linguagem, o homem exerceu domínio sobre toda a criação terrena (Gn 2.19,20). Assim, é natural que o diabo, que engana todo o mundo (Ap 12.9), leve o homem a se utilizar desta linguagem e a se iludir, por meio dela, na sua rebelião contra o Senhor.

                        Por isso mesmo, é por meio da linguagem que o homem se ilude em seus pensamentos contra o Senhor, sendo, pois, este um elemento relevante na perversão do entendimento humano e na sua imaginação, que o leva a se distanciar de Deus (Cf. Rm 1.21-23).

                        Esta manipulação da linguagem alcança um realce grande no movimento comunista internacional, que tem, já há algumas décadas, adotado a técnica da “persuasão implícita”, do chamado “marxismo cultural” como sua principal arma para tentar controlar as nações e impor suas ideias materialistas e ateias sobre a humanidade.

                        É o que o dr. Plínio Corrêa de Oliveira (1908-1995), pensador católico anticomunista, criador da TFP (Tradição, Família e Propriedade) denominava de “baldeação ideológica inadvertida”, assim definida: “…atuar sobre o espírito de outrem, levando-o a mudar de ideologia sem que o perceba”.[1]

                        Para que alguém possa mudar de “ideologia”, ou seja, mudar de “ideias”, “crenças” e “concepções”, é imperioso que haja uma manipulação da linguagem, porque nossos pensamentos, nosso raciocínio se exterioriza pela linguagem, é assim que nos comunicamos com os outros, é deste modo que se tem a comunicação e, por meio da comunicação, é alcançada a comunhão.

                        O objetivo do inimigo de nossas almas outro não é senão nos levar a ter comunhão com ele, colocarmo-nos contra Deus, como ocorreu no episódio da torre de Babel, em que se alcançou a unanimidade contra o Senhor, a tal ponto que teve o Criador de intervir, com a confusão das línguas, precisamente para impedir a destruição de toda a humanidade (Cf. Gn 11.6).

                        Este mesmo espírito de rebeldia, que o texto sagrado denomina de “espírito do anticristo” (1 Jo 4.3), continua querendo se estabelecer por meio da linguagem, a fim de obscurecer o entendimento dos homens e, deste modo, levá-los à corrupção generalizada e à perdição.

                        O filósofo Olavo de Carvalho (1947-2022) bem demonstrou que esta manipulação de linguagem começa com a criação de uma “falsa linguagem formal” em que, propositadamente, a necessária linguagem formal que permite a compreensão entre todos é substituída por uma “linguagem informal”, que é própria de pequenos grupos e que jamais pode ser disseminada por toda a sociedade, linguagem esta que tem como um de seus traços principais “…o seu caráter elíptico: o falante, saltando os nexos lógicos intermediários, vai de uma ideia a outra sem ter de conservar a memória do trajeto e sem ter de responder pela confiabilidade das vias por onde conduz o ouvinte; e este, envolvido numa atmosfera de identificação emocional confusa, se deixa levar como se fosse ele próprio o falante.…”.[2]

                        O mesmo pensador afirma categoricamente que “…quando a linguagem informal invade os domínios superiores da sociedade política, isto indica que aí o senso das responsabilidades vai desaparecendo, que a liderança procura fugir a toda cobrança ocultando-se por trás de uma comunicação elíptica onde aquele que ouve é induzido sub-repticiamente a endossar decisões que nem tomou nem compreendeu, onde espectadores inocentes acabam carregando sobre suas costas a culpa por erros que não cometeram, e onde, portanto, um sentimento de injustiça generalizada acaba por minar toda confiança na possibilidade de uma ordem justa — uma situação oprimente que todos agravam mais ainda buscando alívio na busca obsessiva de bodes expiatórios: o clamor geral contra a impunidade é tão destrutivo quanto a impunidade mesma…”.[3]

                        Tem-se, portanto, que esta manipulação da linguagem tem a finalidade mesmo de promover o controle sociopolítico de um povo e em rebeldia contra Deus.

                        Esta manipulação utiliza-se, como diz Plínio Corrêa de Oliveira, de “palavras-talismã”, a primeira ação psicológica sobre a opinião pública, “…uma palavra cujo sentido legítimo é simpático e por vezes até nobre; comporta ela, porém, certa elasticidade. Empregando-se tal palavra tendenciosamente, começa ela a refulgir para o paciente com brilho novo, que o fascina e o leva muito mais longe do que poderia pensar (…) A radicalização da palavra-talismã vai de per si operando a baldeação ideológica inadvertida, nos que a empregam. Pois, presos ao fascínio do vocábulo, vão eles aceitando sem mais, como ideais supremos e ardentemente professados, os significados sucessivamente mais radicais que ele vai assumindo”.[4]

                        Por isso mesmo, devemos ter muito cuidado com a manipulação da linguagem, pois ela tem, por objetivo, perverter as crenças e ideias das pessoas, fazendo-as adotar os pensamentos e concepções que, logicamente, são contrários à Palavra de Deus, visto que oriundos de uma doutrina materialista e ateísta.

                        Eis, porque, não pode o cristão adotar o chamado “politicamente correto”, que nada mais é que uma linguagem que, adotando “palavras-talismã”, buscam fazer com que alteremos a compreensão e o significado da realidade conforme os princípios adotados por estas doutrinas avessas às Escrituras e que, portanto, são mentirosas, pois a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17).

                        Não é por acaso que as chamadas “teologias inclusivas” têm procurado distorcer e alterar o conteúdo das Escrituras e que muitos tenham afirmado que é preciso “atualizar” a Bíblia Sagrada ou que contenha ela “termos não apropriados”.

                        Não foi, por acaso, o que alguns fizeram, recentemente, ao dizer que a expressão “alvo mais do que a neve”, constante do hino 39 da Harpa Cristã, expressão diretamente extraída de Isaías 1.18,[5] Isaías seria “racista”?[6]

                        Não é isto desacreditar diretamente o texto bíblico por conta de um linguajar “politicamente correto”? Não é isso abandonar a fé em favor de uma doutrina anticristã?

                        Ou mesmo, nos Estados Unidos, ter se tentado proibir, num processo, a utilização de “termos não apropriados” da Bíblia por serem “homofóbicos”?[7], o que não se fez, ao menos por ora?

                        Tais ideias, absurdas, somente alcançam guarida em corações e mentes que se deixaram dominar pela manipulação da linguagem, que já se tornaram alvos da “baldeação ideológica inadvertida”, que tiveram suas mentes obscurecidas por discursos vãos e agora creem mais nas mentiras dos homens e de Satanás do que na verdade divina constante da Bíblia Sagrada.

                        Muitos não chegaram a tal ponto, mas já se deixam influenciar por tal discurso, a ponto de evitarem tratar de alguns temas bíblicos para não gerar “discurso de ódio” ou “preconceito”, como se a Palavra de Deus não fosse a expressa revelação de um Deus que é amor (1 Jo 4.8,16) e que não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; At 10.34).

                        Temos de crer na Bíblia Sagrada, anunciar o que ela diz, porque ela é a verdade, sem alterar palavras, sem modificar as suas ideias e princípios, não adotando as máximas que procuram ser impostas por quem não deseja outra coisa senão a prevalência de uma doutrina que levará os homens à perdição eterna.

                        Promover a explicitação do significado das “palavras-talismã”, demonstrar o real significado delas, reafirmar a revelação escriturística, que é verdadeira, pedindo sempre a orientação do Espírito Santo e crendo no que a Bíblia diz, cumprindo-a e vendo a realidade conforme ela é, que é o que nos foi revelado por Deus, que é a verdade (Jr 10.10; Jo 14.6).

                        Não nos subjuguemos ao “politicamente correto”, não alteremos nossa linguagem, mas usemos o texto bíblico como ele é, sem modificações. Assim fazendo, estaremos a resistir ao diabo e ele certamente fugirá de nós.

                        Mas, para que façamos isto, mister se faz que nos dediquemos à meditação e estudo da Bíblia Sagrada, pois só assim compreenderemos o seu real significado, teremos o conhecimento da doutrina cristã e poderemos combater as mentiras trazidas por esta “baldeação ideológica inadvertida”, que é adotada amplamente pela mídia, totalmente controlada por adeptos desta funesta ideologia.

                        Também devemos buscar a presença de Deus, pedindo o devido discernimento espiritual, para que o Espírito Santo possa nos dirigir e guiar em toda a verdade (Jo 14.25; 16.13), impedindo que sejamos enganados pelo discurso “politicamente correto”.

                        Estamos em condição de ser, neste ponto, soldados de Cristo, militando a boa milícia da fé (1 Tm 1.18; 6.12)? Que Deus nos dê tal condição.


[1] OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Baldeação ideológica inadvertida e diálogo, p.25

[2] CARVALHO, Olavo de. Lógica da mistificação, ou, o chicote da Tiazinha. 05 abr. 1999. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/logica-da-mistificacao-ou-o-chicote-da-tiazinha/#:~:text=Redigido%20originalmente%20como%20apostila%20do,seguida%20recusado%20pela%20revista%20Bravo! Acesso em 17 dez. 2022.

[3] CARVALHO, Olavo de. end.cit.

[4] OLIVEIRA, Plinio Corrêa de. op.cit., pp.36,37.

[5] Kleber Lucas, cantor gospel, acusa hino Alvo mais do que a neve de racista. Disponível em: https://revistaoeste.com/brasil/kleber-lucas-cantor-gospel-acusa-hino-alvo-mais-que-a-neve-de-racista/ Acesso em 17 dez. 2022.

[6]

[7] Por suposta homofobia, Justiça diz que trechos da Bíblia “não são mais apropriados”. Disponível em: https://terrabrasilnoticias.com/2022/12/por-suposta-homofobia-justica-diz-que-trechos-da-biblia-nao-sao-mais-apropriados/ Acesso em 17 dez. 2022.

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo