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Simeão: exemplo para o momento do silêncio profético

Imagem de Holger Feulner por Pixabay

Estamos a viver momentos extremamente difíceis sobre a face da Terra, o “princípio das dores” apontado pelo Senhor Jesus em Seu sermão profético, marcado pela multiplicação da iniquidade, pelo esfriamento do amor (Mt 24.12), tempos trabalhosos (2 Tm 3.1), tempos de apostasia da fé (1 Tm 4.1).

Quando vemos, clarividentemente, que nosso país foi absorvido pelas trevas anticristãs que se encontram em grande expansão nestes dias finais da Igreja sobre a face da Terra, urge nos dedicarmos mais e mais à busca da presença do Senhor, para que perseveremos até o fim, para alcançarmos a salvação (Cf. Mt 24.13), que é, afinal de contas, o objetivo de nossa fé (2 Pe 1.9).

Não nos é fácil, diante de circunstâncias tão adversas, mantermos a atitude de “bom ânimo” ordenada por Nosso Senhor e Salvador (Jo 16.33), recomendação que, não por acaso, são as últimas instruções deixadas aos Seus discípulos, antes de Ele pronunciar a Sua oração intercessória e partir para o Getsêmane, onde daria início ao todo o Seu processo de paixão e morte.

Ter bom ânimo é, pois, a atitude determinada por Cristo para que atinjamos a perseverança e, para tanto, o Senhor manda que, diante das aflições existentes no mundo, sobremaneira aumentadas neste tempo em que estamos a viver, observemos, também, a vitória de Jesus sobre o mundo, vitória que se demonstrou claramente, três dias depois, quando Ele ressuscitou.

Para tanto, alertados pela pregação do pastor Marcelo Ferreira no culto do dia de Natal na sede do Ministério do Belém em São Paulo, quando pregou a respeito da figura de Simeão, passamos a meditar a respeito da figura deste servo de Deus e aprendermos com seu exemplo, para podermos ser exitosos nestes dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja.[1]

Simeão é mencionado tão-somente pelo evangelista Lucas, que afirma ser ele um homem que morava em Jerusalém (Lc 2.25).

Não se diz que Simeão fosse sacerdote, e como Lucas é bem minucioso em seus relatos e, particularmente, no que concerne aos episódios que envolvessem o templo de Jerusalém, seu silêncio é eloquente, a demonstrar que Simeão não pertencia à linhagem sacerdotal.

Ademais, o texto nos mostra que Simeão não vivia no templo e, portanto, mais um indicador de que não se tratava de um sacerdote.

De qualquer maneira, o texto bíblico diz que Simeão era um homem justo, temente a Deus e que esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava sobre ele (Lc 2.25).

Simeão era justo, ou seja, era alguém que vivia conforme a lei de Moisés, um observador das Escrituras, alguém que cria piamente que as Escrituras tinham nelas a vida eterna (Jo 5.39) e que são elas a verdade (Jo 17.17).

Ser um homem justo é fundamental em um período como o que era vivido por Simeão.

Simeão vivia em um momento em que Deus havia Se calado diante de Seu povo. Já fazia cerca de quatrocentos anos que não era levantado profeta algum em Israel e, deste modo, Deus não mais estava a Se comunicar com o Seu povo por intermédio de profetas, que era como Deus falava naquele tempo (Hb 1.1).

Crer em Deus, mesmo quando Ele não mais levantava profetas, era um esforço a mais de fé para Simeão. Mas o ancião sabia, pelas próprias Escrituras, que Deus, mesmo calado, não cessava de trabalhar por aquele que n’Ele espera (Is 64.4).

Notemos que Simeão já nascera em um ambiente de silêncio profético. Só possuía ele conhecimento das ações divinas, das mensagens proféticas pelas Escrituras, mas não via nada disso nos fatos à sua volta, não tinha esta vivência, mas isto não foi suficiente para que cresse naquilo que aprendera desde a tenra idade nas sinagogas, na leitura da Palavra de Deus.

Assim, também, devemos proceder em nossos dias. Se não temos mais os eventos mencionados pelos nossos pais na fé, se não vislumbramos mais os avivamentos noticiados nos livros e nas próprias Escrituras, se, ao revés, os escândalos se sucedem à nossa volta, nada disso pode nos deixar de crer na Bíblia Sagrada e de viver de acordo com seus ensinamentos, buscar a agradar a Deus.

Deus já havia alertado Seu povo que Se calaria (Cf. Am 8.11), Do mesmo modo, o Senhor já nos preveniu a respeito do “princípio das dores”, de que contemplaremos o aumento da iniquidade, apostasia e escândalos, mas, a exemplo de Simeão, vejamos nisto o cumprimento da Palavra de Deus e, mais do que isto, a promessa de que, em breve, Ele virá nos buscar, para nos livrar da ira futura (1 Ts 1.10), assim como Simeão aguardava a vinda do Cristo (Ml 3.1; 4.2).

É tempo de buscarmos ao Senhor (Os 10.12), é tempo de cumprirmos a Sua Palavra, como fazia Simeão, que já tinha idade avançada e, mesmo assim, mantinha a sua fé no Senhor.

Mas, além de justo, Simeão era temente a Deus, ou seja, alguém que obedecia ao Senhor, que respeitava os mandamentos, que tinha a preocupação em viver de tal maneira que agradasse a Deus, que tivesse a Ele como seu verdadeiro Senhor.

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl 111.10) e temer ao Senhor é apartar-se do mal (Jó 28.28).

Em um mundo em que não se ouvia mais a voz do Senhor por meio dos profetas, Simeão obedecia a Deus, à Sua Palavra, crendo que a vida se encontrava em observar a lei (Dt 30.19; Ez 18.32; Am 5.4,6).

Precisamos, igualmente, temer a Deus em meio a um mundo que, a cada dia, desacredita na Palavra de Deus, não mais crê nos mandamentos nem tampouco dá crédito às profecias e promessas.

Não são poucos os que veem, hoje, nas Escrituras apenas “mitos” ou “fábulas”, ou “um livro que precisa de atualização”, preferindo adotar as “verdades científicas”, a “sabedoria humana”, o “politicamente correto” e, para tanto, inclusive, negam o Senhor que os resgatara.

Simeão não se deixou levar pelos filósofos e sábios de seu tempo, fossem eles rabinos judeus ou sábios do mundo helenístico, o mundo decorrente da fusão entre a cultura oriental e a cultura grega, como fizeram muitos de seu tempo, inclusive a elite sacerdotal, em especial, os saduceus, que preferiram adotar um materialismo a crer nas Escrituras (Cf. Mt 22.23,29-32; At 23.8).

Na sua condição, humilhou-se diante do Senhor, creu n’Ele e, apesar do silêncio profético, tomou a decisão de obedecer ao Senhor, agradar-Lhe, construindo uma vida de justiça e de temor a Deus.

O resultado disto outro não poderia ser: ele esperava a consolação de Israel, ou seja, cria piamente que, apesar daquele estado de coisas tão difícil, Deus jamais abandonaria Seu povo e que cumpriria as Suas promessas, ficando sempre ao lado de Israel, pois “consolação” nada mais que é que “estar ao lado”, “ficar ao lado”, “acompanhar”.

Esta consolação outra não seria senão a vinda do Cristo, isto é, do Messias, d’Aquele que, sendo o profeta igual a Moisés (Cf. Dt 18.15-18), traria novamente a Palavra de Deus ao povo, que promoveria a salvação, a religação de Deus com o Seu povo.

O estado caótico observado por Simeão como que lhe aumentava a fé. Ante o silêncio divino, Simeão tinha a convicção de que estava próximo o momento em que o próprio Deus voltaria a falar com o povo, de forma direta, sem qualquer dificuldade, de modo pleno e permanente.

Quanto mais tenebrosa a circunstância, mais Simeão aguardava o nascimento do Sol da justiça, que traria salvação (Cf. Ml 4.2).

A convicção de Simeão era tamanha que o Senhor, que não despreza um espírito quebrantado e um coração contrito (Sl 51.17), acabou por falar com Simeão, dando-lhe uma promessa: a de que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor (Lc 2.26).

Como diz o próprio Lucas, em razão de Simeão ser justo e temente a Deus e de estar a esperar a consolação de Israel, o Espírito Santo estava sobre ele (Lc 2.25).

Se, em um momento de silêncio profético, em plena lei, o Espírito Santo Se aproximou de alguém por ser justo, temente a Deus e esperar a consolação de Israel, não podemos duvidar de que este mesmo Espírito Santo está conosco e habita em nós, mesmo estando nós a viver o “princípio das dores”.

Jesus prometeu que os Seus discípulos teriam o Espírito Santo como Consolador e que Ele não só estaria conosco, mas habitaria em nós (Jo 14.16,17), de modo que não podemos, em absoluto, desanimar diante das circunstâncias adversas que estamos a vivenciar.

Ao falar do “princípio das dores”, o Senhor Jesus fez questão de nos deixar claro que o Espírito Santo sempre estará conosco e em nós.

Se, no sermão escatológico registrado por Mateus, temos apenas uma alusão a esta verdade, e, mesmo assim, de modo indireto, que é o cuidado que tiveram as virgens prudentes ao manterem sua reserva de azeite, que foi fundamental a que participassem das bodas (Mt 25.3-12), em Lucas, é dito que, quando houver a perseguição, o próprio Senhor porá na boca dos que forem presos palavras de sabedoria irresistível que não poderão ser contraditas (Lc 21.12-19), a mostrar, pois, como terão sempre a assistência do Espírito Santo.

Simeão não era um profeta, porque Deus não estava a levantar profetas, mas era um justo, temente a Deus e que esperava a consolação de Israel e isto já lhe permitiu ter a assistência do Espírito Santo.

Precisamos ter esta situação nos dias em que estamos a viver e de forma muito mais profunda que o próprio Simeão, pois este tinha o Espírito Santo “sobre ele”, mas nós O temos conosco e em nós.

Somos templo do Espírito Santo (1 Co 6.19), morada de Deus no Espírito (Ef 2.22), de forma que precisamos manter esta comunhão íntima com o Espírito de Deus para que Ele nos guie em toda a verdade (Jo 16.13), nos ensine todas as coisas e nos faça lembrar de tudo o que Jesus nos disse (Jo 16.26).

Simeão era tão dirigido pelo Espírito, que foi ao templo sob a Sua direção (Jo 2.27) e lá, então, pôde pegar em seus braços o menino Jesus e ver naquele recém-nascido “a salvação de Deus preparada para todos os povos, a luz para alumiar as nações e a glória do povo de Israel” (Lc 2.28-32).

Jesus tinha quarenta dias de vida, pois foi levado ao templo precisamente para a purificação de sua mãe e sua consagração como filho primogênito (Lv 12.6-8).

Uma criança recém-nascida e que, inclusive, não se encontrava belissimamente trajada, pois seus pais traziam a oferta do pobre para tal ocasião (Lc 2.24).

Ao tomar aquela criança de pais pobres nos braços e ver, ali, já a salvação de Israel, o Cristo do Senhor, Simeão mostrava que cria piamente em Deus e que não duvidava das promessas e profecias e que, se o Espírito Santo havia dito que ali estava o Messias, não havia o que se discutir, a não ser agradecer ao Senhor e se considerar satisfeito com o cumprimento da promessa que recebera.

Simeão sabia ter sido escolhido por Deus para ver o Cristo e, ao vê-l’O, considerou-se satisfeito e pronto a deixar esta Terra.

Assim deve ser também o nosso comportamento. Devemos ser guiados pelo Espírito Santo para fazermos o que o Senhor quer que façamos neste tempo do fim e estarmos prontos para nos despedir em paz desta Terra, seja pela morte física, seja pelo Arrebatamento.

Eis o propósito de nossa existência: fazer e cumprir a vontade de Deus na Sua obra, ser testemunho do cumprimento da Sua Palavra, nada mais, nada menos que isto.

Simeão viu naquele bebê o cumprimento das promessas e profecias e isto lhe bastou. Verdade é que o Espírito Santo, então, rompendo com um silêncio de quatrocentos anos, iria trazer uma mensagem profética pública a José e Maria e mais à própria Maria, dando a Simeão uma dignidade que ele jamais almejara, mas isto não estava em sua expectativa, até porque devemos saber que Deus é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Ef 3.20).

Simeão abriu a sua boca e externou a sua fé nas Escrituras, dizendo daquele recém-nascido nos seus braços o que a Palavra diz que Ele é, ou seja, a salvação preparada perante a face de todos os povos, a luz que alumia as nações e a glória para Israel.

Muitos que cristãos se dizem ser, por incrível que pareça, mesmo após o ministério público de Jesus, Sua morte, ressurreição e ascensão e, durante todo o tempo da dispensação da graça, ainda têm dificuldade para ver em Jesus a salvação preparada perante a face de todos os povos.

Como pode ser isso? Ao longo de todos estes séculos, desde a primeira vinda de Jesus, estão a pregar um “evangelho” em que Jesus não é suficiente para salvar, em que deve haver a concorrência seja de Sua mãe, seja de outros “santos”, ou mesmo de obras para que se tenha a salvação.

Muitos, aliás, não veem em Jesus a “luz para alumiar as nações”, tanto que defendem um Jesus meramente religioso, que só cuida de “assuntos espirituais”, mas não reconhecem que só Ele pode alterar o curso da humanidade em todas as áreas, que Ele veio mudar radicalmente a vida humana.

E, por fim, há aqueles que não veem em Jesus “a glória para o povo de Israel”, que descreem que Israel ainda será salvo, que ainda O reconhecerá como o Messias e que, através do reino milenial, a Terra será restaurada e teremos um tempo de justiça e de paz antes que todo este Universo deixe de existir.

Simeão era guindado a condição de profeta, porque havia crido nos profetas, porque havia crido nas Escrituras.

O Espírito Santo o utilizava para confirmar a fé de José e de Maria, outros que haviam sido igualmente orientados pelo Espírito Santo naqueles dias, como que antecipando a comunhão que haveria na Igreja por meio do Consolador, do verdadeiro Vigário de Cristo, que mantém a direção em toda a verdade do povo de Deus, o ensino de Jesus e a própria glorificação do nome de Cristo Jesus até o término do tempo da graça.

Nós, também, temos de estar em condições de sermos utilizados como profetas de Deus neste tempo final da dispensação da graça, anunciando a salvação na pessoa de Jesus Cristo e o fazendo, não como uma dádiva especial, como ocorreu com Simeão, mas, sim, como uma obrigação, um dever que nos é imposto pelo Senhor Jesus (Cf. 1 Co 9.16).

Simeão mostra que Jesus seria posto para queda e elevação de muitos em Israel e que seria contraditado para que se manifestassem os pensamentos de muitos corações e Maria, mesmo, sofreria uma dor em seu coração por causa desta contradição.

Jesus é o Salvador, como viu Simeão em sua grandiosa fé, elevando muitos à vida eterna, mas também é a pedra de esquina em que muitos tropeçam e se perdem, por causa de sua incredulidade e rebelião (1 Pe 2.6-8).

A própria Maria chegaria a duvidar da messianidade de Jesus (Cf. Mt 12.46-50; Mc 3.21,31-35; Lc 8.19-21), mas, estas palavras proféticas de Simeão lhe vieram à mente depois do episódio da crucifixão, da fala do centurião naquela ocasião (Mt 27.54; Mc 15.39), confirmada, por fim, com a aparição de Jesus a seu irmão Tiago (1 Co 15.7).

Simeão revela que a contradição que tinha sido a sua própria vida, reproduzir-se-ia na vida do Cristo do Senhor. Um homem que crera em Deus, mesmo diante de um quadro de silêncio profético e cuja fé fora tanta que, em meio ao silêncio, Deus falara com ele e que, por fim, se tornara, ele próprio, um profeta e para a família do Salvador.

Isto também precisamos viver nestes dias trabalhosos. Em meio ao aumento da iniquidade, do esfriamento do amor, da apostasia espiritual, ter a mesma postura de Simeão, uma fé inabalável mesmo diante das adversidades e das circunstâncias. Sermos capazes de vermos o cumprimento das promessas e profecias mesmo fora de tudo o que é visto e ouvido, mantendo sempre uma vida justa, de temor a Deus e de esperança na consolação de Israel, não querendo nada senão despedir-se deste mundo tendo a consciência de que fizemos o que era para termos feito e, por causa disso, servindo de alento e alerta para a família de Jesus.

Seguimos um Senhor que foi e sempre será contraditado pelos pecadores (Hb 12.3), um Senhor que é aborrecido pelo mundo e que também nos aborrecerá (Jo 15.18-20).

Assim, quando se nota o aumento da perseguição entre nós, quando as dores aumentam, lembremos de que isto é prenúncio do arrebatamento da Igreja, da sua iminência e, mesmo diante disto, façamos como Simeão, alegremo-nos em ver a salvação preparada para todos os povos, a luz para alumiar as nações e a glória do povo de Israel e prossigamos a anunciá-la a todos, pois mui brevemente veremos o Senhor face a face. Aleluia!                                      


[1] Culto da família. 25/12/2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Lt_Uyj3Ism0 Acesso em 26 dez.2022.

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo