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Universitários Brasileiros são repatriados da Rússia

Com uma guerra em curso e sanções econômicas sem precedência, a OGC (Médicos com uma Missão), entidade parceira da CGADB, trouxe de volta para o Brasil os oito alunos do curso de medicina que estudavam na Rússia

“Estou segura”, disse *Radassa, aliviada e com olhos marejados, após o avião em que estava aterrissar no Aeroporto Internacional de Guarulhos. A paraense de 25 anos, estudante do terceiro ano de medicina, precisou trancar o curso e retornar às pressas ao Brasil. Ainda respirando o clima e a cultura russa, e com alguns rublos no bolso, a jovem chegou a São Paulo na quinta-feira, 03 de março, devido ao clima de instabilidade instaurado na Europa, após a invasão russa à Ucrânia, que deu início a uma guerra que pode durar alguns meses. Radassa residia no lado russo da fronteira em Belgorod, que fica apenas 40 quilômetros de Kiev. De seu bairro, era possível presenciar os mísseis serem disparados contra a capital ucraniana.

Os 12 aeroportos, que ficam tanto em Belgorod como nas cidades próximas, estavam fechados, e obrigou Radassa e outras duas estudantes a pegarem um trem para Moscou, capital da Rússia, viagem que durou nove horas e trinta minutos. Chegaram às 10h. Após oito horas de espera, partiram de avião do aeroporto de Moscou para o Catar, onde trocaram de aeronave e pegaram o último voo que durou 13 horas e 50 minutos até São Paulo. Outros cinco alunos, que estudavam em outras universidades russas, e que estavam em cidades bem mais distantes do conflito, retornaram para o Brasil no dia 06 de março.

Radassa deu-nos uma entrevista no dia em que chegou. Ela estava muito impressionada com todos os acontecimentos, mas afirmou que não vai desistir de sua vocação. “Nunca vou desistir desse sonho de ser médica, que é um desejo que tenho desde criança, e, quando Deus confirmou isso na minha vida, fiquei mais feliz ainda, porque eu queria isso, e é que Jesus deseja para mim. Quando eu conheci a OGC, assumi esse compromisso de estar sempre à disposição deles. Quando perguntaram: “Você quer ir para a Rússia?” Eu disse: “Sim”. Porém, nesta atual situação, disseram: “É melhor você voltar”. Como faço parte do projeto Médicos Com Uma Missão, estou à disposição; se quiserem me enviar de volta para a Rússia, retornarei sem nenhum problema, e se for enviada a outro país, irei. Não perdi meu foco de conseguir meu diploma de medicina que é o que eu sempre quis e principalmente saber que terei a oportunidade de usar minha profissão futuramente para pregar a Palavra de Deus. “Medicina é uma porta muito grande para se pregar o Evangelho,” afirmou.

Praça em Bogdana Khamel’nitskogo Prospekt 31, em Belgorod, local próximo a residência dos universitários

O impacto das sanções econômicas

Retirar os estudantes da Rússia não foi uma tarefa fácil. Além do espaço aéreo fechado, como demonstra a saga de Radassa, acima, a diretoria da OGC precisou lidar com outro obstáculo: o preço das passagens. “Lembro-me que fomos consultar o preço das passagens; para o dia 1º de março, custava R$ 3.200,00. Tínhamos feito uma pré-reserva das passagens; porém, no domingo, a passagem custava R$ 3.500,00; depois subiu para R$ 5.500,00 e as meninas conseguiram comprar por R$ 6.600,00; subiu de forma estrondosa”, explica o Pr. Sérgio Medeiros.

Após resolver a situação das alunas que residiam em Belgorod, foi a vez dos estudantes que estavam em Vladvostok. De acordo com as pesquisas efetuadas pelo pastor Sérgio e sua equipe, o custo de uma passagem aérea de Moscou para São Paulo já estava sete vezes mais caro. “Para o pessoal que estava em Vladvostok, quando entramos no site, desesperamo-nos e pensamos que não conseguiríamos mais, porque tinha passagens no valor de R$ 22.000,00, porque a KLM havia retirado seus aviões. Passamos o dia inteiro pesquisando e compramos as passagens para o pessoal de Vladvostok por R$ 8.670,00, o menor valor que conseguimos; ficamos das 9h30 até às 17h para finalizarmos a compra dessas passagens”, recorda Pr. Sérgio.

Dr. Sergio Medeiros, diretor executivo da OGC, e esposa Lindsey Medeiros

O Bambu Chinês

O pastor e médico Sérgio Medeiros, diretor da OGC, veio a São Paulo para recepcionar os alunos do projeto. Ele, ao perceber que a guerra perduraria por mais tempo, e que os bloqueios econômicos dificultariam o envio de recursos para os estudantes, decidiu retirá-los da Rússia. Também explica que o momento requer cautela e que é hora de reflexão. “Acredito que esse é o momento de refletirmos e não criarmos expectativas ainda. Vamos observar o cenário geopolítico ali da região provavelmente de Belgorod. Penso que no período de meses ou anos é pouco provável que alguém esteja ali de maneira segura. Pensamos que a cidade de Vladvostok oferece mais segurança e é um lugar que também pode agregar valor econômico, porque está localizada próxima da China e Coréia do Norte. Dificilmente, acontecerá uma guerra naquele local. Para a região de Belgorod, nesse momento, descartamos a possibilidade pelo menos diante do cenário que se apresenta”, disse. A cidade de Vladvostok está há nove mil quilômetros de Moscou. “É como pegar um voo de São Paulo a Miami ou a Florida; isso dentro do território Russo”, ilustra o Pr. Sérgio, que vê nesta cidade um lugar para o recomeço, no futuro.

O pastor Sérgio Medeiros afirmou que o momento é de diálogo com as famílias e parceiros do projeto. “Agora, iremos conversar com os pais, pastores e igrejas, para sabermos o que eles pensam sobre isso, para que tomemos uma decisão acertada em conjunto com todos, a fim de que, automaticamente, possamos seguir o que Deus tem colocado no coração de cada um deles e sabemos que o Senhor é o Todo-poderoso, e que está no controle de todas as coisas. Temos que levar o Evangelho para o mundo inteiro, de qualquer forma. Sei que pode dar a impressão de que recuamos do nosso chamado; porém, é apenas uma vírgula, para que possamos dar continuidade, reavivarmos a estratégia, a fim de que possamos voltar mais fortes ainda, porque sabemos que Jesus está conosco”. O pastor Sérgio usou uma metáfora, para exemplificar o momento. “Quem sabe seja realmente este o start para levantarmos os 500 missionários médicos? Porque nós, da OGC, somos como o bambu chinês: cresceremos cinco anos para baixo, para depois avançarmos e tornarmo-nos uma árvore com mais de cinco metros de altura”, concluiu.

*O nome Radassa é fictício para preservação da fonte que atuará em países fechados ao Evangelho.