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NÃO EXTINGUIR O ESPÍRITO – A NECESSÁRIA COMUNHÃO COM CRISTO

Parte 1

Depois de termos nos debruçado sobre o excelente post do pastor José Gonçalves a respeito do declínio do avivamento pentecostal no Brasil e suas razões, continuamos sob o impacto deste importante assunto, tendo o renomado pastor e escritor terminado sua reflexão dizendo que devemos atentar para o que nos diz o apóstolo em I Ts.5:19: “não extingais o Espírito”.

Já se aproximando do término daquela que era a sua primeira epístola, Paulo começa a sintetizar algumas recomendações aos cristãos de Tessalônica, com os quais estava o apóstolo bem preocupado ante a notícia de que estavam a passar por perseguição (I Ts.2:14), não tendo tido ele o tempo necessário para realizar o discipulado daqueles irmãos, já que tivera de sair às pressas daquela cidade, exatamente por conta da perseguição que lhe era imprimida por judeus (Cf. At.17:5-10).

O apóstolo e doutor dos gentios (II Tm.1:11), dentre estas recomendações, diz que os tessalonicenses não podiam extinguir o Espírito, ou seja, deveriam fazer com que a atuação do Espírito Santo não fosse inibida, não cessasse de ocorrer e, para tanto, fundamental seria que deixassem que a Terceira Pessoa da Trindade continuasse a exercer o Seu papel naquela igreja.

Não extinguir o Espírito, portanto, nada mais é que permitir que o Espírito Santo continue a realizar a obra para a qual foi enviado pelo Senhor Jesus e que foi bem descrita pelo Mestre nas Suas últimas instruções aos discípulos (Jo.14-16).

Cristo anuncia aos discípulos que, apesar de Sua morte, ressurreição e ascensão, eles não ficariam sós, pois o Senhor enviaria outro Consolador para que ficasse com eles para sempre (Jo.14:16).

O Espírito Santo vem para ser o Consolador, o “Paráclito”, como diz o texto original, isto é, Aquele que ficaria ao lado dos discípulos. É Deus que continuaria com os servos de Jesus. O “Emanuel” (Deus conosco – Mt.1:23) daria Seu lugar ao “Paráclito”, que é Deus tanto quanto Ele, pois a palavra “outro” é a palavra grega “allós”, que designa “outrem da mesma natureza”.

A manutenção desta companhia do Espírito Santo é a primeira providência a ser tomada para que Ele não seja extinto. Ora, como Ele é Deus, o requisito para que tenhamos Sua companhia é a santidade. Onde Deus está o lugar é santo (Cf. Ex.3:5; Js.5:15; At.7:33).

Dois não podem andar juntos se não estiverem de acordo (Am.3:3), de modo que somente se formos santos, pois Deus é santo (Lv.11:44,45; 19:2; 20:26; 21:8; I Pe.1:15,16), é que poderemos ter a companhia do Espírito.

Para não extinguir o Espírito, portanto, devemos nos separar do pecado, bem assim do embaraço, ou seja, tudo aquilo que pode aumentar a probabilidade de virmos a pecar (Hb.12:1).

Verdade é que não somos impecáveis (Cf. I Jo.1:8-2:2), mas, quando pecamos, por acidente, imediatamente temos de pedir perdão ao Senhor, para que o Espírito Santo não Se afaste de nós, como, aliás, ocorreu com Davi e num tempo em que o Espírito Santo apenas visitava as pessoas (Sl.51:11).

Somos filhos de Deus e, como tal, não vivemos mais na prática do pecado (I Jo.3:6-10), abandonamos a vã maneira de viver que, por tradição, recebemos de nossos pais (I Pe.1:18), de sorte que, em havendo a prática acidental do pecado, imediatamente sentimos a necessidade de pedir perdão e, purificados pelo sangue de Cristo (I Jo.1:7), voltarmos a desfrutar da comunhão com o Consolador, que veio para ficar conosco para sempre (Jo.14:16).

Como diz o poeta sacro Henry Maxwell Wright (1849-1931), no hino 39 da Harpa Cristã, inspirado na mensagem profética de Isaías (Is.1:18), no sangue de Cristo nos tornamos mais alvos do que a neve e, assim, teremos sempre comunhão com o Senhor, podendo tanto com Ele andar como adentrar nas mansões celestiais (Ap.3:4; 22:14).

Se, porém, não confessarmos os nossos pecados e permanecermos na sua prática, o Espírito Santo Se afastará de nós e será extinto em nossa vida, perderemos a condição de filhos de Deus e voltaremos a ser filhos do diabo (II Pe.2:20-22).

Mas o Senhor Jesus também disse que o Espírito Santo é o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece, mas que nós conhecemos e que estaria conosco e habitaria em nós (Jo.14:17).

O Espírito Santo somente é recebido por quem crê em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador (Jo.7:38,39). É necessário nascer de novo para ver o reino de Deus (Jo.3:3) e este novo nascimento exige a fé e o arrependimento dos pecados, de forma que confessamos os pecados e pedimos perdão ao Senhor Jesus.

O Espírito Santo, que foi quem nos convenceu do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8), ante a decisão de crer em Cristo, vem não somente ficar ao nosso lado, como também habitar em nós.

O mundo, que está no maligno (I Jo.5:19), sob o domínio do pai da mentira (Jo.8:44), não vê o Espírito Santo nem pode ter com Ele qualquer relacionamento.

Precisamos, pois, estar na verdade e andar na verdade para que o Espírito esteja conosco e habite em nós (II Jo.4; III Jo.3). Estar na verdade é estar em Jesus, que é a verdade (Jo.14:6). Andar na verdade é andar em Jesus, é obedecer-Lhe, é negar a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo (Mc.8:34; Lc.9:23).

Assim, necessário se faz praticarmos a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17), como também não permitir que o nosso ego norteie as nossas ações, pois temos de renunciar a nós mesmos (Mt.16:24; Lc.14:33), assumir a missão que o Senhor nos confiou e agirmos como Ele agiu, pois Ele é o exemplo que devemos imitar (I Co.11:1; I Pe.2:21).

Se deixarmos de observar a Palavra de Deus, que é a Bíblia Sagrada, se dermos espaço para a nossa individualidade, para o nosso ego, se deixarmos de fazer o que Jesus nos manda e se não tivermos ao Senhor Jesus como exemplo a ser imitado, fatalmente extinguiremos o Espírito em nossas vidas.

Quando estamos e andamos na verdade temos comunhão com o Senhor. Cristo disse que a presença do Espírito Santo faz com que percebamos que o Senhor Jesus é um com o Pai e que somos um com o Senhor Jesus (Jo.14:20).

Esta unidade entre Deus e o homem é o que o Senhor Jesus veio restaurar em Sua obra salvífica (Jo.17:20,21).

Daí a importância da participação na ceia do Senhor, quando solenemente declaramos que estamos em comunhão com Cristo e com a Sua Igreja, vivenciando esta presença espiritual divina em cada um de nós, esta unidade promovida pelo sacrifício de Cristo na cruz do Calvário.

Quando estamos neste estado de comunhão, manifestamos nosso amor a Deus, porque guardamos os Seus mandamentos, tornando-nos morada de Deus no Espírito (Ef.2:22), morada do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Jo.14:23; I Co.6:19).

Este estado de comunhão faz com que sejamos verdadeiros discípulos de Jesus, porque estaremos sempre a aprender com o Espírito Santo que, habitando em nós, passa a nos ensinar todas as coisas e a lembrar tudo o que Jesus disse (Jo.14:26).

Quando aprendemos com o Espírito Santo, que sempre nos faz lembrar o que Jesus disse, de que as Escrituras são as únicas testemunhas (Jo.5:39), permanecemos na Palavra (Jo.8:31) e teremos condição de ficarmos livres do maligno (Jo.8:32).

A presença do Espírito Santo em nós ocasiona, como se observa, o nosso crescimento espiritual, porquanto passamos da fé para a firmeza (Rm.5:1,2) e, ouvindo a voz do Espírito Santo, lembrando o que Jesus nos disse, usufruímos da paciência e consolação das Escrituras, que gera em nós a esperança (Rm.15:4), esperança que permitirá, a uma, que não sejamos confundidos (Rm.5:5); a duas, que nos mantenhamos puros (I Jo.3:3) e fazer que amemos a vinda do Senhor (II Tm.4:7).

A prática do pecado, ainda que acidental, que não for acompanhada da imediata confissão e abandono, faz quebrar esta comunhão e, assim, inicia-se o processo de extinção do Espírito.

Daí a advertência do apóstolo Paulo aos efésios para que não entristecessem o Espírito Santo (Ef.4:30), pois Ele é o nosso selo para o dia da redenção, ou seja, se não estivermos unidos a Ele, pertencentes a Ele naquele dia teremos o destino das virgens loucas da parábola contada por Senhor, ficando do lado de fora das bodas, precisamente porque elas não tinham mais o azeite, ou seja, o Espírito Santo delas Se tinha ausentado (Mt.25:8-12).

Não foi por acaso que, após ter revelado estas verdades espirituais, o Senhor Jesus, ao notar a aproximação do príncipe deste mundo, saiu do lugar onde estava, levando Seus discípulos com Ele (Jo.14:30,31), em uma importante lição que devemos seguir: para que mantenhamos a comunhão com o Senhor, não podemos sequer permitir a aproximação do diabo.

Ao falar na comunhão, o Senhor, então, afirma ser a videira verdadeira e nós as Suas varas, mostrando a nossa dependência para com Ele e a absoluta necessidade de nos mantermos ligados a Ele (Jo.15:1,2).

Como resultado desta comunhão, então, produziremos o fruto do Espírito, e cada vez mais, pois, inevitavelmente, ligados à videira verdadeira, haveremos de ter esta produção, porquanto a falta de produção é sinal de que não estamos mais ligados na videira, o que resultará em nosso corte (Jo.15:5,6).

As dificuldades desta vida terrena, ademais, são apresentadas pelo Senhor como sendo a “poda”, ou seja, a limpeza necessária para que venhamos a produzir ainda mais fruto (Jo.15:2), pois este é o propósito da nossa comunhão com Cristo (Jo.15:16), já que somente seremos reais e autênticos discípulos de Jesus se estivermos a produzir o fruto (Jo.15:8).

A comunhão com Cristo faz-nos receber o poder de Deus, pois, estando a fazer a vontade d’Ele, nossos desejos passam a ser os Seus desejos e, portanto, tudo o que pedirmos será feito, já que o pedido não vem de nós, mas é tão somente execução da Sua vontade (Jo.15:7), pois, sem Ele, nada podemos fazer (Jo.15:5).

A comunhão com Cristo gera o amor fraternal e, assim, passamos a cumprir o Seu mandamento de nos amarmos uns aos outros assim como Ele nos amou (Jo.15:12).

Por isso mesmo, já não seremos apenas servos do Senhor, mas Seus amigos, já que passamos a ter conhecimento de Deus por meio de Jesus (Jo.15:14-16) e, assim, temos acesso ao segredo de Deus (Am.3:7; Ap.10:7), nada nos é oculto, passamos a ter a mente de Cristo, a tudo discernir (I Co.2:12-16).

A comunhão com Cristo gera gozo permanente e completo (Jo.15:11), que é bem diferente da alegria momentânea e enganosa que o mundo oferece (Ec.2:1-3).

A comunhão com Cristo gera o ódio do mundo contra nós, o que nos leva a ser perseguidos durante a nossa peregrinação terrena (Jo.15:18-21) e, em virtude disto, devemos procurar nos fortificar em Jesus para vencermos esta luta, pois a perseguição pode nos fazer parar de produzir o fruto e nos levar ao fracasso espiritual (Mt.13:20,21).

Em meio às perseguições, precisamos combater o bom combate, prosseguir na carreira que nos foi proposta pelo Senhor Jesus rumo ao céu, guardando a fé e mantendo a esperança da glória de Deus (II Tm.4:7; Rm.5:2; 15:4; I Ts.1:10).

A comunhão com Cristo torna-nos testemunhas de Jesus (Jo.15:26,27), porque haveremos de ter ciência de tudo quanto Ele quer e, deste modo, transmitiremos a Sua vontade aos que nos cercam, de forma que seremos prova viva de que o Senhor fala por meio de nós e Ele confirmará o que for dito com sinais, prodígios e maravilhas (Mc.16:20; Hb.2:3,4).

Não foi por outro motivo que as últimas palavras do Senhor Jesus antes de Sua ascensão foi dizer aos discípulos que eles receberiam a virtude do Espírito Santo para serem Suas testemunhas em todos os lugares deste planeta (At.1:8).

Mas não extinguir o Espírito não é apenas manter esta comunhão com o Senhor, faz-se também necessário que estejamos abertos à ampla atuação do Espírito, como veremos, querendo Deus, no próximo artigo.

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo