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NÃO EXTINGUIR O ESPÍRITO – NÃO DEIXANDO APAGAR A CHAMA

Parte 2

Ainda refletindo sobre post do pastor José Gonçalves, presidente das Assembleias de Deus em Água Branca/PI, a respeito do declínio do avivamento pentecostal no Brasil, oportunidade em que aquele renomado ministro do Evangelho nos deixa como alternativa a esta preocupante tendência o que nos disse o apóstolo Paulo em I Ts.5:19: “Não extingais o Espírito”.

No artigo anterior, vimos que, para não extinguir o Espírito, faz-se necessário mantermos comunhão com Jesus Cristo, pois é a comunhão com Ele que nos trará o Espírito Santo para habitar em nós e estar conosco para sempre, sendo nosso Paráclito, nosso Instruidor, nossa Memória Espiritual e nosso Guia.

Mas, além da comunhão com Cristo, para não extinguir o Espírito Santo é preciso que Ele seja mantido “aceso” e “ardente” em nós.

O Espírito Santo é apresentado, nas Escrituras, em diversas figuras, que procuram nos mostrar qual a Sua natureza, a Sua função e o Seu caráter, dentro da pedagogia divina de nos ensinar as coisas celestiais e espirituais a partir das coisas terrestres (Jo.3:12).

Uma destas figuras que se referem ao Espírito Santo é a do “fogo”, como se pode verificar no próprio dia de Pentecostes, quando o Espírito foi derramado sobre a Igreja, e os discípulos viram “línguas repartidas como que de fogo” que repousaram como cada um deles.

Esta imagem já havia sido objeto da pregação de João Batista, que havia anunciado que o Cristo, que viria após ele, batizaria com o Espírito Santo e com fogo (Mt.3:11; Lc.3:16).

O fogo é um elucidativo símbolo do Espírito Santo porque tem ele uma função dupla, qual seja, serve tanto para destruir como para purificar, ou seja, tanto seu uso desfaz algo, como cria algo melhor.

Este duplo papel fez, inclusive, com que os gregos considerassem fosse ele dos elementos formadores da natureza, como a água, o ar e a terra, sendo que o fogo era considerado o “elemento dinâmico”, ou seja, aquele que transformava os seres, diante desta sua já aludida duplicidade.

Ao se comparar o Espírito Santo com o fogo, portanto, temos esta dupla função: o Espírito Santo destrói o pecado, desfá-lo, permitindo que o homem volte a ter comunhão com seu Criador, já que são os pecados que o separam d’Ele (Is.59:2), como também, em permanecendo no salvo, faz com que ele se torne cada dia mais puro, cada dia mais santo, aproximando-o mais e mais de seu Deus.

De forma bem apropriada, o poeta sacro Almeida Sobrinho (1875-?), no hino 155 da Harpa Cristã, assim se expressou: “Com o fogo vem nos inflamar, Teu poder, Teu poder, Teu poder. E de toda a manhã nos limpar, Teu poder, Teu poder, Teu poder “(primeira parte da terceira estrofe).

Por isso, o Senhor Jesus nos diz que o Espírito Santo é quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8), ou seja, por seu intermédio o pecado é destruído na vida do homem, na medida em que ele é convencido pelo Espírito de que é um pecador, precisando, portanto, de um Salvador, que este Salvador é Jesus, o único justo perfeito e que o diabo, a quem este homem está a servir no pecado, já foi julgado e quem o seguir sofrerá a mesma condenação.

O Espírito Santo, como fogo, destrói esta natureza pecaminosa do homem que, ao entregar sua vida a Jesus, tem seus pecados perdoados, lançados no “mar do esquecimento” para que o Senhor nunca mais deles Se lembre (Mq.7:18-20), passando a ser uma nova criatura em Cristo (II Co.5:17).

Mas o Espírito Santo não Se limita apenas a destruir o velho homem, mas também passa a agir na pessoa do salvo de modo que vá se santificando a cada dia, vá se aproximando cada vez mais do Senhor.

Assim é que, por primeiro, ajuda-nos em nossas orações, com gemidos inexprimíveis, aperfeiçoando as nossas preces de modo que possam adentrar no trono da graça (Rm.8:26; Hb.4:16; 10:19-22).

Também nos guia em toda a verdade, fazendo com que ajamos de acordo com a vontade de Deus, de modo a que não sejamos nem surpreendidos com o que há de vir, como também possamos glorificar ao Senhor em nossas atitudes (Jo.16:13).

Da mesma maneira, o Espírito Santo nos ensina todas as coisas, fazendo-nos lembrar do que Jesus ensinou (Jo.14:26), a fim de que estejamos sempre de acordo com a Sua Palavra, andando na verdade, como se exige de todo discípulo de Cristo.

Nestas ações do Espírito Santo, ocorre a purificação, o crescimento espiritual, adquirindo cada discípulo, cada vez mais, a imagem do Filho (Rm.8:29), fazendo deles verdadeiros “cristãos” (At.11:26), ou seja, “parecidos com Cristo”, “pequenos cristos”.

Quando falamos no fogo, porém, vemos que ele somente age enquanto for alimentado, ou seja, para aqui utilizarmos a linguagem científica, não se pode ter combustão (i.e., a queima) sem que tenhamos o comburente (geralmente o oxigênio) e o combustível (i.e., o material que está sendo queimado).

Esta realidade observamos nas determinações que o Senhor deu a Moisés com relação ao culto que deveria ser dado ao Senhor no tabernáculo, que depois foi substituído pelos templos construídos em Jerusalém.

Por expressa determinação divina, o fogo do altar de sacrifício jamais poderia se apagar (Lv.6:12).

Este fogo teve origem divina, pois veio do céu e acendeu pela vez primeira aquele altar, no dia de sua inauguração (Lv.9:24).

Já vemos aqui que este fogo é uma figura do Espírito Santo, que também viria do céu e seria derramado, como línguas repartidas como que de fogo sobre cada um dos discípulos no dia de Pentecostes (At.2:2).

Notemos que o fogo veio do céu para consumir os animais que Arão havia já preparado para oferecer ao Senhor (Lv.9:1-23).

O Espírito Santo foi derramado depois que Jesus já havia Se oferecido como sacrifício pelos pecados de todo o mundo no Calvário. Primeiro, o Espírito Santo veio habitar nos discípulos já na tarde do domingo da ressurreição (Jo.20:22) e, depois, no dia de Pentecostes, foram os discípulos revestidos de poder, tendo a plenitude do Espírito Santo em suas vidas (Lc.24:49; At.1:8; 2:4).

Não há como receber este fogo, portanto, se antes não se tiver convencido do pecado, da justiça e do juízo, se não se tiver crido e confessado que Jesus é o Salvador pela Sua morte e ressurreição (Rm.10:9).

O fogo vem do céu, mas a permanência dele no altar era uma tarefa cometida aos sacerdotes e levitas.

Deus determinou que aquela chama vinda do céu jamais poderia se apagar e, portanto, havia necessidade de se ter material combustível para alimentar aquele fogo.

Por isso mesmo, determinou o Senhor que o sacerdote vestisse a sua veste de linho e as calças de linho sobre a sua carne e levantasse a cinza, quando houvesse o consumo do holocausto, isto é, o sacrifício totalmente queimado, sobre o altar, pondo a cinza sobre o altar. Depois, com outras vestes, o sacerdote deveria jogar a cinza num lugar limpo fora do arraial (Lv.6:10,11).

A primeira providência para não se permitir que o fogo do altar apagasse era a remoção da cinza, o que deveria ser feito logo após o término do sacrifício em que ocorrera a queima, sendo, depois, a cinza levada para fora do arraial.

A cinza era o resultado daquilo que, queimado, não tinha se tornado fumaça nem comida para os sacerdotes. Era o resíduo da ação destruidora do fogo.

Pois bem, sabemos que o Espírito Santo destrói a nossa natureza pecaminosa, de modo que a cinza nada mais é que o resíduo, o que eventualmente ficou como lembrança da nossa vida pecaminosa passada.

As cinzas são as sequelas, as consequências de nossa vida pecaminosa que devem ser extirpadas de nossas vidas, levada para “fora do arraial”. Assim, os ambientes, as amizades, os maus costumes, os maus comportamentos do passado devem ficar para trás, ser totalmente esquecidos, passando nós a ter uma vida nova em Cristo Jesus.

A retirada da cinza se fazia em duas etapas e continuadamente. Logo após a queima, era a cinza juntada ao lado do altar, para não atrapalhar a combustão dos próximos sacrifícios nem permitir que o fogo apagasse; num segundo instante, normalmente uma vez ao dia, era levada para fora do arraial.

Isto nos mostra que, assim, a cada instante, se eventualmente pecarmos, temos de, imediatamente, queimar esta escória, ou seja, permitir que o Espírito Santo, que é este fogo, esteja sempre ardendo em nós, de modo que, na prática de qualquer falta, imediatamente Ele atue demonstrando Sua reprovação, e, diante disto, imediatamente confessemos o pecado e peçamos perdão. Agindo deste modo, que nos é ensinado pelo apóstolo João (I Jo.1:8-2:2), não correremos o risco de o fogo se apagar.

Se, porém, passamos a praticar pecados sem permitir que o Espírito Santo nos leve ao arrependimento e confissão, se passarmos a ter o pecado como hábito, deixando de ouvir a voz do Espírito, Ele Se entristecerá (Ef.4:30) e Se afastará de nós (Sl.51:11) e o acúmulo da cinza fará apagar a chama do Espírito em nossas vidas.

Não se pode deixar acumular cinza no altar, é preciso, a cada instante, a cada sacrifício, pô-la junto do altar.

Isto nos fala da vigilância que precisamos ter para não permitir que iniciemos uma jornada pecaminosa que possa nos fazer perder a comunhão com Deus e a própria salvação.

Precisamos sempre permitir que o Espírito Santo aja em nosso espírito, que tem como uma de suas funções precisamente a consciência, e, se tivermos uma consciência limpa, pura e santa, sempre seremos advertidos das faltas e teremos condição de pôr, de imediato, a cinza junto do altar.

Mas não bastava pôr a cinza junto do altar, era necessário levá-la para fora do arraial num lugar limpo.

Isto nos fala do abandono completo da prática daquele pecado que acidentalmente cometemos. É preciso “virar a página”, retirar esta conduta de nossas vidas por completo, colocá-la “fora do arraial”.

Assim como o Senhor Se esquece de nossas iniquidades quando nos perdoa, devemos também nos esquecer das coisas que para trás ficam (Fp.3:13), pois não podemos ficar presos ao passado, ao que correspondia ao velho homem, não repetindo o mesmo erro da mulher de Ló, o que é especificamente dito por Cristo (Lc.17:32).

Muito salutar a prática, às vezes até exagerada, dos primeiros anos de nossa denominação, em nosso país, segundo a qual os crentes procuravam deixar de frequentar os lugares de antes da conversão, desfazer-se das amizades antigas, afastar-se das pessoas com quem conviviam na prática do pecado. Se não podemos ser sectaristas, pois, como sal da terra e luz do mundo temos de conviver com as pessoas para ganhá-las para Cristo, este zelo é extremamente saudável, nada mais é que “jogar a cinza fora do arraial”.

É imperioso que, no dia-a-dia, os salvos na pessoa de Cristo deixem o embaraço e o pecado que tão de perto os rodeia (Hb.12:1), tendo uma atitude de vigilância, que é pressuposto para que alcancemos a santificação (Mc.13:37).

Jesus Cristo faz questão de dizer que são os servos vigilantes e prudentes que alcançarão a salvação (Mt.24:45; Lc.12:42). Jesus diz que vigiar vem até antes de orar (Mc.13:33; 14:38).

A vigilância traz ao servo de Deus o necessário para que ele prossiga a sua jornada para o céu. Quando deixamos o embaraço e o pecado, diz o escritor aos hebreus, passamos a correr com paciência a carreira que nos está proposta, ou seja, temos condição de discernir o que Deus quer de nós, o que devemos fazer e, deste modo, sempre estaremos a glorificar ao Senhor, a fazer-Lhe a vontade.

Como diz o apóstolo Paulo, quando esquecemos as coisas que para trás ficam, podemos mirar o alvo, o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, passamos a entender que nosso objetivo é chegar à cidade celestial (Fp.3:14,20,21).

As cinzas retiradas também simbolizam o aperfeiçoamento dos santos, pois, com a retirada das cinzas, o que não presta é jogado fora, ficando um ambiente mais puro.

É o que o fogo faz com os metais que, submetidos a grande aquecimento pelo fogo, separam-se das impurezas que estavam junto deles no ambiente natural, tornando o metal mais puro e valioso, torna o metal refinado como diz o salmista (Sl.12:6).

Neste sentido, aliás, o apóstolo Pedro diz que a nossa fé é provada, assim como o ouro que, provado pelo fogo, é mais puro, de sorte que, provada a nossa fé, ela se torne em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo (I Pe.1:6,7).

O Espírito Santo, quando nos ensina todas as coisas, nos guia em toda a verdade e nos faz lembrar o que Jesus ensinou, permite a nossa santificação, pois somos santificados notadamente pela Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17), Palavra que é como prata refinada em forno de barro e purificada sete vezes (Sl.12:3).

O Espírito Santo faz com que suportemos as provações, que nos trarão aperfeiçoamento espiritual, como também nos proporciona maior santidade e pureza, daí porque o justo ter de continuadamente, enquanto estiver sobre a face da Terra, procurar praticar ainda mais justiça e o santo a ter cada vez mais santidade (Ap.22:11).

Mas o fogo, além de destruir e purificar, também aquece. A combustão produz, diz a física, como efeito a liberação de energia na forma de calor.

Desta realidade, o já citado poeta sacro Almeida Sobrinho (1875-?) também não se esqueceu, ao afirmar no hino 155 da Harpa Cristão: “Aquece os frios, ó Senhor, faze os que dormem despertar, nós Te suplicamos com fervor, Teu poder, Teu poder, Teu poder” (segunda parte da terceira estrofe).

Ora, quando deixamos o Espírito Santo atuar livremente em nossas vidas, quando Lhe seguimos sempre as orientações, temos como resultado “a liberação de energia na forma de calor”, ou seja, recebemos fervor espiritual e ficamos muito mais dispostos a servir a Deus e a glorificar o Seu nome.

O apóstolo Paulo diz que devemos ser fervorosos de espírito, servindo ao Senhor e que tal fervor advém do cuidado que tenhamos (Rm.12:11), em mais uma advertência bíblica para que sejamos vigilantes e, como consequência disto, teremos fervor espiritual, o que traz a prontidão no serviço.

O salmista disse que seu coração fervia com palavras boas, com aquilo que fazia no tocante ao rei (Sl.45:1).

Ora, quando temos comunhão e submissão ao Espírito Santo, Ele nos guia em toda a verdade, nos ensina todas as coisas e nos faz lembrar o que Jesus disse e o efeito destas “palavras boas” outro não é senão o fervor espiritual, o aquecimento do coração, a alegria da salvação, a disposição para o serviço e para o trabalho na obra de Deus.

Devidamente aquecidos pelo Espírito Santo, afastaremos de nós a aproximação do inimigo e, desta maneira, num verdadeiro círculo virtuoso, estaremos cada vez mais em condição de nos aproximarmos do Senhor.

Todos sabemos que uma panela quente não é frequentada por mosquitos ou outros animais, mas que uma panela que estiver fria e destampada é um convite para que tais seres perniciosos se aproximem e até se alimente da comida que lá esteja.

Na vida espiritual não é diferente. Se deixarmos a chama do Espírito arder, estaremos espiritualmente aquecidos e as hostes espirituais da maldade nem se aproximarão de nós, mas se dermos lugar à frieza, em pouco tempo estaremos envolvidos com estes seres perniciosos.

Deixar a chamar arder é fundamental para que não extingamos o Espírito e sejamos não só vitoriosos, mas instrumento para a vitória espiritual de muitos.

Como diz conhecido cântico: “Não deixe a chama apagar, esta chama do Espírito, mas ponha a lenha no altar, faça o fogo aquecer”. Amém!

 

* Pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP e colaborador do Portal Escola Dominical (portalebd.org.br).

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo