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O DECLÍNIO DO AVIVAMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL – Parte 4

COMPROMETIMENTO DOS LÍDERES FUNDADORES

No artigo anterior, prosseguimos o estudo da feliz afirmação do pastor José Gonçalves, pastor-presidente das Assembleias de Deus em Água Branca/PI, comentarista das Lições Bíblicas da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) e membro da Comissão Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), que passaremos a analisar.

Eis a mui feliz análise deste grande estudioso das Escrituras: “O pentecostalismo começou como um movimento periférico que, graças ao poder do Espírito Santo e ao forte comprometimento de seus líderes fundadores, conquistou relevância, reconhecimento e prestígio. Contudo, aquilo que foi conquistado por força de intervenções sobrenaturais e muitas lágrimas derramadas dá sinais de arrefecimento e esvaziamento. A meu ver, na base desse esfriamento estão o secularismo e consumismo que transformaram igrejas em casas de shows e entretenimento; o institucionalismo, que fomentou disputas por espaço e poder, transformando algumas Convenções em verdadeiras Prefeituras; e o afrouxamento ético e doutrinário, que mundanizou muitas igrejas e as converteu em meros clubes sociais. Fica o alerta bíblico: ‘Não apagueis o Espírito’ (I Ts.5:19).”

Temos aqui, então, o segundo fator apontado pelo pastor José Gonçalves para o avivamento em nosso país, que é o forte comprometimento dos líderes fundadores.

Todas as lideranças pioneiras das denominações pentecostais no país, sejam os missionários estrangeiros, sejam os primeiros líderes nacionais, não mediam esforços na tarefa de evangelização, portando-se precisamente como os crentes da igreja primitiva.

Seu interesse era a salvação das almas e o faziam de forma incansável, desafiando todos os obstáculos imensos existentes, desde as dificuldades de transporte e de comunicação, como também a própria perseguição.

Neste ponto, aliás, ousamos discordar um pouco do preclaro pastor presidente das Assembleias de Deus de Água Branca/PI, para dizer que o comprometimento não era apenas das lideranças, mas também da membresia em geral.

Os crentes, em geral, não deixavam de evangelizar, seja participando das atividades evangelizadoras da igreja local, seja por conta própria, mesmo onde não havia igrejas ainda estabelecidas.

Como já dissemos, os primeiros membros das Assembleias de Deus em Belém/PA, ao deixarem aquela cidade, no ocaso do ciclo da borracha, para onde foram iniciaram a pregação do Evangelho, por conta própria, dando origem a grandes igrejas locais da atualidade.

Era muito comum que missionários ou pastores fossem até tais locais quando comunicados pelos membros evangelizadores de que lá já havia um grupo que servia ao Senhor e o que faziam era tão somente ir até lá para organizar a nova igreja e estabelecer ali lideranças.

Aliás, ao fazerem assim, repetia-se precisamente o que se lê no livro de Atos dos Apóstolos, quando vemos que assim surgiram as igrejas locais tanto na Judeia, Samaria e Galileia (Cf. At.8:4; 9:31) como as próprias igrejas gentílicas, a começar de Antioquia (At.11:19-23) e, depois, os trabalhos abertos nas viagens missionárias do apóstolo Paulo (At.14:21-23).

Notemos que esta forma, completamente bíblica, reproduziu-se não só nas Assembleias de Deus, mas também na Congregação Cristã no Brasil e na Igreja Batista Independente, as outras duas denominações pentecostais contemporâneas a nossa em nosso país.

O batismo com o Espírito Santo, a manifestação dos dons espirituais e a realização de sinais, prodígios e maravilhas traziam as consequências inevitáveis que são a perseverança na doutrina dos apóstolos, nas orações, na comunhão, no partir do pão, a manifestação do temor do Senhor e a salvação das almas (At.2:42-47).

O resultado disto foi o crescimento vertiginoso das denominações pentecostais, crescimento quantitativo e que tornou, inevitavelmente, os pentecostais um segmento relevante, reconhecido e que adquiriu prestígio na sociedade.

Um dos graves problemas que levaram ao declínio do pentecostalismo no Brasil foi a ambição pela obtenção do poder político, pela obtenção do poder econômico, quando se percebeu o reconhecimento, a relevância e o prestígio que os pentecostais passaram a ter na sociedade.

Estas circunstâncias fizeram com que muitos, notadamente líderes, abandonassem a “periferia” e quisessem passar a frequentar a elite, mudando do “alpendre de Salomão” para o “Sinédrio”.

Foi este movimento que fez introduzir-se o paganismo na Igreja, no século IV, a partir do reinado do imperador Constantino e que deu origem à Igreja Católica Apostólica Romana.

Foi este movimento que fez com que as denominações surgidas da Reforma Protestante, notadamente as de origem luterana, se transformassem nas igrejas estatais protestantes hoje existentes na Europa e que se constituem, atualmente, em organizações apóstatas.

Foi este movimento que fez com que a Igreja Anglicana sempre fosse um segmento que mais obstaculou do que beneficiou a evangelização do mundo, levando o Senhor, inclusive, a, dentro de seu seio, sempre promover avivamentos que, invariavelmente, faziam nascer outros movimentos mais conformes à verdade bíblica, como os não-conformistas ou os metodistas e que deram grande impulso à evangelização mundial na época do Império Britânico.

Este desejo de transformação do reconhecimento, relevância e prestígio, advindos de intervenções sobrenaturais, da ação do Espírito Santo, em meio a lágrimas derramadas, sejam lágrimas decorrentes dos sofrimentos e perseguições, inclusive com mortes de verdadeiros mártires, sejam lágrimas resultantes da alegria do Espírito Santo e da presença de Deus e do Seu poder entre os crentes, em poder político, social ou econômico, esta tentativa de “apropriação” dos resultados espirituais em vantagens materiais constituiu-se no primeiro fator que comprometeu o avivamento pentecostal e deu início a seu arrefecimento, ao seu declínio.

Como diz Salomão, “…não há novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós” (Ec.1:9 “in fine”,10).

No avivamento ocorrido em Samaria, o primeiro que se tem notícia após a dispersão dos discípulos de Jerusalém, apareceu Simão querendo, por dinheiro, adquirir poderes sobrenaturais e recuperar o poder que havia perdido com a própria evangelização (At.8:9-13,18,19).

Nossa conduta, diante de tal comportamento, deve a mesma que tiveram os apóstolos, ou seja, imediata repulsa e exclusão do nosso meio deste tipo de gente (At.8:20-24).

Quando se desmascarar esta gente e for ela posta em seu devido lugar, ou seja, fora da comunhão da igreja se não houver arrependimento, estancaremos este relevante fator de declínio espiritual em nosso meio.

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo