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O DECLÍNIO DO AVIVAMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL

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Parte 2

No artigo anterior, além de termos falado sobre o avivamento pentecostal e sua continuidade ainda em nossos dias, fizemos menção de feliz afirmação do pastor José Gonçalves, pastor-presidente das Assembleias de Deus em Água Branca/PI, comentarista das Lições Bíblicas da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) e membro da Comissão Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), que passaremos a analisar.

Eis a mui feliz análise deste grande estudioso das Escrituras: “O pentecostalismo começou como um movimento periférico que, graças ao poder do Espírito Santo e ao forte comprometimento de seus líderes fundadores, conquistou relevância, reconhecimento e prestígio. Contudo, aquilo que foi conquistado por força de intervenções sobrenaturais e muitas lágrimas derramadas dá sinais de arrefecimento e esvaziamento. A meu ver, na base desse esfriamento estão o secularismo e consumismo que transformaram igrejas em casas de shows e entretenimento; o institucionalismo, que fomentou disputas por espaço e poder, transformando algumas Convenções em verdadeiras Prefeituras; e o afrouxamento ético e doutrinário, que mundanizou muitas igrejas e as converteu em meros clubes sociais. Fica o alerta bíblico: ‘Não apagueis o Espírito’ (I Ts.5:19).”

Por primeiro, é importante observar que o pastor José Gonçalves considera o pentecostalismo como um “movimento periférico resultante do poder do Espírito Santo e do forte comprometimento das lideranças fundadoras”.

O pentecostalismo é, primeiramente, um “movimento”, ou seja, é algo “dinâmico”, que não admite um “enquadramento”, uma “rigidez estrutural”, não é um “quadro com moldura”.

A própria ideia de que o avivamento pentecostal teve um lugar de origem e tem uma uniformidade não corresponde à realidade histórica. Como já dissemos, o Senhor iniciou este avivamento em vários lugares do mundo, mais ou menos simultaneamente, de diferentes maneiras, mas resultando num só propósito: a retomada do revestimento de poder como premissa para uma evangelização agressiva e de todo o mundo, com a manifestação do poder de Deus através dos dons espirituais e dos sinais que seguem aos que creem em Jesus.

Tratava-se da restauração do estado espiritual vivido no avivamento apostólico e que permaneceu existindo durante toda a história da Igreja, mas de modo pontual e localizado, e que passou a ter uma intensidade cada vez maior depois da Reforma Protestante, como se pôde verificar nos avivamentos morávio e wesleyano, precursores do avivamento pentecostal.

Assim como um “som como de um vento veemente e impetuoso” encheu “toda a casa” em que os discípulos estavam reunidos no dia de Pentecostes (Cf. At.2:1,2), o Espírito Santo também Se derramou em várias partes do mundo, na Igreja, que é “a casa de Deus” (I Tm.3:15; Hb.3:6).

Este som não “respeitou” as limitações do cenáculo, não entrou pelas “frestas”, mas “encheu toda a casa de Deus”, revestindo de poder a muitos servos do Senhor que buscavam a presença do Senhor e os capacitando a pregar com demonstração do Espírito e de poder (Cf. I Co.2:4) o Evangelho não só nos locais em que se encontravam, mas, a partir dali, por todo o mundo, promovendo o maior avivamento da história da Igreja, repetindo, assim, o que já havia sido escrito por Marcos: “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram” (Mc.16:20).

É um “movimento”, que, deste modo, não se prende a denominações religiosas, a organizações eclesiásticas ou paraeclesiásticas, e que, sem controle algum de quem quer que seja, continua, até hoje, a desafiar todas as estruturas humanas, levando pessoas à salvação na pessoa de Jesus Cristo, a despeito das perseguições e obstáculos que, desde então, têm sido levantados em todo o mundo contra ele.

Tanto assim é que, em todos os lugares em que se tentou, de alguma maneira, restringir a pregação do Evangelho completo, os que assim procuraram fazer simplesmente tiveram frustrados seus êxitos, tanto que, em pouco tempo, multidões creram em Jesus e foram, igualmente, revestidas de poder, a despeito das oposições enfrentadas.

Assim, num Brasil predominantemente católico romano, as Assembleias de Deus e outras denominações pentecostais tiveram vertiginoso crescimento; numa China comunista, que se isolou do mundo, os cristãos dobraram de número mesmo diante da fase mais cruel da revolução vivida naquele país; as conversões hoje aumentam em países islâmicos, notadamente aqueles em que há um radicalismo doutrinário intenso como no norte da África, no Afeganistão do Talibã ou no Paquistão.

Estamos diante de um “movimento”, um “movimento” do Espírito Santo, que ninguém pode deter, ninguém pode impedir, a exemplo do que vemos, por exemplo, nos furacões que assolam alguns países, notadamente no Caribe e nos Estados Unidos, onde nada pode ser feito para deter a fúria dos ventos. É “o vento que assopra onde quer”, como disse Nosso Senhor a Nicodemos (Jo.3:8).

Nos dias hodiernos, dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, esperam muitos, legitimamente, um grande avivamento antes da retirada da Igreja sobre a face da Terra.

Entretanto, muitos acham que podem “provocar avivamentos”, ou que a ação do Espírito Santo está, de alguma forma, sob o controle do homem. Ledo engano. Trata-se de um “movimento”, “um repentino som como que de um vento veemente e impetuoso” (At.2:42), que jamais será controlado ou provocado pelo ser humano.

Os avivamentos espirituais são ações do Espírito Santo e devem ser buscados, procurados, mas jamais serão controlados ou planejados pelos homens. Lembremos sempre disto e, deste modo, submissos à direção do Espírito de Deus, veremos ocorrer avivamentos e deles tomaremos parte.

Mas que tipo de movimento foi o do avivamento pentecostal no Brasil? É o que veremos na sequência deste artigo.

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo