Colunistas Geisel de Paula

A gênese de toda idolatria

            Se Deus foi o Criador de todas as coisas, e Adão e Eva foram conhecedores desse Ser eterno como nunca seremos, pelo menos desse lado da vida, como o mundo se tornou idólatra, a ponto de apenas 2.000 anos depois do pecado, no período do patriarca Abraão, a Terra era toda politeísta, inclusive a própria família de Terá, como nos indica o livro de Josué, no capítulo 24? Como foi possível essa tamanha degradação espiritual e como esse processo se iniciou?

            Na história do mundo vemos alguns indícios, como, por exemplo, no primeiro sítio arqueológico de templo primitivo já encontrado em Gobleki Tepe, na atual Turquia, que remonta quase dez mil anos atrás, e o endeusamento de faraós no Egito antigo, mas eu, particularmente, acredito que a primeira evidência de idolatria se encontra na Bíblia, no livro do Gênesis, no capítulo 10, versículos 8 a 14, que nos dão algumas pistas do que pode ter acontecido. Ninrode nasceu após o Dilúvio, era guerreiro e tinha a fama de herói. Foi o primeiro da história. A Bíblia diz que ele começou a ser poderoso na Terra. Poder é algo muito perigoso em mãos erradas. E quando digo mãos erradas, quero dizer qualquer um, exceto Deus. Anjos e homens não sabem lidar com o poder. Um anjo deixou o seu principado e, de Lúcifer, tornou-se Satanás, pois queria glória para si (não seria essa a semente da idolatria?), e, humanamente falando, Ninrode foi a primeira figura de vulto na história (estamos falando de 1.500 anos após o pecado e cerca de duzentos anos após o Dilúvio), ganhando o favor de todos, pois era um exímio caçador diante do Senhor. Entre o juízo de Deus na Terra com o Dilúvio e o chamamento de Abraão do meio da idolatria, a figura mais proeminente é a de Ninrode.

Relevo da (suposta) imagem de Ninrode

            O profeta Miquéias (6.5) afirma em um recurso poético, que as terras da Assíria e as terras de Ninrode são símbolos de todas as nações ímpias do mundo. Foi dele o primeiro império do mundo em Sinar, na babilônia, e que, para evitar a dispersão rápida da raça humana, empreendeu o projeto de construção da torre de Babel. Gira em torno de trezentas referências bíblicas sobre Babilônia nos textos sagrados, e grande parte delas tem paralelo com a idolatria, inclusive no livro do Apocalipse, onde é chamada de mãe das Prostituições e Abominações da Terra (17.5). Idolatria nada mais é do que trair Deus com outros deuses (uma espécie de prostituição). Ele ainda fundou outras cidades importantes na história como Nínive e Calá. De acordo com o Livro de Jasar, uma obra extrabíblica, criou-se uma lenda de que Ninrode teria adquirido poderes especiais devido ao uso de uma capa sobrenatural, presente de seu pai, que ganhou de Noé, que, por sua vez, teria recebido de Deus. Ao usar o vestuário, Ninrode dispunha de poder de grande influência sobre os animais e sobre seus semelhantes. A obra apócrifa ainda o descreve como líder carismático, muitíssimo inteligente e forte. A tradição acerca de Ninrode é forte entre os árabes da atualidade. Atribuem a ele quase todas as grandes obras públicas da antiguidade, e associam sua pessoa ao mitológico Gilgamesh (metade homem e metade deus).

            Em algum momento desse período histórico, as pessoas preferiram acreditar em um homem famoso, habilidoso, construtor de cidades, poderoso caçador e engenheiro, do que crer em um Deus invisível, Criador dos Céus e da Terra. A fama de Ninrode levou ao surgimento da idolatria, e outros deuses foram criados a partir de seu mito, e logo cerca de duzentos anos mais tarde, a Terra era praticamente toda politeísta. Esse foi o momento de Deus chamar um idólatra, filho de fabricante de ídolos, para tornar-se monoteísta e daí surgir uma nova realidade humana. Abraão era o seu nome. Mas essa é outra história.