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Alergia à verdade

Internet

“Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 4.3,4).

Introdução

             Recentemente, um youtuber e influenciador digital famoso, pelo podcast Flow (fluxo), chamado Monark, em um dos programas, fez um comentário defendendo a criação de um partido nazista no Brasil, e que tinha o direito de ser antissemita, se assim desejasse. Após a repercussão negativa do caso (os donos da plataforma têm origem judaica e vários patrocinadores colocaram fim em seus contratos), Monark chegou a pedir desculpas pelo ocorrido, afirmando que estava bêbado na ocasião; mas acabou sendo desligado do programa. Após algum tempo, em entrevista a outro programa de podcast, ele afirmou que se arrependeu do pedido de desculpas, pois a liberdade de expressão deve ser uma lei pétrea de qualquer nação. Ele considerou o seu “cancelamento” injusto. Esse é apenas um exemplo clássico dessa sociedade pós-moderna em que vivemos, dessa nova geração que, em grande parte, não aceita ser questionada, pressionada, confrontada e ainda mais ser julgada. O direito de fazer o que bem entendem está acima de qualquer lei ou julgamento humano.

Aplicação

            Esses são os tempos em que vivemos. Tempos previstos e anunciados pelo apóstolo Paulo em sua segunda carta ao seu discípulo e companheiro de viagens Timóteo: “Chegará um tempo”, diz o apóstolo, e esse tempo chegou. É o nosso tempo, o tempo em que vivemos hoje; é a nossa geração que está vivendo essa tragédia. “Em que não sofrerão (não suportarão, não escutarão, não quererão), a sã doutrina (o ensino verdadeiro). A verdade dói. A verdade machuca. A verdade incomoda. A verdade envergonha. A verdade dá coceira em quem ouve. A geração de hoje, a Z e a αlfa que está vindo aí, tem alergia à verdade, tem ojeriza a ser confrontada ou julgada em que quer que seja. A cultura de cancelamento das redes chegou também no meio evangélico. Basta um posicionamento firme nas redes e você coloca tudo a perder.

            Não foi isso que aconteceu com a cantora gospel Bruna Karla? Em um podcast da atriz Karina Bacchi, o Positivamente, ela relatou que em uma conversa informal com um amigo, disse que não poderia cantar em seu casamento, por ele ser gay e iria se casar com outro homem. Ela disse que respeitava sua escolha, que ele continuava sendo seu amigo, mas que não podia aceitar aquela sua condição, por ser contrária a Palavra de Deus. Ela simplesmente teve um posicionamento que condiz com o Evangelho e com o Cristianismo. Nada de mais. Mas a lacração foi intensa. A cantora Anitta deixou de segui-la, a apresentadora Xuxa chamou a fala dela de “coisa ridícula” e outros famosos também se manifestaram. Mas as críticas não foram só dos de fora, mas também dos de dentro, de gente da igreja, que a criticou por se posicionar de maneira tão crítica em relação a um assunto tão delicado. Ex-evangélicos como Jojo Todynho e Jotta A posicionaram-se de forma veemente contra a cantora e “pregaram” que Deus ama e chama a todos de amigos. Todos sem exceção.

            A geração de hoje não suporta escutar verdades; não aguenta ouvir sobre pecados, principalmente aqueles de estimação; não está acostumada a ouvir pregações sobre o juízo divino, sobre a ira de Deus, sobre o inferno e a condenação eterna. Todos querem ser entretidos, bajulados, reverenciados, divertidos, mas nunca confrontados. Expor o pecado é inadmissível, demonstrar fragilidades é vergonhoso e reconhecer o erro é uma insensatez. Para muitos dessa geração, o filho pródigo tinha que voltar exigindo o que era seu por direito; Pedro não precisava chorar por ter traído o Salvador e Paulo não precisava expor Pedro publicamente. Mas não é isso o que a Bíblia nos ensina. O filho pródigo foi perdoado, porque se arrependeu dos caminhos errados; Pedro foi lembrado, porque buscou arrependimento; e ele foi censurado por Paulo, porque era repreensível, ou seja, merecia a repreensão ou a advertência. Deus nos trata como filhos, não como limitados mentais. Filhos têm direitos, mas também têm responsabilidades.

Conclusão

            Aprendi que o Evangelho tem a ver com o que posso perder, e não com o que posso ganhar. Há muitos se perguntando: “O que ganho servindo a Cristo?” E as bonanças são muitas, mas quase todas espirituais. Mas é preciso perder também. A começar pelo Eu, o ego idolátrico que temos por nós mesmos, nossa justiça, nossos desejos, nossa vontade, nosso ser, para que Deus preencha todos os espações disponíveis em nós, e que não haja mais nada de nós; seja tudo Ele. Ainda que o mundo se revolte contra nós, valerá a pena, pois temos o que realmente importa. Ainda que nos julguem como santarrões e nos apedrejem, a convicção e a fé permanecem inabaláveis, pois nós bem sabemos em quem temos crido. É por isso que o apóstolo Paulo diz assim: “…por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem-conhecidos; como morrendo e eis que vivemos; como castigados e não mortos; como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo e possuindo tudo” (2 Co 6.8-10).

            O que valeu para dois mil anos atrás, continua valendo ainda hoje. A porta não passou por reformas, ela continua estreita; o caminho não foi duplicado, ele continua estreito. Não há como passar bagagens ou embaraços. Só passa você e mais ninguém. Aquilo que era pecado lá atrás, continua pecado hoje, se a Bíblia o chama assim. A Palavra de Deus não precisa ser atualizada ou interpretada à luz de nossa geração; ela precisa, sim, é ser vivida em cada um de nós, pois o próprio Paulo nos chama de cartas vivas para o mundo. O mundo nos lê. E se a leitura não os agrada, não é problema nosso; cada um vai prestar contas de si mesmo diante de Deus. O que não pode faltar é a verdade. Eles vão escolher entre a verdade e a fábula. A escolha de cada um selará o destino que irão ter. Céu ou inferno. Ou a pessoa passa a vida coçando, ou toma o único remédio para tirar essa alergia. Uma dose transbordante da graça de Deus, que alcança aqueles que sabem que estão miseravelmente perdidos. Só a estes.