Entrevistas Missões

Ceifeiros Entrevista: Pr. Paulo Lucas Sacramento

Foto: Tiago Bertulino

O jornal Ceifeiros conversou com um dos decanos do Ministério do Belém, Pr. Paulo Lucas Sacramento, que relembrou fatos interessantes de seu ministério, como os “incêndios” que apagou, com seu jeito conciliador, o qual lhe rendeu a alcunha de “pastor bombeiro”. Apaixonado por missões, o líder fala de sua participação na criação do órgão de conscientização missionária Ceifeiros em Chamas e de sua experiência como missionário nos Estados Unidos. O Pr. Paulo Lucas é ministro do Evangelho há 50 anos; mestre em teologia pela FAETEL, licenciado em Filosofia, História e Psicologia pela Faculdade Salesiana. Casado com Marlene Martins Sacramento há 59 anos, o casal teve nove filhos, dos quais sete estão vivos: Oslair, Francisco, Quezia, Cristiane, Marcos, Paulo Júnior e Elder, que deram ao casal 18 netos e 7 bisnetos.

Pr. Paulo Lucas e sua esposa, Marlene

O senhor assumiu o Setor de Barueri/SP no início de 2019 já com a incumbência de apagar um “incêndio”. Mas essa não foi a primeira vez que isso aconteceu. É verdade que tem a fama de “pastor bombeiro”?

É verdade. Desde que fui separado pelo Pr. Cícero Canuto de Lima e pelo Pr. José Wellington, há 50 anos, jamais disse não ao Ministério. Destaco pelo menos dois grandes “incêndios”; um em 1985, quando o Setor de Osasco sofreu uma grande divisão, que, inclusive, levaram até alguns membros das congregações. Na ocasião, eu era pastor na cidade de Presidente Prudente/SP e 2º Secretário da CONFRADESP. Após dizer sim à comissão que tratava o caso, fui para Osasco sozinho, com Deus na minha frente, em uma noite fatídica em que a igreja seria entregue a outro Ministério. Mas Deus falou comigo e também ao outro pastor, para que me entregasse a igreja. Foi uma grande vitória para a AD Belém.  Fiquei em Osasco quatro anos e seis meses, quando construí sete templos, inclusive a sede atual. A segunda grande vitória foi em Barueri. O pastor que estava lá dividiu a igreja, danificou o templo, ao praticar um verdadeiro ato de vandalismo. Quebrou o forro, o telhado, derrubou algumas paredes, danificou a instalação elétrica, levou os instrumentos e os bancos. O Pr. José Wellington me chamou para que eu assumisse o Setor e em pouco tempo fizemos uma reforma total no templo-sede e o povo que saiu já está voltando.  Hoje, a AD Belém em Barueri tem uma nova orquestra, um novo coral e Deus tem nos dado muita graça.

Como tem sido a experiência de pastorear um Setor que estava em crise, e, após um ano, enfrentar uma pandemia que se estende até os dias de hoje?

Tenho 79 anos de vida e de Ministério do Belém, e aprendi que os problemas se resolvem nas madrugadas. As lutas que enfrento, às três horas da manhã conto para Jesus. Primo pelo ensino da Palavra. O que resolve divisão e problemas, é a Bíblia! E esse é o meu cuidado: ensinar e doutrinar à igreja e faço isso já durante 50 anos em todas as igrejas por onde passei, e que eram problemáticas. Como você mesmo disse, como “bombeiro”, resolvi na Bíblia, com o ensino da Palavra e o resultado são almas, batismo com o Espírito Santo, cura divina, reconciliação, e a igreja em plena comunhão; esse tem sido o meu alvo para poder endireitar o que está estragado ou perdido.

Recentemente, o senhor chegou aos 50 anos de ministério. Sonhava ter um ministério tão longevo?

Não imaginava, mas também preservei muito a doutrina e minha saúde. Até hoje o que Deus tem me dado é muita saúde e o obreiro tem que preservar sua vida de oração, de ensino e a saúde. E, pra dizer a verdade, espero ir longe ainda.

Por falar em saúde, o senhor enfrentou uma batalha contra um câncer na próstata. Como foi essa fase de sua vida?

Eu tive um problema na próstata constatado por um exame de rotina e o médico me disse que seria necessário fazer uma cirurgia, e que eu ficaria com um problema de incontinência urinária. Orei a Deus e conversei com meus filhos e um deles, o mais velho, indicou-me um médico alemão, lá de Curitiba, e agendou-me uma consulta com ele, que me explicou como seria o procedimento, o qual fiz após alguns dias com muito sucesso e, graças a Deus, não fiquei com sequela.

Soube que o senhor foi militar. O que o motivou a deixar a carreira para se dedicar ao ministério?

Na época, eu era o dirigente do Setor no Tucuruvi, hoje Santana, e mesmo, na vida militar, já era pastor há quatro anos. Muitos obreiros do Ministério do Belém falaram para que eu deixasse a carreira militar pela igreja; porém, aguardei Deus confirmar. Em 1974, Jesus falou comigo. Além de militar, eu fazia um “bico”, e, em certo dia, fui dispensado desse trabalho. Ao retornar para casa, passei por uma praça em frente à Aeronáutica, e ouvi uma voz dizer: “Paulo Lucas Sacramento”. Olhei e não vi ninguém. Perguntei quem era e Ele me respondeu: “Sou Eu. Deixa tudo, vou cuidar de você até o fim”. No outro dia, fui ao quartel, pedi baixa e fui empossado na AD Belém em Orlândia/SP. Assumi a igreja ainda na condição de militar, porque a baixa demorou uns dias, pois um coronel não queria que eu saísse; mas, com a ajuda de outros oficiais, alcancei a vitória. De 1974 pra cá pastorei em Orlândia, Ribeirão Preto, Descalvado e Presidente Prudente, no Estado de São Paulo, e Aquidauana, em Mato Grosso do Sul. Retornei e ocupei o Setor de Osasco/SP e, em seguida, fui para os Estados Unidos.

O senhor passou 14 anos como missionário nos Estados Unidos. Quais aprendizados essa experiência lhe trouxe e porque decidiu voltar ao Brasil?

Fui convidado pelo Ministério de Santos/SP para assumir uma base missionária em Miami Garden, na Flórida. Aceitei o desafio. Era um local espaçoso, com apenas seis pessoas. Após um ano, alcançamos 101 membros; isso é um absurdo por se tratar dos EUA. Abri um trabalho em Pompano Beach. Meu filho, Paulo Lucas Junior, está lá até hoje. Depois, a base missionária foi vendida e continuei na América, pois já tínhamos uma igreja com 180 pessoas. Em cinco anos, chegamos a 300 e nos anos 2000, já tínhamos 540 membros. Isso na América é uma mega igreja. Fiz um trabalho social conveniado com o governo; este ano completa 22 anos de existência. É o Food Bank, banco de comida. Toda terça-feira, são entregues 500 cestas básicas, diferentes das do Brasil, pois têm carne, peixe, etc. Esse trabalho social atende brasileiros, americanos, haitianos, hispanos e, com isso, perante as autoridades, nossa igreja lá tem um bom conceito. Durante os 14 anos que estive lá, sustentamos 54 missionários. Alguns no Peru, 16 em Honduras, 25 em Cuba. Quando enfrentamos a crise imobiliária na América em 2008, nesse interim, 300 pessoas que eram membros de nossa igreja voltaram para o Brasil, pois perderam o emprego. A obra missionária na época sofreu muito e tivemos que cortar recursos. Após esse período lá, em uma certa noite, Deus falou comigo. “Volta para o Brasil depressa!” Voltei, vim aqui para o Belém, e o pastor José Wellington disse-me: “Fica comigo aqui”, e estou até hoje.

O Senhor fez parte da comissão que fundou o órgão de conscientização missionária Ceifeiros em Chamas. Como cofundador, que lembranças tem dessa ocasião?

Para falar sobre esse assunto, preciso mencionar o trabalho dos Gideões Missionários em Camboriú/SC, onde preguei em nove ocasiões, desde o quinto encontro. Porém, devido eu ser convidado, em uma convenção realizada pela CONFRADESP, um dos pastores, que já dorme no Senhor, fez uma reclamação sobre o povo de São Paulo ir a Camboriú, e ele me atacou de uma forma direta e disse: “O povo de São Paulo vai, porque o nosso secretário da convenção é um dos pregadores dos Gideões”. Eu me defendi, ao dizer que amo missão e Camboriú faz missão. O presidente perguntou-me o que deveríamos fazer, e sugeri que deveríamos também nos dedicar à obra missionária. Naquele dia, foi registrado o meu nome, o do Pr. Valdir Bícego e de mais três outros pastores. Na primeira reunião que fizemos, chamamos o referido órgão de Ceifeiros em Chamas. Na realidade, não alcançamos o alvo, que era fazer missão no estilo de Camboriú. O plano inicial para o Ceifeiros em Chamas era enviar missionários.

Família Sacramento

O senhor não é só conhecido como “pastor bombeiro”, mas também como construtor de templos. Explique:

Sempre gostei muito de construção. Por onde passei, construí templos. Em São Paulo, o maior templo foi a sede do Setor em Osasco, onde construímos também mais seis congregações. Hoje, são ao todo 39 templos que construí, mas não levei nenhum tijolo para casa e não tenho foto, porque essa é uma obra de Deus. Já estamos com a planta pronta para Barueri, onde nesses dois anos conseguimos três terrenos já. O povo está assustado, porque há 21 anos o Setor não comprava um terreno. A sede atual está há 18 anos em um prédio alugado. O futuro templo está localizado em uma área central, onde está todo o comércio de Barueri, em frente ao Ginásio de Esportes em uma área de 30 por 50 metros. Nossa planta já está aprovada pelo pastor José Wellington. Vamos construir um templo para duas mil pessoas sentadas. Antes do final do ano, creio que estaremos com o templo construído. Esse é o desejo de nosso presidente.

A obra missionária também é uma grande paixão do senhor, pastor Paulo. O que tem feito pela obra missionária hoje?

O segredo do crescimento da igreja é fazer a obra missionária; aprendi isso com o pastor Marinésio Soares, quando esteve em Campinas/SP, e passou uma grande luta. Deus falou para ele investir em missão. Ele obedeceu e Campinas cresceu de uma forma tremenda. Hoje, mantemos uma missionária lá no Amazonas. É a irmã Maria Madalena, que, desde quando estive em Osasco, apresentei-a ao Pr. Cesino Bernardino. Ela foi missionária do primeiro barco dos Gideões, e está lá há 35 anos. Casou-se, teve vários filhos, mas ainda hoje realiza um grande trabalho no Amazonas. Há outro missionário na cidade de Buri/SP, que, inclusive, é sobrinho do pastor José Wellington, filho do Pr. Jaime, que foi de Guarulhos/SP. Ajudamos dois missionários na Bolívia que lideram uma igreja com 100 membros. E assumimos dois trabalhos na África, de onde recebo todo mês fotos e relatórios. Quando eles recebem a ajuda, compram milho e, através deste cereal, alimentam muitas pessoas ali. Há outro obreiro no Piauí. São esses os trabalhos missionários que ajudamos hoje, e trazemos também para a Secretaria de Missões do Belém a nossa cooperação missionária todo mês.

O que tem a dizer aos seus parceiros de ministério, especialmente aos pastores mais jovens, sobre os tempos que vive a Igreja?

Há uma preocupação muito grande para os dias de hoje; é um outro momento da igreja. Essa pandemia vai mudar muita coisa. Há poucos minutos conversava com nosso presidente da Convenção Geral e comentei com ele que, quando essa pestilência passar, haverá muita gente desviada, que não acredita mais em nada e teremos de fazer um trabalho especial em prol de seu retorno, para alcançar essas pessoas, e deixar um exemplo para essa geração. Aos pastores mais jovens, não se firmem na ideia de que o diploma resolve. O pastor João Colenda, quando fiz Pindamonhangaba, pegava o diploma na mão e dizia: “Isso aqui não expulsa demônios, nem cura enfermos. Vocês estudam para conhecer a Bíblia, mas vocação é Deus quem dá”. Então, tem que ser na oração, no jejum, trabalhar e crer que ainda existem milagres. Durante meu ministério, o que também deu sustentação à igreja foram as curas de cegos, paralíticos, etc.