AD Belém SP Missões Notícias O Campo é o Mundo Reportagens

Imigrantes afegãos buscam refúgio no Brasil

Registro da chegada das famílias afegãs no centro de acolhimento

Desde a retomada do Talibã ao poder, no Afeganistão, milhares de cidadãos têm deixado o país e buscado refúgio em várias nações; e o Brasil, mesmo distante, tem sido um dos destinos de famílias afegãs

A distância aproximada entre São Paulo/SP e o Afeganistão, traçando uma linha reta no mapa, é de aproximadamente 13 mil km; mas toda essa distância não impediu que a entrada de cidadãos afegãos no Brasil se tornasse uma realidade. A crise humanitária instalada no país fez com que, entre os meses de setembro de 2021 e o desse ano, 2.240 pessoas afegãs viessem para cá em busca de dignidade, de acordo com a Agência da ONU para refugiados (ACNUR).

A entrada de cidadãos afegãos no Brasil dá-se principalmente pelo aeroporto Internacional de Cumbica, Guarulhos/SP. Sem ter para onde ir, alguns chegam a passar semanas dentro do aeroporto sem refeição adequada, sem banho, sem cama, em situação muito precária. Até o fim do mês de novembro, o número de imigrantes afegãos no aeroporto era de 300 pessoas, de acordo com a prefeitura de Guarulhos.

Voluntários da Jocum Casa no trabalho de orientação aos refugiados

Rede de apoiadores  

Uma das instituições que tem apoiado cidadãos afegãos no Brasil é a Jocum Casa. O projeto iniciou antes que a crise política eclodisse no Afeganistão. O trabalho da Jocum Casa é “independente e orgânico”, como enfatiza André Araújo, missionário e líder do Ministério de Comunicação da instituição, que explica como foi que o projeto começou. “A Jocum Casa iniciou seu projeto em 2019 com o foco em imigrantes e refugiados em São Paulo/SP, devido a diáspora que acontece. São Paulo é um grande centro de povos e nações que trazem uma enorme diversidade cultural, ao mesmo tempo, com grandes necessidades humanitárias, devido a crises em outros países”.

A ajuda aos afegãos oferecida pela Jocum Casa começou tímida, mas cresceu ao passo que os imigrantes foram se apinhando no aeroporto. “Nós começamos ajudar casos isolados, a partir de março de 2022, quando amigos e conhecidos nos pediam ajuda para receber algum afegão no aeroporto e auxiliá-lo com a documentação necessária e a inserção em abrigos. Mas, nesse período, não havia pessoas acampadas em grande número no aeroporto, como acontece hoje. Foi então no dia 19 de agosto que parte de nossa equipe foi procurada para compartilhar que havia um grupo de afegãos acampados no aeroporto, o que nos fez ir até lá para tomar conhecimento. Quando chegamos lá, encontramos o número de cinco pessoas, que foi aumentando até chegar a quase 60. Famílias, mulheres grávidas e muitas crianças. Entendemos que é parte de nossa vocação e chamado acolher o estrangeiro vindo de qualquer nação, cumprindo com a missão que Deus tem nos convidado a fazer parte. Desde então, começamos a acolher e adotar famílias afegãs que buscam aqui no Brasil mais do que dignidade, mas a busca por existir”, relata o missionário André.

O trabalho que a Jocum Casa tem desenvolvido, na prática, é o de oferecer um local digno para os imigrantes, como explica o missionário André. “Não temos locais garantidos. O trabalho é totalmente orgânico. Desde o acampamento cedido em Mairiporã/SP, para receber 100 afegãos, até as moradias em que as famílias estão alojadas hoje, todas foram oferecidas por vontade própria da sociedade civil e igrejas que quiserem somar com a causa. Hoje, buscamos pessoas, igrejas, instituições que queiram auxiliar e adotar famílias com um compromisso de 12 meses, para que seja possível alugar casas e arcar com as despesas mensais. Tem sido um grande desafio, pois não temos todos os recursos, mas isso não nos tem impedido de cumprir com o que Deus nos tem apresentado”.

Mediadora instrui afegãos

Além de ajudar os cidadãos afegãos a terem moradia digna, a Jocum Casa também tem apoiado, através da orientação sobre documentação, curso de português, moradia, saúde, educação, trabalho, entre outros. Desse modo, os imigrantes terão condições de encontrar trabalho e desenvolver uma rede de apoio para seus conterrâneos. De acordo com o levantamento feito pela ACNUR, entre os 2.240 primeiros afegãos que chegaram ao Brasil, 297, na faixa etária de 18 a 59 anos, possuem formação universitária, e 34 têm pós-graduação. Contando com a rede de apoio, não será tão difícil para alguns deles recomeçarem a vida no Brasil.

Voluntários e imigrantes celebram a integração

Do Paquistão e Irã para Poá/SP, Brasil

A cidade de Poá, zona leste de São Paulo/SP, tem sido um dos destinos de famílias afegãs. Ao sair do Afeganistão, migram para o Paquistão ou Irã, e, de lá, alguns terminam a saga no Brasil. O Centro Aldeias Infantis SOS, organização global dedicada ao cuidado e proteção de crianças e adolescentes, é uma instituição parceira da ACNUR que tem acolhido imigrantes afegãos.

O Centro tem por prioridade acolher famílias afegãs que tenham crianças ou adolescentes. A instituição oferece 25 vagas e desde o dia 23 de setembro passou a receber os imigrantes. Ao chegarem, as famílias passam por uma triagem que tem por objetivo analisar o visto humanitário, emissão de CPF, RNE (Registro Nacional de Estrangeiro), vacinação, inclusão na rede de saúde e educação, ensino da língua portuguesa e inclusão no mercado de trabalho. A coordenação informou que 15 das 25 pessoas, as quais receberam cuidados, já encontraram emprego e casa em Brasília e Santa Catarina.

A comunicação entre os refugiados afegãos e a equipe Aldeias Infantis passa por um mediador cultural que normalmente é um afegão já aculturado no Brasil. De acordo com a coordenação da Aldeias Infantis, a sociedade civil pode ajudar com doações de roupas que estejam em bom estado, alimentos como leite, por exemplo, medicamentos e produtos de higiene. As doações podem ser levadas ao local de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Basta ligar através do número 11 4636-6341 e agendar.