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Missão dada é Missão cumprida!

Imagem de FelixMittermeier por Pixabay

“E era-lhe necessário passar por Samaria” (João 4.4)

No ano de 2010, foi lançado, nos cinemas de todo o Brasil, o filme nacional que se tornou a maior bilheteria da história, com quase doze milhões de espectadores. Tratava-se do longa Tropa de Elite, do diretor José Padilha. O filme produziu frases que logo viraram memes na boca dos brasileiros, e uma delas, em particular, foi tirada de um jargão militar que todos nós passamos a replicar na sociedade. A frase é essa: “Missão dada é Missão cumprida”. Segundo o Dicionário Priberam, missão é uma incumbência dada a alguém, uma ordem de uma autoridade dada a um grupo específico. Quando uma autoridade dá uma ordem, não se aceita desculpas, desvios ou qualquer tipo de omissão. A missão designada precisa ser cumprida, de fato. É isso que o Senhor Jesus espera de cada um de nós. Que cumpramos a Missão por ele designada, para que o seu nome seja glorificado no final.

O sábio Salomão tem uma frase que eu particularmente gosto muito (Ec 7.29) – “Eu cheguei à seguinte conclusão (descoberta): Deus fez ao homem reto (justo, com perfeição), mas ele buscou (meteu-se, afundou, foi em busca) muitas invenções (muitas astúcias, extraviou, intrigas, maldades), ou seja, fomos nós que estragamos tudo, segundo Eugene Peterson (1932-2018) em sua Bíblia na tradução A Mensagem. Muito parecido com o que o profeta Jeremias diz em (Lamentações 3.39) – “De que se queixa, (lamenta, reclama) pois, o homem vivente (ser humano)? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados”. A vida é assim, desde quando o pecado entrou na raça humana, nivelando todas as criaturas por baixo, deixando-as debaixo de maldição e da inimizade contra o Criador.

O contato com Deus foi prejudicado, e o contato entre nós também foi grandemente afetado. Ideologias foram inventadas e criadas para dividir. Supremacistas brancos, arianismo, higienização de raças consideradas inferiores, extermínio dos índios, segregação mediante a cor da pele, resistência à miscigenação, e tantos outros preconceitos quanto a cor, raça, credo, costumes, que mais nos dividem do que nos aproximam. Jesus veio para quebrar esses paradigmas e para dizer que, no seu Reino, todos seriam bem-vindos, pois o seu Pai era Pai de todos e não apenas de alguns. Com Deus, não é meritocracia que vale; é a graça. O favor imerecido, que temos dificuldades para entender em nós mesmos; imagine na vida do outro, principalmente quando o outro não vive os mesmos valores que eu vivo. Aí a coisa complica. Até mesmo a religião pode ser um grande obstáculo.

Aplicação

            Vamos olhar mais detalhadamente o que está acontecendo aqui neste contexto. Existem duas situações distintas. A primeira, é que os fariseus (os religiosos e guardiões da moral da época), atentaram-se para o fato de que Jesus de Nazaré operava e batizava mais discípulos do que João, o Batista. Importante dizer que você não é visto, sentido ou notado, até que os frutos comecem a aparecer. Como diz o ditado: “Ninguém atira pedras em árvore que não dá frutos”. Enquanto você é apenas um pregadorzinho da aldeia de Nazaré, ninguém está se lixando pra você; mas a partir do momento em que você começa a superar o famoso da época, que neste caso era João Batista, aí começam a prestar atenção na sua vida, não com o sentido de te ajudar, mas sim, de achar onde é que está o erro, a brecha, para assim acabar com o seu ministério e a sua vida. Assim funciona no mundo, e, infelizmente, assim funciona também na igreja. Deus nos deu uma missão, e missão dada é missão cumprida!

            A segunda situação é que Jesus percebe que é percebido pelas autoridades religiosas da época. Ele sabe que está sendo notado, que os olhares mudaram. Não são mais de desdém; são de ódio. A religião pode te levar aos píncaros da glória, colocar você em um alto pedestal, ou pode, através de uma pequena brecha, acabar com o seu bom nome. Tanto uma como outra, não vai ser bom pra você. Quando Jesus percebe isso, ele resolve sair de cena, ele resolve fazer uma viagem com os seus discípulos. “Façam os preparativos, vamos viajar para o interior”. Jesus queria sair do centro das atenções, pois Ele sabia muito bem a sua missão: anunciar o reino de Deus para todos, sem exceção. Tem muita gente confundindo a missão. Eles estão trocando a missão de Deus pela missão de si próprio. Ele se transformou na missão. A missão não diz respeito a você, diz respeito ao que Deus assim determinou. Jesus não disse: “Ide e ajuntai seguidores em torno de si”; Jesus disse: “ide e fazei discípulos”. Discípulos que se tornem como Ele é. Discípulos de Cristo. Assim, após os preparativos, Jesus e os seus discípulos partem da Judéia (Sul) para a Galileia (Norte).

            E era-lhe necessário passar por Samaria. Eu gosto muito desse detalhe que o irmão João nos conta. Quem está viajando com Jesus? Os seus doze discípulos; no mínimo, uma viagem de treze pessoas. Se fosse hoje, lotaria três carros, ou uma van. Mas João não diz “Era-nos necessário” passar por Samaria; ele diz: Era-lhe. Quem é o sujeito oculto nessa frase? Jesus. Para Jesus era necessário, mas não para os seus doze discípulos, inclusive João. A conclusão que eu chego é que eles não queriam passar por lá; eles não queriam ter que passar por Samaria. Mas se você pegar um mapa da palestina, desses que você tem na sua Bíblia e nunca olha, vai ver que Judá onde Jesus estava e de onde Ele queria sair, ficava ao Sul; Galileia para onde Jesus queria ir, ficava ao Norte; e o que é que está bem no meio do caminho entre o Sul e o Norte? Samaria. A maioria dos judeus e os discípulos de Cristo preferiam dar a volta pela Peréia e Decápolis, e andar cerca de 50 quilômetros a mais, do que ter que passar em território samaritano. Por que tanta aversão a esse povo denominado samaritano e a essa região chamada de Samaria?

            Há, ainda, muita gente para ser alcançada pelas Boas-Novas de Jesus. Olhe para Israel, a nação escolhida para ser luz do mundo. Após a saída do Egito, a peregrinação no deserto, o período dos juízes marcado pela teocracia; o povo então escolhe a monarquia como o seu novo sistema de governo, e, no terceiro reinado com a nação unida, o governo divide-se em Norte (Israel – dez tribos) e Sul (Judá e Benjamim – duas tribos). O Reino do Norte é pautado pela negligência espiritual sistemática e total desprezo para com a Lei de Deus. Não adianta o Eterno levantar profetas como Elias, Eliseu, Amós e Oséias, para citar alguns deles; o povo não se endireitou e, com isso, o juízo divino chegou.

            Após o cativeiro, o Reino do Norte fica desolado e sem nenhum habitante, de acordo com o vaticínio que Deus já decretara. Motivo? Idolatria. Trocaram o Deus verdadeiro por imagens de escultura. Elias já havia percebido essa inclinação, quando falou sobre o povo “coxear”, ou mancar sobre dois pensamentos; Eliseu morava em Samaria; Oséias demonstrou na própria carne o que Deus sentia em relação a Israel; um marido traído; Amós foi tão realista em seus juízos, que não pediu a Deus justiça e, sim, misericórdia. A Bíblia nos diz que eles eram tão idólatras que colocaram postes-ídolos em todas as esquinas. Chegaram a oferecer os próprios filhos em sacrifícios aos deuses! Não adiantou o vaticínio dos profetas. Eles não deram ouvidos à voz de Deus. O juízo chegou e com isso as dez tribos (inclusive Efraim e Manassés, na região onde estava localizada Samaria), juntamente com o seu rei, Oséias, foram levadas para Hala, na Assíria, para que fossem assimilados a sua cultura e a região que corresponde ao Reino do Norte ficou deserta e desabitada.

            Para que você não se perca no tempo: estamos aproximadamente em 700 a.C. Esses israelitas, é assim que devemos chamá-los, pois são do Reino do Norte, aprendem a cultura assíria, os costumes assírios, a gastronomia assíria, e principalmente os deuses e a religiosidade assíria. Quer ver como isso é ruim? Quando Deus manda o profeta Jonas ir até Nínive, capital da Assíria, para pronunciar juízo contra ela, o que ele faz? Foge pro sentido contrário. Por quê? Porque ele sabia que Deus se compadeceria daquele povo e ele não queria isso; ele queria a destruição total do Império Assírio. Esse povo idólatra do Reino do Norte assimilou quase que por osmose a cultura pagã dos vencedores. Olha esse exemplo: o rei Acaz, de Judá, vai até Damasco, e vê lá um altar assírio, e pede cópias das plantas para construir um igual em Jerusalém. Qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência.

            Esses israelitas casaram-se com mulheres assírias e de outros povos; misturaram-se pra valer, de corpo e alma com o inimigo. O rei da Assíria então manda que essa mistura ocupem a terra agora desabitada. Gente de Cuta, Hava e Hamate, para morar nas cidades de Samaria. Para eles YHWH era apenas mais um deus. Eles não o veneravam e nem o adoravam. Deus então envia leões para matá-los. Então eles mandam um recado ao seu rei: “O Deus desse povo está enviando leões para nos matar. Não sabemos o que ele exige”. Então o rei Salmaneser pediu para que alguns sacerdotes que estavam no exílio voltassem a viver em Samaria, para que eles instruíssem o povo com respeito ao Deus verdadeiro. E assim eles fizeram; só que o povo começou a adorar a YHWH sem deixar de adorar os deuses dos seus antepassados. Eles adoravam a YHWH, mas não com exclusividade.

Na época de Esdras, esses descendentes ofereceram-se para ajudar Zorobabel na reconstrução do templo de Jerusalém; mas, com a recusa da parte dos habitantes de Judá, por conta de seus casamentos mistos, eles então passaram a obstaculizar e atrasar a construção do templo. Após certo tempo, os habitantes dessa região rejeitaram qualquer escritura além da Torah (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), reprovaram os livros de Josué a Malaquias, e jogaram no lixo. Faz-se necessário dizer que Sambalate e Tobias pertencem a esse povo, a essa gente que se opõe a reconstrução do muro. Acreditavam em Deus, veneravam Moisés, a guarda do sábado, as festas e a circuncisão. E precisamos adicionar ainda mais uma heresia: a troca dos montes: abandonaram o Monte Sião, onde fica Jerusalém e o templo, pelo Monte Gerizim, onde construíram um templo como local sagrado e exclusivo para se adorar a Deus (Séc. III a.C.). Percebam que a escalada de ódio foi crescente, e isso perdurou, de geração a geração, assimilando esse sincretismo religioso de adorar ao Deus verdadeiro, mas não custa fazer uma fezinha em Baal também; e assim o tempo foi passando, até chegar no primeiro século, 700 anos depois, nos dias de Jesus.

Flávio Josefo (séc. I) vai chamar os samaritanos de povo oportunista, pois, quando os judeus gozavam de prosperidade, eles reconheciam os seus laços de sangue; mas quando os judeus passavam por tempos difíceis, eles negavam qualquer parentesco, dizendo-se descendentes dos assírios. O livro apócrifo de Eclesiástico chama-os de “não-nação”; o Testamento de Levi chama a cidade samaritana de “cidade dos tolos”. Os samaritanos tinham fé em Javé, em Moisés, na Lei, e no Monte Gerizim, e só. Esse era o credo. Assim, então, chegamos ao NT, onde a palavra samaritano na boca de judeu virou um palavrão, a tal ponto que quando queriam ofender alguém, chamavam-no de samaritano, assim como fizeram com Jesus (Jo.8.48).

Será que agora dá para entender pelo menos um pouco a raiva e o ódio que os judeus sentiam pelos samaritanos? Será que agora dá para sentir empatia pelos doze discípulos de Jesus, quando eles se posicionam firmemente, que preferem fazer uma viagem mais longa e dar uma volta maior, do que passar por dentro de Samaria, e ter o desprazer de dar de cara com um samaritano? A ojeriza de um povo ao outro era recíproca, mas os judeus tinham mais motivos para odiarem os samaritanos, baseados em todos esses dados históricos que eu acabei de transmitir.

E hoje, onde está nossa Samaria? Quem é povo misturado que vive em nosso meio? Gente que acredita em Deus, mas vive como se Ele não existisse. Gente que oferece ajuda, mas, ao mesmo tempo, obstaculiza todo e qualquer esforço espiritual; gente que quer crer, mas à maneira deles, do jeito deles, com as regras deles. Samaria é logo ali. Jesus deixou bem claro que antes de irmos aos confins da Terra deveríamos passar por Samaria primeiro. Samaria é quem você não gosta, não suporta, não quer ver nem pintado de ouro. Samaria diz respeito ao seu vizinho chato, o seu patrão exigente demais, a amiga patricinha que te esnoba, o cunhado que só sabe pedir as coisas pra você, o católico carola que vai as missas todos os domingos, o cara que vai ouvindo som alto ao seu lado no busão. Todos eles são Samaria. Pode até ser que eles não são importantes para você, mas, creia, Jesus se importa com cada um deles. Sabe por quê? Porque é necessário, é imprescindível, é essencial, passar por Samaria.

É natural sentir raiva e aversão, por certos tipos de pessoas, não é mesmo? Não, não é. Pelo menos para alguém que se diz cristão, não deveria ser. “Mas ele é um insuportável”! “Mas ela é muito nojenta”! E daí? Se Deus teve misericórdia de você, por que não vai ter dele e dela também? Certa feita, em nossa sala de aula da EBD, perguntei a um pastor com sete filhos: “Pastor, o senhor teve sete filhos; escolha um para morrer em meu lugar”. Ele, meio constrangido, disse que não poderia. “Ah, o senhor deve ter um mais problemático, que deu mais trabalho, pode ser esse”. Ele então disse que não seria possível. Então eu perguntei para um outro, para que escolhesse um de seus filhos para morrer não em meu lugar, mas no lugar do Lula (sendo ele bolsonarista roxo). Ele se arrepiou todo. “De jeito nenhum!” Por quê? –  Perguntei. E ele: “Ele não merece!” Aí eu retruquei: Ah, não? E o senhor, merece? Ele disse: “Mereço”. Não, não… Ninguém merece. Mas, ainda assim, Jesus deu sua vida por cada ser humano, por mais vil que seja, morrendo na cruz do Calvário.

Sabe por que para Jesus era imprescindível passar por Samaria? Porque sabia que, no caminho, teria um encontro com alguém muito importante para Ele. Sabia que haveria uma mulher, desprezada por todos, com experiência vasta no quesito rejeição, sentindo-se a mais vil e suja de todas, mas que, ainda assim, poderia ser alcançada pelo seu amor imensurável. Samaria era estrategicamente importante para Jesus, e por isso, deve ser estrategicamente importante para nós também. E Jesus foi, juntamente com o grupo contrariado de seus discípulos. No meio do percurso, em Sicar (ou Siquém), encontram o poço de Jacó, nas terras que ele havia dado para o seu filho José, agora tribo de Efraim, e Jesus resolve fazer uma parada para descansar, pois o sol está inclemente. Determina que seus discípulos fossem à cidade que ficava próxima, a fim de comprar comida para o almoço. “Deixa que eu vou Mestre”. “Vão todos, eu quero ficar sozinho, eu vou ficar bem”. E eles vão, e Jesus fica sozinho no poço, mas não por muito tempo.

Então, Jesus vê lá, no horizonte, uma silhueta de uma mulher, carregando um cântaro na cabeça, com passos lentos, aproximando-se do poço. Ela não sabia, mas chegou na hora exata do encontro com o Mestre da vida. Nós não sabemos, mas Deus tem um tempo oportuno para cada um de nós. O tempo é o dEle, não o nosso. A mulher logo distingue alguém assentado à sombra da cobertura do poço. Ela percebe pelas roupas que se trata de um judeu. “Eu não acredito! Eu venho aqui meio-dia para não ser incomodada, para que olhares inquisidores não me assolem, e agora tem um judeu sentado junto ao poço do nosso povo. Era só o que me faltava!” Se dependesse daquela mulher, ela entraria muda e sairia calada. Ela não dirigiria palavra alguma para aquele completo estranho. Mas se ela não quer conversar; Jesus, ao contrário, quer puxar um bom papo. A iniciativa é sempre de Deus e não nossa.

Será que você poderia me dar um pouco de água? Eu estou com sede”.  A mulher deve ter pensado: ‘Pronto! Eu não queria conversa e agora um judeu quer prosear comigo! Será que ele não se tocou que eu sou mulher e é indecoroso alguém puxar assunto com uma mulher sem mais ninguém por perto? Será que ele se ligou que eu sou samaritana? Será que ele falaria comigo se soubesse da minha reputação”? Tudo isso passou pela cabecinha dela e passa pela cabeça de muitos hoje. “Deus nunca olharia para mim”. Eu quero dizer que Deus nunca te perdeu de vista! E hoje ele marcou um encontro contigo aqui neste lugar. “Será que você é tão burro que não sabe da desavença que existe entre o seu povo e o meu povo, e de que vocês nunca nos dirigem palavra alguma?” Jesus não se deixa intimidar pela barreira levantada pela mulher: “Ah, se você conhecesse a generosidade de Deus e soubesse quem sou eu, você pediria água a mim, e eu lhe daria água pura, água da vida”.

A mulher então levanta outra barreira: “Você não tem balde e corda para pegar a água, e o poço é fundo. Vai tirar de onde essa água? Por acaso você é maior que o nosso pai Jacó, que nos deu esse poço?” Olha que abusada! Na evangelização, também acontece isso. Faça como Jesus, e não se deixe abater; derrube cada barreira por terra, pois a Palavra que nós pregamos é afiada, e uma hora vai entrar e surtir efeito. “Essa água mata a sede temporariamente. É por isso que você precisa vir aqui todos os dias.

A água que eu tenho pra dar, fará com que você nunca mais tenha sede! É uma fonte que vai jorrar de você para a vida eterna”. Agora Jesus ganhou a atenção da mulher. Ela não quer ter que voltar ao poço todos os dias. Ela não quer sair de casa, não quer enfrentar o julgamento das outras pessoas. Ela deseja se isolar; mas esse não é o plano que Jesus tem pra ela. “Faça o seguinte: vá chamar o seu marido e volte aqui”. O semblante dela deve ter fechado na mesma hora. Aquela conversa já tinha durado muito tempo. Era hora de cessar o assunto. “Eu não tenho marido”. Então Jesus responde: “Ah, agora você foi honesta dizendo que não tem marido, porque você já teve cinco maridos e o homem com quem vive agora nem sequer lhe dá o nome, pois não é o seu marido”.

Agora, a mulher está intrigada: “Senhor, vejo que és profeta”. Note na sua Bíblia que a palavra Senhor está com “S” maiúsculo, título dado apenas a Deus. A coisa já está mudando! “Bom, aproveitando que eu estou diante de um homem de Deus, tenho uma pergunta teológica para lhe fazer, algo que consome o meu coração. A minha tradição diz que devemos adorar a Deus neste monte (Gerizim), mas vocês judeus insistem que Jerusalém (Monte Sião) é o único lugar para adorar. Afinal de contas, quem está certo?” Olha a sede manifestada na vida dela. Samaritanos são assim: eles desprezam e rejeitam por razões que eles mesmos nem se lembram; mas a Palavra é poderosa para entrar no coração mais duro, e promover transformação.

Jesus então resolve fazer uma revelação: “Mulher, acredite, já está chegando a hora, que não importará mais o lugar, Gerizim ou Jerusalém, que se adora, mas sim a disposição de quem adora, independentemente de onde estejam. O momento na verdade já chegou. Não importa “como” ou “onde”, mas a busca precisa ser feita em espírito e em verdade. Deus, o Pai, está em busca de pessoas assim; e é por isso que estou aqui, hoje. Minha agenda estava anotada apenas com o seu nome e estou aqui por você. Sua sede foi vista no Céu, e eu estou aqui para saciá-la”. Deus havia achado em um lugar improvável, numa hora improvável e em uma pessoa altamente improvável, uma verdadeira adoradora. Samaria pode ser improvável para nós, mas é essencial para Jesus!

A mulher quer, então, encerrar a conversa: “Não entendo muito essas coisas, mas sei que um dia o Messias virá, e nos explicará todas essas coisas”. Aleluia! Jesus então propõe a ela uma revelação completa de sua pessoa. Não fez essa revelação no Sinédrio de Jerusalém, para as autoridades religiosas judaicas; não fez isso em Roma, diante de César, maior líder do mundo; não fez isso no Templo de Jerusalém, para os crentes da época, mas faz a revelação para uma mulher de reputação duvidosa, desprezada e rejeitada por todos, mas lembrada por Deus: “Eu sou o Messias, não precisa procurar mais, eu estou aqui, bem na sua frente”. A conversa é interrompida com o retorno dos discípulos com a comida. Ficaram escandalizados com o fato de seu mestre conversar com uma mulher, e, ainda por cima, samaritana. A mulher aproveita a deixa, para sair do cenário e voltar para sua vila.

Mas perceba algo no texto (v.28): A mulher deixou o seu cântaro de água para trás. Ora, ela não foi lá buscar água? A água não é absolutamente necessária para nossa vida biológica? Dizem os cientistas que os seres humanos precisam de maneira vital de três “As”: Ar, água e alimento. O homem consegue ficar até 40 ou 50 dias sem alimento; três dias sem água e três minutos sem ar. Isso pensando biologicamente. Mas existe uma outra necessidade, um outro tipo de sede no homem. Algo que eu chamo de sede de Deus. Essa sede não pode ser saciada por nada que seja terreno. É uma sede espiritual e só o Espírito Santo pode suprir. Aquela mulher esqueceu sua sede bios (biológica), pois sua sede zoe (espiritual, a sede de Deus, a vida de Deus na vida dela), foi saciada.

Conclusão

            Jesus revelou àquela mulher que tinha sede, para assim travar uma conversa. E agora Jesus revela que tem fome. A fome de Jesus é fazer a vontade de Deus e realizar a sua obra. Para aqueles que ainda não conhecem o autor da vida, quero dizer que ele tem água para matar a sede da sua alma. E para aqueles que de certa forma já tem a alma saciada pela fonte da água da vida, preciso dizer que Jesus tem fome, mas a fome dEle deve ser saciada em nós fazermos a vontade de Deus e realizarmos a sua obra. E qual seria a vontade e a obra de Deus? “Abram os olhos, olhem para o horizonte e vejam o que está diante de vocês. Os campos samaritanos estão maduros. É tempo de colheita!” Chega de ficar dentro de quatro paredes! Chega de tanta religiosidade! Os improváveis estão aí fora apenas esperando alguém, a fim de lhes dar água para matar sua sede. Você tem essa água! Você pode matar a sede da alma das pessoas! Você pode matar a fome de Deus, para que o seu Reino cresça e o seu nome seja glorificado na Terra!

            O destino de Jesus não era Samaria; Ele não saiu da Judéia pensando: “Eu quero chegar em Samaria”. O destino dele era a Galiléia. Mas passar por Samaria tornou-se imprescindível. O nosso destino não é Samaria. O nosso destino é o Céu. Mas para chegar ao Céu, precisamos testemunhar do amor de Deus, principalmente e até mesmo em nossa Samaria. E não faça isso correndo, de qualquer maneira; invista tempo nesse processo. A mulher samaritana foi contar aos seus o que Jesus tinha dito e com a pergunta: “Será ele o Messias”? Os habitantes daquela aldeia saíram e foram ter com Jesus e viram com seus próprios olhos sobre o que a mulher testificou. Eles imploraram que Jesus ficasse com eles, e ficou ali dois dias, e a cidade inteira foi evangelizada. “Nós cremos não mais pelo que você disse, mas pelo que ouvimos. Agora temos certeza; Ele é o Salvador do mundo!” Cada um vai crer por si mesmo; o nosso dever é apenas anunciar.

            A seara é grande, mas são poucos são os ceifeiros. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a sua seara. A seara (plantação) é de Deus, mas os ceifeiros somos nós. Há muito o que fazer e pouca gente para ajudar. Tem muitos samaritanos com sede por aí. A responsabilidade de oferecer a água da vida é minha e sua, e a glória da colheita foi, é, e sempre será de nosso Deus! Amém!

Geisel de Paula

Geisel de Paula é repórter do site e jornal Ceifeiros em Chamas, bacharel em teologia pela Faesp.