AD Belém SP

OS DESAFIOS DA EBD PÓS-PANDEMIA

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A pandemia do COVID-19 abalou o mundo inteiro, pois se apresentou, à primeira vista, como uma doença totalmente desconhecida, de origem até suspeita, depois de cem anos da última moléstia que tinha tido tais dimensões, a gripe espanhola.

Há indícios veementes que já há alguns anos alguns círculos de pensadores faziam conjecturas de como se deveria enfrentar uma pandemia, caso ela aparecesse e, coincidência ou não, quando surgiu esta pandemia, foram tais ideias levadas a efeito, com a inédita solução do isolamento social como estratégia para fazer coibir a doença enquanto não se descobrisse uma vacina para detê-la.

Esta estratégia veio a calhar com o objetivo nítido presente entre as elites governantes de todo o mundo de estabelecer um controle social sobre a população, o que se faz necessário também diante do plano de estabelecimento de um governo mundial.

Sabemos todos que estes planos e estes pensamentos estão vinculados à criação de um novo governo mundial, do último grande império deste sistema político gentílico que se apresente em rebeldia contra Deus desde o episódio da torre de Babel e que culminará com o Anticristo, o último imperador mundial.

Pois bem, esta estratégia de promover o isolamento social, além de desorganizar a economia mundial, também trouxe graves sequelas na vida da Igreja.

Quando falamos em Igreja, que é o povo de Deus na Terra, formado por judeus e gentios que creram em Jesus Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador, devemos nos lembrar que, sob este nome, existem duas realidades distintas: a chamada Igreja universal, o conjunto de todos os salvos de todos os tempos (Mc 16.15; Hb 12.23) e a igreja local, que é um grupo social de salvos que está em um determinado lugar (At 9.31).

Sabemos que as duas principais tarefas da Igreja é a de evangelizar os incrédulos e ensinar a Palavra de Deus aos crentes (Mc 16.15; Mt 28.19,20); é a chamada “Grande Comissão” e, para tanto, devem os seus membros se esforçar para pregar o Evangelho por todo o mundo, e, em cada lugar, promover a edificação e se multiplicar andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo (At 9.31).

Para atingir estes objetivos, os membros da igreja precisam viver em comunhão, ou seja, precisam ter um compartilhamento de vida, conviverem, o que se verifica desde a primeira igreja local, a igreja de Jerusalém, onde havia perseverança na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42-47).

Havia uma convivência entre os integrantes da igreja, tinham tudo em comum, frequentavam os mesmos espaços, tanto as casas quanto o templo (At 5.42).

Não é, por outro motivo, que o apóstolo Paulo diz que os integrantes da Igreja eram concidadãos dos santos e da família de Deus (Ef 2.19), mostrando esta comunhão, esta socialização.

A igreja local é um grupo social que, como sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16), deve levar à sociedade onde está inserida a mensagem do Evangelho.

As atividades da igreja local devem comprovar a realidade da salvação em Cristo Jesus por meio de uma vida diferente e relevante (At 5.12-16).

A estratégia do isolamento social para o tratamento da pandemia, portanto, tinha um corolário que era o de atingir a Igreja em um de seus pontos nevrálgicos, que era a comunhão.

O mais triste é que, com a instauração da política do isolamento social, a Igreja foi atingida em um instante em que já estava ocorrendo o “isolamento social” nas igrejas locais.

Há muito tempo que, de modo sorrateiro, instalava-se nas igrejas um “templocentrismo”, em que as atividades da igreja se resumiam às atividades no templo, até porque a própria vida urbana e o desenvolvimento tecnológico estavam isolando as pessoas umas das outras e fazendo com que, pouco a pouco, o contato entre elas se reduzisse e preponderasse o relacionamento virtual ou meramente “profissional”.

Em termos sociológicos, as igrejas locais passavam a ser, cada vez mais, “grupos sociais secundários”, onde há a prevalência de atividades, de metas e de serviços, embora o modelo bíblico seja de igrejas que fossem “grupos sociais primários”, onde há a prevalência do compartilhamento de sentimentos, emoções, comprometimentos pessoais.

Quando chegou o isolamento social, muitos crentes notaram que “dependiam” da igreja apenas por algumas poucas horas da semana, para grande parte deles, dos horários dos cultos dominicais noturnos, que foram devidamente preenchidos pelos “cultos online”, muitos dos quais, aliás, provenientes de outras igrejas locais que não a sua, com “pessoas mais preparadas”, com “mensagens mais profundas”. E, assim, para muitos crentes, foi “descoberta a realidade de que se pode servir a Deus sem que se frequente uma igreja local”.

Com o término desta política de isolamento social, muitos destes crentes passaram a considerar irrelevante o convívio com os irmãos, preferindo o comodismo e a própria circunstância de que “podem servir a Deus sem se comprometer com uma igreja local” e “até desfrutando de mais ensino bíblico, mais profundidade”, passando a acompanhar atividades online de igrejas locais renomadas e de grande estrutura.

Tem-se, então, uma forte diminuição da frequência das igrejas locais, com as consequências evidentes no trabalho de evangelização e de ensino da Palavra de Deus.

Está-se diante de mais uma sutileza satânica para destruir a fé de muitos, isto porque é completamente falso de que a convivência com o irmão em Cristo seja dispensável para servirmos a Deus.

O homem é um ser social; não foi feito para viver solitariamente (Gn 2.18).

Por isso, precisamos uns dos outros, para podermos servir a Deus, até porque o processo da salvação tem, entre seus elementos, a santificação progressiva e esta santificação só se faz coletivamente.

A santificação progressiva, que é o nosso aproximar contínuo de Deus e o nosso afastamento contínuo do pecado, depende de nosso crescimento espiritual e este crescimento só se faz coletivamente, porque, para o aperfeiçoamento dos santos, Cristo proporcionou os dons ministeriais (Ef 4.11-16), que são homens escolhidos pelo Senhor para promover tal edificação dos membros em particular do Corpo de Cristo.

Cada crente é um membro em particular do Corpo, havendo uma interdependência entre cada crente com o outro (1 Co 12.12-31).

Quem se isolar socialmente do grupo, morrerá, assim como qualquer membro de nosso organismo físico, quando retirado da comunhão com os demais, morre inevitavelmente.

Neste cenário, a Escola Bíblica Dominical foi fortemente atingida, isto porque, como é sabido, é das atividades que já é mais atacada pelo adversário, pois é dela que depende a firmeza dos crentes e a manutenção da própria vida espiritual, pois é a Palavra de Deus o alimento espiritual do cristão (Mt 4.4; Lc 4.4), o principal instrumento de santificação (Hb 12.14), a principal arma de ataque contra as investidas de Satanás (Ef 6.17).

Não é de hoje, portanto, que as atividades da Escola Bíblica Dominical têm sido negligenciadas por muitos, desprezadas mesmo, tanto que é o primeiro evento que é cancelado quando há necessidade de atendimento a agendas de festividades e coisas similares em diversos lugares.

Assim, em diversas igrejas locais, a Escola Bíblica Dominical já foi atingida pelo isolamento social em um momento em que estava trôpega, agonizante, com pequena frequência.

Com o término desta política, então, há diversos lugares em que até hoje a Escola Bíblica Dominical não foi reiniciada, até porque muitos até incentivam as pessoas a participar de “EBDs online”, que foram implementadas ou ampliadas durante o período do isolamento social.

É também uma ilusão achar que as “EBDs online” suprem as Escolas Bíblicas Dominicais presenciais.

Por primeiro, a convivência nunca é suprida pelo contato virtual.

Por segundo, o ensino exige a interação plena entre professor e aluno, a participação entre os demais alunos. Sem esta interação, não há aprendizado, mas apenas um despejar de conhecimento que nem sempre será apreendido e enriquecido como quando se tem o contato interpessoal.

Por terceiro, uma das maiores qualidades da EBD é, precisamente, o contato próximo entre professor e aluno, que permite que se tenha uma personalização e individualização do ensino, com a elucidação de dúvidas, evitando, assim, que os “dardos inflamados do inimigo” atinjam os salvos.

Esta triste realidade exige uma nova postura por parte dos líderes e dos professores de EBD, além dos crentes em geral.

Esta atitude não se resume apenas a esforços, mercadológicos até, para reanimar os crentes a frequentarem a EBD, mas, sobretudo, a uma autocrítica da própria conduta antes da pandemia, que muito colaborou para que, com a política do isolamento social, houvesse o imenso prejuízo que estamos a vivenciar.

Precisamos retomar o modelo bíblico de igreja local, como também o papel da Palavra de Deus na vida espiritual de cada um e, assim, desta maneira, retomando o foco bíblico em ambos os assuntos, iremos nos converter, voltar ao que ensina as Escrituras, e, deste modo, trazer as ovelhas fracas, doentes e desgarradas de volta ao aprisco.

Não podemos voltar ao “templocentrismo”, mas retomar aquilo que os pioneiros bem fizeram na estruturação das Assembleias de Deus.

Acesse: Portal Escola Dominical www.portalebd.org.br.

Caramuru Afonso

Evangelista da Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belém - sede - São Paulo/SP, onde é o responsável pelo Estudo dos Professores e Amigos da Escola Bíblica Dominical e professor de EBD. Doutor em Direito Civil e Bacharel em Filosofia pela USP. Juiz de Direito em São Paulo