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Uma voz pelas crianças

Marta Costa

Seja na igreja ou na sociedade civil, a criança precisa de atenção

As crianças são consideradas potenciais vetores de transmissão da Covid-19, status que as afastou do carinho dos avós, das escolas e das igrejas. Conversamos com a deputada estadual Marta Costa, que há 30 anos lidera o Departamento Infantil da AD Ministério do Belém, para conhecer o trabalho que é desenvolvido desde o início da quarentena. “Montamos uma estratégia para continuar em contato com as crianças, para que elas não se sentissem abandonadas ou afastadas da igreja. Elas não vêm aos cultos, mas continuam membros do nosso Departamento Infantil e trabalhamos com elas o tempo todo. Semanalmente, enviamos aula pela internet, material pelo correio, a revista da escola dominical é entregue na casa de cada criança; procuramos cuidar da vida espiritual delas e fazer com que caminhem pelo menos da mesma maneira como era com as aulas e cultos presenciais”.

Marta Costa e Karin Ramos durante gravação do culto infantil

As igrejas já têm autorização para realizar cultos com 30% da capacidade de lotação. As crianças, no entanto, não podem frequentar os templos; mas isso não impediu que elas tivessem seu espaço. Em todos os cultos, na sede da AD Ministério do Belém, as crianças têm oportunidade, de acordo com a irmã Marta. “Elas continuam cantando; a gente grava com cada uma delas durante a semana e montamos um vídeo que é apresentado à igreja; as crianças continuam cantando e participando de nossos cultos normalmente”.

Mesmo assim o calor humano faz muita falta. Irmã Marta emociona-se, ao lembrar-se dos cultos presenciais. “Eu sinto muita saudade; sinto muito a falta da presença delas e do aconchego”. À frente do Departamento infantil há 30 anos, ela dedica seu tempo a produzir cada aula com criatividade e oração. “Eu procuro dar o meu melhor; semanalmente confecciono o material; é claro que minha equipe ajuda-me, mas gosto de escolher tudo e prepará-lo. Durante a semana oro pela aula, porque a Palavra precisa chegar ao coração das crianças e ali ficar. Oro para que o Senhor guarde nossas crianças nesse período de pandemia em que estão longe de nossos olhos, mas muito perto de nossos corações”.

Otimista, a irmã Marta Costa enxerga o lado bom da história. Ela afirmou que, apesar das dificuldades, o saldo é positivo e que no reino de Deus não há perca. “No trabalho do Senhor é assim: sempre tiramos o lado bom da história; estamos ganhando uma igreja kids virtual. As nossas aulas passam de duas mil visualizações, ao passo que se a gente desse aula somente para a classe presencial, não iriamos alcançar este número, porque não ministrávamos esse tipo de aula antes. Apesar de toda a saudade e tristeza da distância, temos a satisfação de estarmos atingindo um grupo que não tínhamos anteriormente”.

O ano de 2020 marcaria o 20º Encontro de Crianças da AD Ministério do Belém, evento que no ano passado reuniu 16 mil crianças. Ela lamenta o fato de o evento não ter sido realizado este ano e não garantiu a realização de uma live para marcar esta edição. “O Encontro das Crianças é uma festa espiritual presencial; uma live não vai surtir o efeito que nós esperamos. A não realização do trabalho está machucando nosso coração”. Lamenta.

As crianças e os problemas sociais

Irma Marta Costa é deputada estadual e, como parlamentar, está preocupada com algumas questões a que foram submetidas as crianças, como, por exemplo, a exposição à internet. “Fico preocupada; nosso temor é de que as crianças estejam entregues à internet. Porque a internet é como uma faca; pode matar uma pessoa, mas também pode cortar um bom bife; depende da maneira como você vai utilizá-la”, disse. Por outro lado, ela se preocupa com quem não tem acesso à internet. “A escola em casa é uma coisa que nós vamos ter que encarar. Temos que dar estrutura para as crianças, levar internet para as periferias, através de lap tops e computadores; as crianças precisam! Há crianças que têm aulas no celular das mães, mas muitas delas só têm crédito até a metade do mês e aí com é que fica? São questões que estou batendo muito e faz parte de um projeto que estamos iniciando; são coisas que têm que ser feitas”.

Outro aspecto abordado pela deputada foi a volta das aulas. Ela recomenda que os pais mantenham os filhos em casa. “Sou muito a favor da vida. Um ano escolar é muito importante, mas não é mais importante que a vida de seu filho. A criança está longe dos amiguinhos e, quando ela voltar, vai querer abraçar, dividir o lanche, brincar, divertir-se. Nossas escolas não têm estrutura para um atendimento a contento neste momento. Quanto às escolas particulares, é a mesma coisa; criança é criança. Um ano escolar ela vai ganhar de novo, ela tem a vida toda pela frente. Eu não arriscaria”.

As crianças em situação de vulnerabilidade também é uma preocupação da irmã Marta Costa. “Preocupo-me com as crianças carentes, que não têm uma família estruturada, que dependem da alimentação da escola; nesse caso até sou a favor das escolas abrirem para atendê-las, não para terem aulas, mas para se alimentarem, receberem alguma instrução sobre a pandemia; acho que as crianças que precisam de atendimento, devem ser atendidas. Mas não sou a favor da volta às aulas”.

Ela contou que tem visitado cidades da região metropolitana de São Paulo. “Estou visitando cidades e bairros e vejo que as diferenças são gritantes. A necessidade de um bairro é diferente da de outro; nós moramos em uma cidade, mas parece que residimos em um país com vários estados. O que precisa é de um olhar do governo para o povo. Escutar o que o povo quer. Não posso chegar a um bairro e pedir para pavimentar todas suas ruas; mas, de repente, a população quer que coloquemos internet; temos que escutar a necessidade de nosso povo e aí começar um trabalho”.

A deputada estadual Marta Costa vai participar das eleições em 2020. Recebeu um convite do candidato à prefeitura de São Paulo, Andrea Matarazzo, e irá compor a chapa com vice-prefeita. Ela falou de suas expectativas. “Fiquei surpresa com o convite, e acho que já é tempo de os evangélicos terem alguém no executivo. Nossa cidade é de uma complexidade enorme; tudo aqui é gigantesco; isso me assusta e ao mesmo tempo me incentiva. Os mandos e desmandos, principalmente com as crianças e mulheres, a ignorância, a falta do olhar do governo para esse lado, incomoda-me muito. Eu acho que nós evangélicos, que gostamos de ajudar, que temos o amor no coração, o qual tem o DNA de Jesus Cristo, fará toda a diferença lá. Peço que nosso povo abrace esse novo desafio, porque fazemos toda a diferença quando estamos unidos”.