Entrevistas Mundo Evangélico

Entrevista: Pr. Caramuru Afonso fala sobre as restrições as igrejas

Pr. Caramuru Afonso Francisco

As Igrejas e as restrições governamentais durante a pandemia do novo coronavírus; a importância do templo físico; o culto doméstico são temas da entrevista.

No dia 03 de abril de 2021, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Kássio Nunes Marques, julgou o pedido da Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (ANAJURE), e deu permissão para que as igrejas abrissem suas portas com as devidas restrições recomendadas pelo Ministério da Saúde. Houve precipitação por parte dele, visto que no dia 05 do mesmo mês, o ministro Gilmar Mendes rejeitou a Ação do PSD (Partido Social Democrata) e levou o caso para o plenário do STF que, por fim, decidiu pela restrição?

R: Não houve qualquer precipitação. Cada ministro recebeu a ação que lhe foi distribuída e o ministro Nunes Marques apreciou o pedido liminar, como era possível, enquanto que o ministro Gilmar Mendes optou por ouvir previamente o Advogado Geral da União e o Procurador Geral da República, o que é também algo permitido pela legislação.

A constituição assegura o direito ao culto, mas também contempla que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Nesse contexto de pandemia, como os líderes cristãos devem se orientar?

R: Os líderes cristãos devem se pautar pelo que ensina a Bíblia Sagrada, a qual diz que devemos dar a César o que é de César e a Deus o que é Deus. Matéria de culto é questão atinente a Deus; nenhuma autoridade pode impedir o culto a Deus; inclusive a nossa Constituição diz que o exercício dos cultos religiosos é livre e que os locais de cultos devem ser protegidos na forma da lei. Assim, o Estado pode impor normas sanitárias, que deverão ser observadas nos locais de culto, mas jamais pode, pela Constituição, embaraçar o funcionamento de qualquer organização religiosa ou dizer se pode, ou não, haver culto.

A judicialização dessa questão pode acarretar quais problemas para a igreja cristã brasileira?

R: Vivemos “tempos estranhos”, como costuma dizer o decano do STF, o ministro Marco Aurélio. Há uma indevida politização da pandemia e esta tem encontrado no Supremo Tribunal Federal um “front” e, por isso, tudo tem sido judicializado. Politização por meio da judicialização tem levado a inúmeros problemas para o país. Agora isto chega também às igrejas e à liberdade religiosa. Entendemos que estamos no “princípio de dores” profetizado pelo Senhor Jesus. A pandemia intensificou a perseguição aos cristãos, como, aliás, demonstrou recentemente a Missão Portas Abertas, que indicou que houve aumento em 2020 de 30% na perseguição à Igreja. Assim, ter sido levado a questão ao STF não foi ruim, mas apenas se desmascarou o que está em curso não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Saindo um pouco da questão política e judicial, comente sobre a vida devocional do cristão brasileiro. Essa prática estava perdida? Hábitos como o culto doméstico, por exemplo, ainda é uma prática do cristão contemporâneo?

R: Antes da pandemia, costumávamos, em alguns estudos, por vezes, alertar os irmãos de que estávamos negligenciando perigosamente o culto doméstico e o lar como centro de adoração, criando uma base no templo para a educação de nossas crianças e adolescentes, o que contraria o que é ensinado nas Escrituras. Dizíamos que se viesse uma perseguição, que se as igrejas fossem fechadas, os crentes seriam “surpreendidos” e isto poderia comprometer grandemente as famílias. Isto infelizmente tem acontecido. Por não se ter solidez doutrinária em casa, por não se ter prezado pela educação bíblica no lar, agora muitas famílias de irmãos estão sem condições de substituir a falta do convívio nas igrejas locais e isto compromete grandemente nossas crianças, adolescentes e jovens, que já estavam sendo minados em sua fé nas escolas.

Qual a importância do templo físico?

R:  É grande a importância do templo físico, pois é um local onde a igreja local pode se reunir e a reunião da igreja é fundamental, pois a vida cristã se desenvolve na comunhão, no convívio, onde se manifestam os dons espirituais, assistenciais e ministeriais, necessários para a edificação, exortação e consolação da igreja, bem como para que cumpramos as tarefas que nos foram deixadas pelo Senhor Jesus.

Comente por gentileza o texto de Atos 7.48. Como ele pode ser aplicado para nosso contexto?

R: Muitos se utilizam desta passagem e também de João 4.21-23 para dizer que, em o Novo Testamento, na Nova Aliança, não se deve adorar a Deus em templos. É evidente que, ao contrário do que acontecia na Lei, não se tem um local específico de adoração, onde Deus estaria presente. No entanto, se a adoração não depende de um local para ser exercida, a vida cristã exige a comunhão, como já dissemos, até porque somos um corpo e cada um de nós um membro em particular (1 Co 12.27). Os apóstolos e discípulos tinham locais de reunião, Jesus apresentou-se aos discípulos no cenáculo, quando eles estavam reunidos e também foi em uma reunião que o Espírito Santo desceu sobre eles no dia de Pentecostes. A prática cristã envolve, sim, a reunião e esta reunião se dá em um local, precisamente para que todos possam crescer espiritualmente. A salvação é individual, mas o crescimento espiritual deve se dar de forma coletiva.

Como ministro e jurista, quais conselhos o senhor daria aos cristãos da nossa comunidade de fé?

R: Estamos a viver dias difíceis, dias imediatamente anteriores ao Arrebatamento da Igreja. Diante deste quadro, temos de estar conscientes de que a perseguição à Igreja vai crescer e, para isto, não faltarão ações e medidas de quem tem poder para tentar impedir a ação da Igreja, mesmo que para isto violem as mais elementares liberdades públicas e direitos fundamentais, que teremos sempre de invocar e lutar pela sua observância, mas sempre com prudência e firmeza. Sabendo disto, é hora de nos empenharmos ainda mais em servir a Deus, resistirmos aos desmandos, pregarmos o Evangelho mais e mais, ensinarmos a Palavra aos crentes, buscarmos o poder de Deus, porque a nossa redenção está próxima e não nos acovardarmos em servir ao Senhor, mesmo que saibamos que seremos levados presos, seremos açoitados e seremos apresentados às autoridades, mas conosco estará o Espírito Santo que nos dirá o que devemos falar e, assim, sermos testemunhas de Jesus, confessando o Seu nome e assim estando devidamente preparados para sermos arrebatados, o que não tardará a ocorrer. “Maranata”.