Entrevistas

Entrevista: Pr. Sergio Reinaldo Pertico

Pr. Sergio Pertico é dirigente da AD Belém, Setor 105, no bairro do Jabaquara, São Paulo/SP. Antes, pastoreou o Setor 51, Parada de Taipas, por quase oito anos. Foi missionário por mais de uma década no Paraguai, e trabalhou nas cidades de Assuncion, Lambare, Arroyo y Esteros e Hernandarias, onde estabeleceu novas igrejas. É casado com a irmã Kátia e tem três filhos: dois rapazes e uma moça.

Pastor, o senhor vem de uma família de tradição católica. Chegou a ser coroinha e quase entrou no Seminário para ser padre. Como ocorreu sua conversão ao Evangelho?

Quando frequentava a Igreja Católica, no bairro em que eu morava, Ponte Rasa, São Paulo/SP, meus amigos evangélicos não queriam pregar para mim, porque eu era um católico muito fiel, e eles tinham uma certa preocupação em me evangelizar; embora eu não conhecesse algo das escrituras, porque não era permitido para nós a leitura daquele livro da capa preta que ficava na Sacristia. Eles diziam que se nós lêssemos aquele livro, poderíamos ficar loucos; então nós obedecíamos. O que me levou ao Evangelho foi um sonho, que, na realidade, quando fui entender, era uma revelação; eu via o fim do mundo, e nunca gostei de filmes de terror, e para mim aquelas eram cenas aterrorizantes. Vi meteoros que caiam na Terra, o Sol avermelhado que se desfazia, gotas de fogo que caiam e a atmosfera completamente vermelha. Quando despertei, suado, lembrei que uma vez ouvi dizer que, quando chegasse o fim do mundo, o Céu se abriria; só lembrei disso. Dormi novamente e voltei a sonhar. Dessa vez, vi um guerreiro gigantesco, com rosto e corpo metálico, olhos vivos, que sobrevoava. Calculei que aquele homem tivesse muitos metros de altura. Ele olhava para toda a população da Terra. Então, procurei um amigo evangélico para que me explicasse tudo aquilo, e passei a ter sede das coisas de Deus. Fui a uma igreja uns 20 dias depois, onde fiquei em pé nos fundos do salão; chorei muito durante a pregação, mas, na hora do apelo, não conseguia levantar as mãos. Quando o pregador disse que faria o último convite, não levantei os braços, mas, como que se alguma coisa muito pesada saísse dos meus ombros, fui à frente sem perceber e naquele dia fiz um propósito de servir ao meu Senhor Jesus.

Mais tarde, o senhor foi obreiro no Setor da AD Belém em Caieiras, e dirigiu algumas de suas congregações. Do seu ponto-de-vista, está mais difícil pregar o Evangelho hoje? Ou foi mais fácil no passado?

O que entendo, é que cada período tem sua dificuldade. Existem modalidades diferentes de evangelizar. Na minha época, por exemplo, fui auxiliar do pastor Natanael por cinco anos. Quando ele me disse que eu trabalharia na área de evangelismo, aceitei o desafio. Eu, minha esposa e o irmão Francisco Sergio, subíamos com uma caixa de som ao morro, na Vila Esperança, que fica próximo ao centro de Caieiras, e pregávamos com o aparelho virado para a cidade. Hoje, está mais difícil; parece que os governos atualmente oprimem um pouco, e tiraram a liberdade de você pegar uma caixa de som, colocar em qualquer lugar e pregar; são tantas as leis proibitivas. Em dois meses no bairro de Vila Esperança, junto com minha esposa, abrimos quatro pontos de pregação, ganhamos 54 almas para Jesus e discipulamos, entre elas, o Pr. Wuanderson Spirlandelli, atual pastor setorial de Caieiras. E muitos outros que ganhamos, permanecem até hoje. Depois, fomos para uma congregação chamada Jardim dos Eucalíptos, que tinha apenas 25 adultos e 14 crianças e, após dois anos e três meses, entregamos com 265 adultos e 111 crianças; tornou-se uma grande congregação. Hoje, já é mais difícil, pois há muitos prédios e, para se evangelizar um condomínio, é dificultoso; é mais fácil pela internet e redes sociais, pois agora está mais difícil o contato físico.

Em que momento o senhor tomou consciência da obra missionária?

Em 1991, quando o pastor Brás era nosso dirigente em Caieiras, recebemos o Pr. Zé Gomes, que veio do Quito, Equador, e compartilhou alguns testemunhos em sua pregação, e, nesse culto, recordo-me que era uma terça-feira, fomos impactados com o poder daquela ministração. E a partir daí, comecei a ouvir alguém que gritava pelo meu nome: Sergio! Abria a porta e não havia ninguém. Quando não era meu nome, era o de minha esposa Kátia. Isso ocorreu por um longo tempo; era cotidianamente. Esse grito só desapareceu depois que cruzamos a fronteira do Brasil com o Paraguai.

Pastor, relate como foi sua ida ao Paraguai.

Em 1997, foi quando fomos para o Paraguai, houve aqui no Brasil o Congresso Mundial das Assembleias de Deus. Mas eu já conhecia o Paraguai desde 1990, quando visitei a cidade de São Lorenço. Em 1992, estive durante 15 dias com o Pr. Henrique, que já dorme no Senhor. Voltei novamente em 1995, ano em que tive uma revelação sobre uma cidade chamada Cuenca, na Cordilheira dos Andes. Deus me mostrou o local, deu-me a mensagem para pregar e preparou os recursos para minha viagem, e isso fortaleceu mais a minha convicção. Falei com o pastor Manoel Bezerra, secretário de missões na época, que conversou com o Pr. José Wellington, nosso presidente. Passei por um crivo junto com minha esposa, quando o Pr. Valdir Bícego foi o relator junto com alguns pastores; respondemos algumas perguntas e viram que estávamos preparados para a obra missionária e enviaram-nos no ano de 1997.

Qual a diferença entre os crentes brasileiros e os paraguaios e a liturgia nas igrejas do Brasil e do Paraguai?

A diferença principal está na área do compromisso; o brasileiro compromete-se muito com as coisas de Deus; talvez, hoje, não seja mais assim; pelo menos naquela época de 1997 era diferente. Para o paraguaio ter acesso ao Evangelho é mais difícil, mas quando se converte torna-se uma bênção, e quando se torna amigo, é capaz de dar a vida em prol de outra pessoa; lá, é muito forte essa relação de amizade. Agora, no Paraguai, a Igreja Católica tem uma tradição muito forte e para eles se desprenderem do catolicismo não é fácil. Lutar contra a idolatria não é uma coisa tão simples assim. O paraguaio não é um povo difícil de ganhar para Jesus. São pessoas boas; não é um povo do qual se possa falar: “Como são difíceis de se ganhar para Jesus!” Isso é conversa de quem não quer trabalhar. Se você chegar lá, arregaçar as mangas e for para o evangelismo, conversar com eles, pode ter certeza de que fará um grande trabalho para Jesus. Já a liturgia é diferente, pois são hispânicos; possuem outro sistema, utilizam o período de adoração chamado alabanza, onde todos adoram juntos de pé durante 15, 20 minutos, ou horas, e ninguém reclama; mas em nossas igrejas existe nosso hinário em espanhol, e, é claro, há grupos de crianças, jovens, círculo de oração, etc. Existem várias denominações, entre elas as neopentecostais, comunidades que têm outra liturgia.

Como incentivar a igreja para se engajar na obra missionária?

Cada um tem sua maneira; quando voltei do Paraguai, o pastor José Wellington disse que eu ficaria para fazer missões aqui. Lá no Setor 51, Parada de Taipas, implantamos um departamento de missões, e começamos a incentivar os irmãos ao evangelismo. Só folhetos evangelísticos, entregamos cerca de 200 mil naquela região; crianças, jovens e adolescentes iam para as ruas evangelizar; fazíamos culto ao ar livre em todas as congregações, e, vou ser sincero, o número de candidatos ao batismo foi pouco; imagine se não tivéssemos trabalhado tanto ali; aquela região de Taipas é muito difícil. Com relação à obra missionaria, chegamos a ajudar 11 missionários fora do país, e nunca utilizamos um centavo do relatório. Atendemos muitos missionários e nunca tivemos falta de algo para a igreja; graças a Deus, a igreja cresceu nesse período. Em Jabaquara não tem sido diferente: adotamos um grupo de obreiros que visitam os pastores idosos e eu, particularmente, com o meu co-pastor, ajudamos três missionários do nosso bolso; não impomos isso como uma carga para a igreja. Nada nos falta, graças a Deus.

Pastor, voltando para o cenário de missão urbana, o senhor pastoreou o Setor de Taipas por quase oito anos e há cinco meses foi transferido para o de Jabaquara. É possível pontuar as dificuldades para a evangelização entre o primeiro e o segundo lugar?

A minha chegada é recente; já formamos equipes para isso. É um trabalho que está em fase de estruturação e começamos a conhecer as pessoas. Temos descoberto muitos irmãos que têm demonstrado muita afinidade com as coisas de Deus e são muito úteis cada um deles em seus devidos lugares. Temos sentido já um crescimento no Setor 105. Digo que cada pastor que dirige um setor é como um professor de uma certa matéria que nem todo aluno gosta de estudá-la; aí, vem outro professor que dá outra matéria e o aluno adora. Apresento uma matéria diferente, e procuro conhecer e usar os valores que tenho dentro da igreja e vamos fazer a obra do Senhor.

Quais são as expectativas da implementação do Projeto IDE no Setor de Jabaquara? Como o senhor prevê o crescimento da AD Belém naquele bairro em 2022?

Acredito que daqui para frente é só prosperar. Se abraçarmos o Projeto IDE com vocês e o pessoal que temos lá, a probabilidade é de um grande crescimento. Não acredito que a igreja regrida, pois acho que ela só cresce; ainda que se discuta que a igreja ganha muito e perde demais. Creio que este processo é como o nascimento de várias crianças; todo ano morre muitas pessoas, mas nascem mais do que morre. Então, a igreja é dessa forma; minha expectativa em relação a ela é de crescimento. Ainda que um ou outro membro mude, vá para outra igreja ou, lamentavelmente, desvie-se, creio que o crescimento dela é contínuo; sempre terá mais do que menos. Vamos trabalhar e implementar o que for necessário para esse crescimento. Agora, é claro, sempre procuro ajudar as pessoas também na área social. Vejo que a igreja precisa ter essa preocupação. Em toda Ceia, arrecadamos o máximo de alimento que podemos para ajudar as famílias menos favorecidas. Os números estão nas mãos de Deus. Paulo plantou, Apolo regou, mas quem deu o crescimento é Deus.