Geisel de Paula

O Brasil preferiu Barrabás

O que esperar do Brasil após as eleições?

O Brasil preferiu Barrabás

Texto base:

“Então, todos voltaram a gritar, dizendo: Este não, mas Barrabás! E Barrabás era um salteador” (João 18:40).

O que foi

            Escrevo as linhas desse artigo sozinho de minha mesa, no escritório de trabalho, na manhã do dia 28 de outubro de 2022, uma sexta-feira ensolarada, a apenas dois dias do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. Se você está lendo este artigo, já é fato que a esquerda ganhou as eleições[1] e esse texto não foi para a lixeira do meu computador. O país terá pelos próximos quatro anos, um presidente que é ex-presidiário[2], réu confesso em alguns crimes, pelo menos no que diz respeito a aceitar que houve sim corrupção e desmandos em seu governo, de nomes muito próximos a ele (toda cúpula do PT caiu) e de processos que envolvem também a sua pessoa, como os casos do sítio em Atibaia e do apartamento triplex (isso mesmo, três andares) no Guarujá. A anulação do caso se deu por falha no processo em que o juiz Sérgio Moro, foi considerado parcial em seus julgamentos, e não por presumida inocência. Por isso, ele foi julgado e condenado em primeira e em segunda instância (nesta, em um colegiado), mas saiu livre depois de 580 dias (quase 20 meses, ou, uma ano e oito meses) preso, e seus direitos constitucionais foram todos restituídos, inclusive o de se candidatar à presidência da República, o que aconteceu, e o resto é história.

O que é

            Bom, para deixar bem claro uma coisa: a escolha nesta eleição não diz respeito a Barrabás (Lula) ou a Jesus (Bolsonaro). Não estou fazendo inferência de que Jair Messias Bolsonaro representa Jesus. Longe de mim tal coisa. Sem querer entrar no mérito pessoal, ele não comunga da mesma fé que eu, na maior parte dos aspectos bíblicos-cristãos-evangélicos, e não o vejo e nunca o vi como uma espécie de messias moderno solucionador dos problemas da igreja. Só existe um Messias verdadeiro, e ele já veio e já morreu pela igreja e ela o serve e o adora e aguarda o seu retorno triunfante nos céus de glória. Qualquer outro que se intitule Cristo (que é Messias), seja anátema (maldito) (Gl.1:8,9). A igreja não precisa de salvadores humanos, ela já tem um, Jesus Cristo homem.A questão aqui não é essa.

            Alguém (não me lembro quem) já disse certa feita que “não se coloca um paralelepípedo em uma rua sem que não se pague daí uma propina[3]”. A corrupção pertence ao gênero humano estando presente em todos os lugares e o Brasil não é diferente de outras nações[4]. Fato é que se a corrupção sempre foi notória em terras tupiniquins desde o seu descobrimento, como podemos ver na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel, enviada em 1º de Maio de 1500, dizendo que mandasse “vir buscar da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro[5]”, mas no período lulopetista, ela foi institucionalizada, nas palavras do jornalista Augusto Nunes: “O que torna tão especial esse nefasto período de nossa história é que, pela primeira vez, a corrupção tornou-se um método de governo[6]”. Segundo alguns analistas, o rombo nos cofres públicos nos quase dezesseis anos de governo do PT podem chegar a impressionante cifra de quase um trilhão de reais![7]

            Parece que o ditado que diz que “o brasileiro tem memória curta” é verdadeiro, pois mesmo conscientes de todos esses desmandos e “malfeitos”, termo cunhado por Dilma Rousseff, parece que grande parte do eleitorado “se esqueceu” ou apenas resolveu fazer ‘vista grossa” para todo malfeito contra o nosso suado dinheirinho. Induze-nos a pensar que o escândalo das nove malas e sete caixas de papelão lotadas de notas de 100 e 50 reais encontradas no “bunker” de Geddel Vieira Lima, que encheram dois porta-malas de camionetes usadas no cumprimento do mandado judicial[8] já caíram no esquecimento. Parece que grande parte da população escolheu dar de ombros e apostar novamente no salteador (sig. assaltante), dando ouvidos a imprensa “livre” preferindo este, mesmo corrupto, em vez daquele falastrão (na mesma batida histórica do lema do velho político brasileiro Paulo Maluf, e antes dele, Adhemar de Barros – “rouba, mas faz[9]”). O presidente eleito Lula enquadra-se bem neste quesito.

            A decisão que o povo de Jerusalém tomou, incitada pelos principais dos sacerdotes e pelos anciãos, foi a de soltar Barrabás, que havia cometido uma sedição (revolta contra qualquer autoridade constituída) e um homicídio, e a mandar crucificar Jesus, o Messias tão esperado. Libertaram a morte e sentenciaram a vida a pena de morte mais cruel que já existiu: a crucificação. Claro que tudo isso fazia parte do plano de Deus para a nossa salvação, pois sem a morte de Jesus Cristo na cruz do calvário nós estaríamos irremediavelmente perdidos. Mas mesmo que isso estivesse na presciência divina, não isenta os judeus de serem culpados de mandar crucificar o seu Messias. O fato de Jesus não ter preenchido as qualificações necessárias (aos olhos deles) é irrelevante. Jesus cumpriu cabalmente todas as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Só não viu quem não quis ver. Mas para tudo nessa vida há um preço.

            O juízo divino logo veio para Israel. A perseguição endureceu, o Império Romano pesou a sua mão mais e mais, até que no ano 70 d.C., Jerusalém foi finalmente vencida, tomada pelo exército do general Tito, o Templo, que era motivo de orgulho, foi destruído, não ficando pedra sobre pedra como havia profetizado Jesus, e o povo da Judéia e do restante de Israel foi disperso para todas as partes do mundo e a nação que era para ser luz entre todas as nações, virou uma não-nação, até o ano de 1948, 1900 anos depois. Um preço muito caro a se pagar, creio que podemos concordar com isso.

O que será

            A história se repete. O Brasil preferiu escolher um sentenciado em duas instâncias por corrupção, para que ele novamente, tenha a chave do cofre, a senha do banco, a chave PIX do Brasil. Acredito que muito brevemente, sofreremos como nação, o resultado da escolha que a maioria (50% + 1) decidiu. O país caminhará para o esquerdismo, assim como seus “primos” latino-americanos, apostando no populismo, no assistencialismo que dá o peixe sem ensinar a pescar, e no embate ferrenho de quem pensa diferente deles. As pautas que a esquerda defende e que lhe são valiosas estarão em voga, à saber: a descriminalização das drogas (em qualquer parte do mundo onde isso foi feito o sistema de saúde colapsou); o direito da mulher sobre o seu próprio corpo (a liberação do aborto sob quaisquer circunstâncias), a criminalização da homofobia (e a definição do termo será cada vez mais, esdrúxula), o empoderamento feminino (e com isso a dissociação da família tradicional, como prega o pensamento feminista), e o materialismo como cosmovisão do ser (o ateísmo e um controle maior sobre qualquer religião se fará necessário), para citar apenas alguns.

            Em minha reflexão, essas eleições colocariam quatro cenários diante de nós, a saber: (1) Bolsonaro ganha, e faz um mau governo: com isso os evangélicos e as igrejas que o apoiaram seriam tão culpados quanto; (2) Bolsonaro ganha, e faz um bom governo: as instituições religiosas teriam um voto de credibilidade da população em geral; (3) Lula ganha e faz um bom governo: fica provado que um malfeitor pode se redimir. (4) Lula ganha e faz um mau governo: só o tempo dirá do que poderá acontecer. Uma coisa é certa: a igreja precisa ser igreja; continuar pregando o Evangelho do Reino, sendo luz e sal desse mundo mau. Que Deus tenha misericórdia da nação brasileira e ajude a igreja a ser igreja, nestes últimos dias.

Conclusão

            O tempo dirá se tenho razão, e se o juízo realmente veio. Só resta dizer que me sinto contristado em saber que em um país com cerca de 30% da população que se diz evangélica (cerca de 70 milhões de pessoas), sem contar os cristãos católicos, que esse montante não tenha conseguido modificar, transformar (não pelo voto, mas pelas ações e pela vida que cada um tem em Deus) a sociedade que está inserida. Isso revela que o número de evangélicos é enorme, mas não causa impacto na sociedade, é massivo, mas é massa de manobra como os demais, é barulhento, mas incapaz de causar transformação. Não estou falando sobre engajamento político. Estou falando sobre fazer a diferença em Deus. O profeta Elias desafiou sozinho 450 profetas de Baal e 400 de Aserá (850 ao todo) (1Rs.18:19), e no poder de Deus venceu a todos eles, e matou a todos eles, e assim foi (1Rs.18:40).

            Precisamos mais do que nunca nos dias de hoje de homens como Elias (Tg.5:17). Comedores de farinha, mas cheios de Deus. Gente que faça a diferença no mundo espiritual, pois agindo lá, o mundo material é grandemente impactado cá. Gente que não coxeia em dois pensamentos, que sabe o que quer e que não abre mão do que é o certo. Gente que sem duvidar, escolhe a vida em vez da morte, o bom caráter em vez da má índole, a paz em vez da guerra, o caminho menos trilhado ao invés do trilhado por quase todos, a dependência de Deus ao invés de ser guiado pelo próprio nariz. Jesus representa tudo que é bom. Barrabás representa tudo o que é mau, sujo e indecente. Esse último foi o caminho que o Brasil escolheu e tudo o que ele representa irá ser a nossa sentença de agora em diante. A única alternativa será a igreja clamar para que Deus tenha misericórdia da nação brasileira. “Se o meu povo…” (2Cr.7:14) disse Deus. Veja que há uma condição. Apenas desconfio que Deus esteja permitindo o juízo para chacoalhar a igreja e a tirar de seu marasmo. Um último conselho: segure firme para não cair!


[1] https://resultados.tse.jus.br/oficial/app/index.html#/eleicao/resultados (eleito com 50,90% dos votos válidos, cerca de um pouco mais de dois milhões de votos sobre o seu opositor.

[2] https://atarde.com.br/politica/eleicoes/eleicoes-presidencias/lula-diz-nao-se-importar-de-ser-chamado-de-ex-presidiario-1205193

[3] Reportagem de TV que não consegui verificar a fonte.

[4] O país ocupa a 96ª posição em transparência segundo o ranking transparenciainternacional.org.br/ipc/

[5] https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=117060

[6] https://veja.abril.com.br/coluna/augusto-nunes/editorial-do-estadao-corrupcao-institucionalizada/

[7] https://www.gazetadopovo.com.br/instituto-politeia/5-fatos-pt-mediocres/

[8] https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/05/politica/1504623466_872533.html

[9] https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/maluf-e-a-persistencia-do-rouba-mas-faz-e110awuwbu3u62ycatazhcwd5/

Geisel de Paula

Geisel de Paula é repórter do site e jornal Ceifeiros em Chamas, bacharel em teologia pela Faesp.

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